No dia de hoje, apresentamos desde a Argentina a banda ORA PRO NOBIS. Desde o ano de 2017, Diego Rodríguez -voz- (Aether, Ex Perpetua, ex Lobotomy, principais bandas da cena death doom na Argentina) junto a Fernando Grande – guitarra- (baixista e membro fundador de Ejecución, pioneira banda de doom metal na Argentina) vão idealizando formar um grupo, com uma composição mais inspirada no metal mais obscuro e climático, não muito comum na Argentina. Para terminar de agrupar a banda, somam Leonardo Hellgross (Dragonauta, ex Ethereal) na bateria, Oscar Yegros (ex Ethereal) no baixo e Gaston Tieri (Feel the Knife, Bonehammer, Transmigration Macabre) na guitarra.

Seu primeiro disco intitulado “The Landscape Has Changed” já se encontra nas diferentes plataformas digitais (SPOTIFY, YOUTUBE), um grande trabalho que nos mergulha em um clima ideal para ouvir com as luzes apagadas, altamente recomendado. Fernando Grande (guitarrista) nos concedeu esta entrevista.

Como se conheceram e formaram a banda?

No ano de 2016 se cumpriram 18 anos do lançamento do disco “Observation”, da minha antiga banda Ejecución. Esta banda foi pioneira no estilo Doom na Argentina, e dado que naqueles anos (1998) havia pouco acesso à internet e as redes sociais não existiam, me pareceu uma boa ideia criar um canal oficial no YouTube e uma página no Facebook. Em resumo, houve um alvoroço bastante grande e até algumas pessoas pediram a reedição do disco e uma turnê de aniversário, esta última tarefa quase impossível com alguns dos músicos morando no exterior. Mas, pessoalmente, gerou muito entusiasmo, e contando com a companhia de Diego Grúa (baterista que gravou o disco), saímos em busca de alguém com quem criar um projeto relacionado. Assim, encontramos Diego Rodríguez, que costumava assistir aos shows da Ejecución nos anos 90 e era muito fã do estilo, além de músico de renomadas bandas como Perpetua, Luz de Invierno, Aether, Tumba, entre outras. Pouco tempo depois, Grúa se retira do projeto e se juntam Leonardo e mais tarde seu irmão Oscar, formando assim a primeira formação de Ora Pro Nobis: Diego Rodríguez nos vocais e guitarra, Leonardo Helgross (Dragonauta, Ethereal) na bateria, Oscar Yegros (ex Ethereal) no baixo elétrico e eu mesmo nas guitarras. Com esta formação, gravamos nosso disco de estreia no ano de 2020, “The Landscape Has Changed”, que foi lançado nas plataformas digitais na sexta-feira, 13 de novembro de 2020, e editado em março de 2021 em formato CD pelo selo Conjuro Records, bem como em Box Set de cassete edição limitada pelo selo Ruidoteka Recs no ano de 2022. Em 2023, houve um rearranjo e Diego passou a se ocupar exclusivamente dos vocais, e Gastón Tieri entrou no papel de guitarrista, a tempo de gravar as músicas que compõem o Split “In Deep of Doom” junto à banda Pueblo Fantasma, recentemente lançado pelo selo Alteración Mental Recs. No momento em que escrevo estas linhas, Gastón já está fora da banda, dedicado aos seus outros projetos.

Qual é a história por trás do nome da banda?

Ora Pro Nobis significa “Roga por nós” em latim. Este idioma sempre me pareceu muito atraente, com seu caráter de língua quase extinta atualmente, após ter sido o idioma das classes dominantes por séculos e, além disso, origem de um grande número de línguas europeias. Por outro lado, o caráter do “roga por nós” me parece muito ambíguo: por um lado, seu conteúdo de pedido de ajuda, de invocar algo ou alguém superior para realizar algo para o qual não nos sentimos capacitados: tem algo de angústia, algo de desolador. Por outro lado, a quem deveríamos invocar para rogar por nós, e diante de quem? Devemos dar esse poder de intercessor a alguém ou devemos assumir as tarefas em nossas próprias mãos? Me parece que por trás dessa necessidade de buscar intermediários se ergueu um sistema perverso de opressão e manejo da informação e ocultação da verdade, claro exemplo temos na igreja medieval. O “ora pro nobis” nesse sentido funcionaria como uma ironia, uma revelação contra esse aparelho opressor, um “eu não quero que ninguém rogue por mim”.

