Uma experiência mística de post-metal na Sala Custom
Nem todos os dias os fieis do post-metal podem assistir a um show do El Altar del Holocausto. Felizmente, esse foi o caso no último sábado, 26 de abril, na Sala Custom, em Sevilha. Exatamente uma semana após a Páscoa, uma data perfeita para uma apresentação dessa banda, que deixou em êxtase todos os presentes.
No caminho para a sala, pensei em quantas pessoas encontrariamos no show, já que em Sevilha e na Andaluzia havia muitos eventos naquele dia – alguns de grande repercussão. Como a final da Copa do Rei de futebol na mesma cidade, ou o Grande Prêmio de MotoGP em Jerez. Além disso, outros eventos dividiam o pequeno nicho de ouvintes de metal ao vivo, como o show do VIO-LENCE, também em Sevilha.
O El Altar del Holocausto encanta os amantes de música atmosférica e pesada desde 2012. Com uma performance impressionante e cuidadosamente elaborada, esse grupo cult de caráter DIY tem como influência estética e temática o cristianismo: seus quatro membros anônimos, vindos de diferentes países e com diversos backgrounds musicais, comparecem aos shows vestidos como penitentes. Sua música instrumental tem influências que vão do post-rock ao doom metal, sempre com uma atmosfera progressiva que mergulha os ouvintes em diferentes estados emocionais. Até hoje, lançaram três álbuns de estúdio, representando a Santíssima Trindade: He, She e It, além de vários EPs e singles como Amen, seu último trabalho, lançado em 2024.

Ao entrar após a abertura dos portões e ver a quantidade de pessoas lotando o local, a ideia de um show com um toque intimista foi ganhando força em minha mente. Com pontualidade precisa, a atmosfera progressiva começou a tomar conta de tudo, e os quatro membros subiram ao palco para dar o seu melhor. Como de costume, a sensação era de fechar os olhos e se deixar levar pelas melodias, interrompidas por passagens pesadas. Eu estava em um estado de transe musical, e ao olhar para o público, percebi que os presentes também estavam imersos na experiência, movidos pela música e completamente absorvidos pela jornada atmosférica proporcionada pela banda.
A homilia do El Altar del Holocausto, como sempre, foi uma experiência musical que vai além do sensorial, algo capaz de evocar sensações de um plano quase transcendental. Eles revisitaram grande parte de seu repertório, começando com material mais recente, como Act 1 – Crvcis, Act 2 – Resvrrectionem, El Silencio de un Gesto e Amén. As longas faixas foram interpretadas com maestria, quase sem pausas entre elas, tornando o show uma experiência fluida e completa.

O único obstáculo para a banda foi, claro, a grande quantidade de eventos concorrentes, o que fez com que a Sala Custom ficasse um pouco vazia. No entanto, tecnicamente, tudo foi perfeito: o som estava impecável, com graves limpos e profundamente pesados, sem ruídos ou problemas. A iluminação, com tons vermelhos e azuis e efeitos estroboscópicos nos momentos mais intensos, contribuiu para a atmosfera única do show.
Durante o concerto, não houve uma única palavra – nem do público, nem da banda. O quarteto se comunicava apenas com gestos, ocasionalmente gritando “¡Sevilha!” ou “Gracias” no final de algumas músicas. Porém, após o final apoteótico da faixa El que es bueno es libre aún cuando sea esclavo; el que es malo, es esclavo aunque sea Rey, uma locução monótona ecoou pelos alto-falantes, agradecendo a presença e o apoio à música local. Em seguida, a sala mergulhou em um minuto de silêncio, dedicado à reflexão e à oração, antes da banda retomar com um potpourri de seu primeiro álbum, He, encerrando a noite em grande estilo.

Ao final, sem dizer uma palavra, a banda deixou o palco sob os aplausos do público, não sem antes distribuir palhetas e baquetas aos fieis. Foi uma experiência mística que certamente repetirei sempre que possível.
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