A lenda de Rincón Brujo
A lenda de San Pedro Tultepec, passada de geração em geração pelos avós, conta que a população em seus primórdios se dividia em duas: os nortistas, conhecidos como Zacatencos, e os do sul, são conhecidos como “los del rincón brujo”.
Segundo os avós, aqueles que estavam “en el rincón del brujo” eram pessoas que tinham o poder de se curar. Na mitologia mexicana, esse poder é amplamente atribuído a muitas figuras, xamãs, curandeiros e bruxas, que utilizam a medicina tradicional e podem se curar.
A magia começa com esta formação milenar, dando o nome a Rincón Brujo, uma organização, antes um grupo de pessoas, que há mais de 40 anos leva o rock urbano às ruas de San Pedro Tultpec, no âmbito das festividades patronais dia 6 de agosto.
San Pedro Tultepec também é conhecida por ser o lar de músicos, principalmente tocadores de instrumentos de sopro. Por isso, seus moradores são conhecedores de arte desde cedo.
É no contexto da festa da padroeira, onde o sonidero, as danças tradicionais, o grupero e os tradicionais intrumenteros, que os roqueiros procuraram um fórum onde a sua paixão pudesse ganhar espaço.
Breve, brevíssima história do rock urbano.
O rock urbano no México tem uma história muito rica e extraordinária, e é dessa história que Rincón Brujo participa.
Na década de 80, um novo subgênero do rock começou a fazer barulho na Cidade do México, sobre a vida nas ruas. Surgiu nas zonas mais marginalizadas, sendo um reflexo do quotidiano com um toque cru e direto. Este estilo, conhecido como rock urbano ou rock de protesto, teve Rockdrigo González como um dos seus principais promotores com a sua icónica canção “Metro Balderas”.
Antes do Rockdrigo, a banda Three Souls in My Mind já dava dicas desse novo som. Fizeram parte do lendário festival Avándaro e conseguiram evitar a censura governamental graças aos Hoyos Fonquis, aqueles lugares underground onde o rock ainda estava vivo e soava alto.
O rock urbano é baseado em uma mistura de blues, rock & roll e R&B, mas o que realmente o diferencia são suas letras cruas. Eles falam sobre temas como crime, desigualdade social, dependência de drogas, alcoolismo e abandono, oferecendo um forte contraste com o que mais tarde seria conhecido como “rock na sua língua”.
Embora sempre tenha tido uma imagem underground, o rock urbano teve seu momento de glória. Discos y Cintas Denver desempenhou um papel importante, dando aos artistas uma plataforma para lançar seus álbuns sem perder sua essência. Há também o Tianguis Cultural El Chopo, um lugar emblemático onde os artistas podem tocar e ser ouvidos.
Na década de 2010, a TV Azteca, com seu programa “Animal Nocturno”, também deu um bom impulso ao movimento, apresentando diversos artistas do gênero. E claro, não podemos esquecer de Rockotitlán, o icônico espaço do rock mexicano.
Com o tempo, mais bandas aderiram a esse subgênero, enriquecendo o cenário musical da capital. Exemplos notáveis incluem Lira N’ Roll, Tex Tex, Charlie Montana (que faleceu recentemente), Banda Bostik, Trolebús, Interpuesto, El Haragán y Compañía, Botellita de Jerez e El Tri.
O coletivo Rincón brujo: sua contribuição ao rock urbano e seu 40º aniversário.
Rincón Brujo começa como um encontro, convidando bandas noturnas, bandas que não têm espaços para divulgar sua música, ou que não têm apoio ou nome conhecido. Naquela época, os gêneros mais underground eram o punk, a trova e o rock urbano.
Three Souls in My Mind foi uma das bandas mais icônicas que Rincón Brujo conseguiu trazer para o dia do padroeiro. A partir daí tudo correu bem, aproximando o rock urbano das pessoas, com expoentes do calibre Luzbel como os recentemente falecidos Arturo Huizar, Tex Tex, Sam Sam, Funeral, Criatura, Grafitti XXX, Arturo Meza, Anabantha, Hazel, banda Bostik , e muitos mais.
O processo para que as bandas estejam neste palco tão conhecido dentro do rock urbano é seguir uma convocação que sai em outubro, sendo que a única exigência é que compareçam para mostrar sua música. As bandas são selecionadas por unanimidade coletiva.
Ao longo do ano, por meio de mordomia, eles arrecadam dinheiro do coletivo por meio de cotas para poder contratar as bandas.”
Existem anedotas muito interessantes e cativantes. Um deles envolve Charly Montana, que já foi pago com moedas de 1 peso. Charly pegou sua jaqueta, tirou todas as moedas e disse: “Eu confiei em você, vamos brincar!”
As velhas guardas foram deixando as botas aos poucos, depois de 40 anos, passaram o bastão para a jovem guarda, lembramos alguns nomes referentes à velha guarda como caspa, la tigress, el German . Atualmente alguns são avós, ou reformados, e continuam a participar em eventos, marcando presença e marcando presença.
Há algum tempo, Alberto Zuñiga gravou “En la Periferia”, um documentário-filme que fala justamente sobre a cena musical independente e alternativa que se sustenta e resiste. Neste documentário podemos dar uma pequena visão do contexto sociocultural do rock urbano, e como este resistiu ao longo do tempo como um mundo alternativo, como o símbolo da resistência, herdeiro de Avandaro.
Neste documentário, Rincón Brujo participa desse movimento. Como diz Arturo Huizar, ex-vocalista do Luzbel: Onde está essa vontade de mudança? Na periferia da rocha.
Sem dúvida, uma carreira de 40 anos não pode ser resumida em tão poucas palavras. Porém, seu quinhão de realidade pode ser dado à sua contribuição ao gênero, sendo promotores do rock urbano e zeladores do legado de gerações que viram em Rincón Brujo a forma de trazer o rock ao Estado do México.
Neste dia 10 de agosto, Rincón Brujo convida você para seu evento de 40 anos. Lembrando que eles vivem do rock e não dele.