Quais são suas principais influências musicais?

Estamos claramente influenciados por bandas clássicas como Black Sabbath, Iron Maiden, Hellhammer e Celtic Frost; assim como por bandas icônicas dos anos 90 como Cathedral, Obituary, My Dying Bride e Paradise Lost. Claro que não posso deixar de mencionar Beatles e Pink Floyd como bandas muito influentes também. E, no meu caso pessoal, sou um grande fã de música clássica e do tango de Astor Piazzolla.

Como descreveriam seu estilo musical?

Gostamos de nos definir como uma banda de Doom Metal e Heavy Metal à moda antiga, com certos elementos tomados de algumas influências mais progressivas. Buscamos variedade em nossos climas musicais, mas sempre rondando o opressivo, o melancólico, o mais escuro das paixões humanas.

Na hora de compor, o que levam em consideração no processo criativo?

Em primeiro lugar, que à medida que as ideias tanto musicais quanto líricas se desenvolvem, nos satisfaçam a nós mesmos. Só assim acreditamos que podem ter impacto em nossos ouvintes. No estritamente musical, e respeitando as influências antes citadas, buscamos a riqueza rítmica e harmônica nos arranjos, reconhecendo-as como um elemento distintivo de nossa música. A ideia final é gerar um todo coerente, e assim prender os ouvintes em um clima opressivo e cerimonioso, um verdadeiro estímulo aos sentidos, uma experiência que transcenda o musical, uma viagem emocional.

Qual tem sido o maior desafio que enfrentaram como banda?

Não há desafios no aspecto musical, realmente nos damos muito bem e estamos focados nessa linha bem clara. A prolongada quarentena vivida na Argentina foi um desafio em todos os aspectos, e felizmente conseguimos superá-la, inclusive lançando nosso primeiro LP nessas duras condições. Por razões lógicas, não pudemos apresentá-lo ao vivo formalmente, mas suas músicas fazem parte do nosso repertório habitual.

Quais projetos futuros têm planejados?

Neste momento, celebrar a edição física do Split “In Deep of Doom” junto à banda platense Pueblo Fantasma. E continuar com o processo de composição do nosso segundo LP. Claro, continuar nos apresentando para nossos seguidores.

Como você se envolveu com a música?

Tive a sorte de nascer em um lar muito musical e, apesar de não haver músicos na minha família, estar rodeado de música o dia todo graças ao rádio e aos vinis que meus pais ouviam. De todos eles, pessoalmente me chamavam a atenção os dos Beatles. Assim comecei a me interessar pela música e, aos poucos, fui montando minha própria coleção, onde se somavam principalmente cassetes de Kiss e Queen acompanhados por rock nacional dos anos 80, como Charly Garcia, Virus etc. Mas quando, na minha adolescência mais precoce, Iron Maiden e Black Sabbath entraram na minha vida, aí tudo mudou. Soube que esse era o som que ia me definir e afloraram pela primeira vez meus anseios de me dedicar a ser músico. A mesma formação foi me incorporando outras influências: o postpunk, o dark wave, a música clássica (fundamentalmente Bach, Beethoven, Debussy) e o tango de Astor Piazzolla. Todas elas são grandes influências na hora de compor minha música.

Qual foi o último disco que você ouviu?

Gosto muito de vinis. Ultimamente estive ouvindo muito o “Animals” de Pink Floyd. E em formato digital, me engajei muito com o “Astral Fortress” de Darkthrone, banda que me parece imprescindível.

Um disco para recomendar?

Impossível escolher só um! Mas dentro do nosso estilo, é indispensável consumir avidamente o “Forest of Equilibrium” de Cathedral. E claro, o “The Landscape Has Changed” de uma banda chamada Ora Pro Nobis! hahaha

https://www.instagram.com/orapronobis.doommetal

PD: agradecimento especial a JOHANNA DORADO, sem sua ajuda esta entrevista não teria sido possível.

 

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