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Resenha: Blind Pigs em Criciúma/SC

No dia 20 de abril, numa tarde de sábado, parti de Floripa rumo a Criciúma, para acompanhar a passagem do Blind Pigs pelo Estado, em sua tour de lançamento do novo disco Capitânia e comemoração dos 20 anos de estrada. A apresentação fez parte do Stan Music Festival, organizado por uma produtora local, reunindo bandas de gêneros os mais diversos possíveis, como Strike e Projota, além de sessions de skate na parte externa do local.

Antes das portas se abrirem, já à noite, bandas, músicos e o público – ainda tímido no geral – confraternizavam na área aberta. Na cena independente, sempre soou meio “careta” falar da existência e da relação entre ídolos e fãs, como uma forma piegas de tietagem e etc, mais comuns no mainstream. Mas o clima pré-show lá fora estava dos melhores possíveis e, de certa forma, foi muito foda assistir a interação da banda com o público, os velhos e cegos porcos bebendo e trocando idéia com as novas gerações e com o pessoal das antigas também.

O show foi surpreendentemente enérgico do início ao fim. A banda sentiu a vibe do pequeno público que se amontoou na frente do palco e retribuiu na mesma moeda. O set incluiu músicas de grande parte da discografia, principalmente dos clássicos São Paulo Chaos, The punks are allright!, Blind Pigs, além, é claro, dos discos mais recentes, como Porcos Cegos, Heróis ou rebeldes e Capitânia. Faixas como Amanhã não vai mudar, O Idiota, Avenida São João, Sete de Setembro, Mal Estar Social, Legião de Inconformados, Verão de 68 e Fuzis e Refrões incendiaram o recinto, escandalizando os espectadores das outras bandas e também os seguranças da “linha de frente”.

A molecada endiabrada pogueou, cantou, mosheou e segurou fielmente os divings do Henrike, que aconteceram praticamente o set todo. Aliás, a presença de palco dos caras continua como nos velhos tempos: não existem momentos de altos e baixos no show, os músicos se “quebram” e não param por um segundo sequer. Nos backing vocals praticamente a banda toda canta, com ou sem microfone e o palco fica pequeno porque todo mundo sobe pra contribuir. O Henrike, sempre com punhos cerrados, desliza sobre o palco e fora dele como um animal enjaulado e canta com força e raiva, dialogando com a platéia nos intervalos de um som para o outro; lá atrás, quase visualmente imperceptível, o Arnaldo sempre com a pegada do punk rock/hardcore, usando com maestria os pratos de ataque e deixando suas baquetas em pedaços. Entre suor e (muita) cerveja, alinham-se as duas guitarras e o baixo: a integração das cordas vem de longa data.

Afirmando a tendência dos últimos tempos, de preferência às letras em português, a banda tocou apenas uma música em inglês – Fuck the T.F.P. Do recém lançado Capitânia integraram o set União – cantada em uníssono, como um verdadeiro hino, assim como Sentinela dos Mares, Antro de trastes, Cinco cadeados e Punhos cerrados, mostrando profunda aceitação pelo público. As faixas do Heróis ou Rebeldes também causaram frisson, e em Plano de Governo, já na última parte do show, o Henrike pediu ajuda do baixista Galindo, porque já estava praticamente sem voz. Com certeza a apresentação fez valer os vários quilômetros rodados são só por mim, mas por grande parte das pessoas que, fielmente, ali estavam, vindos de outros Estados e outras regiões de Santa Catarina. A passagem pelo sul do país foi marcante. O tempo passou e a “nação que não se cala” continua se reconhecendo no Blind Pigs. Os moicanos estão baixos, mas o som reverbera como nunca e a legião de inconformados ainda pulsa como antes.

Por: André E. Ogawa

 

 

 

 

 

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