Poucos artistas conseguem equilibrar a urgência do punk com a densidade de quem já viveu mais do que gostaria. Jay Jaydson, nome cada vez mais falado na cena independente de Porto Alegre, acaba de lançar seu primeiro álbum solo, Live Fast, Die Old — um disco que é mais confissão do que produto, mais cicatriz do que enfeite.
Entre faixas em inglês e português, guitarras sujas e letras que escancaram o íntimo, Jay constrói um universo próprio: um lugar onde o caos, o afeto, a psicodelia e o rock dividem o mesmo cigarro. É barulho com propósito. É vulnerabilidade com espinhos.
Nessa entrevista, Jay fala sobre o processo de criação do álbum, as influências que o moldaram (e as que ele tentou evitar), os fantasmas que o acompanham e o porquê de ainda acreditar que o rock pode — e deve — incomodar.
Entrevista
Giovanni Maglia (@gmaglia) entrevista Jaydson (@jay_jaydson) sobre o novo album e sobre o seu processo de criação
Gostei tanto disso que acabou virando nome do disco e fiz uma música que basicamente só fico gritando o lema repaginado de acordo com o conceito do disco e de certa forma com minha visão de mundo mesmo.
@gmaglia:
Como tu entende o envelhecimento dentro do universo do punk e do metal, onde muitas vezes se cultua a juventude como sinônimo de autenticidade?
Estou lidando com isso, não digo que da melhor maneira, mas estou lidando.
Acabei de fazer 40 anos e minha vida como músico é recente. Então estou vivendo uma mistura de viver o que não vivi na juventude mas já mais velho. Acabo trazendo um pouco da inconsequência da juventude com a maturidade dos 40.
Eu não sei como seguirei daqui pra frente, querendo ou não, o meio musical é complexo. É preciso ter muita paixão e com a idade que tenho, são mil coisas a se priorizar.
Estou aproveitando o momento e dando tudo que consigo em termos de autenticidade e criatividade. Em teoria, a idade não importa, mesmo que na prática saibamos que importa sim, de alguma maneira ou outra.
De certa forma sim. Mas também não sou hipócrita. O culto da autodestruição está aí e é acaba sendo uma tentação. Depende muito da vivencia da pessoa, imagino eu.
Não estou querendo pregar nada e nem mesmo eu sou adepto do que canto em muitos momentos. A vida é complexa e todos temos nossas questões e demônios.
Por mais que eu grite “Live Fast, Die Old”, não estou querendo cagar regra de que assim deveria ser. É um mais um grito de um certo auto conhecimento e de uma filosofia barata contrária, que queria que Kurt Cobain ainda estivesse aqui.
Aliás, tudo isso nasceu justamente quando a frase “Eu quero morrer velho, don’t wanna be Cobain” me veio na cabeça.
Mas de fato, em algumas músicas eu deixo claro muito do que penso e do que vivo e isso pode trazer uma exposição. Mas estamos no jogo, então tudo bem.
@gmaglia:
Acho que esses são os principais eventos que me fizeram chegar onde cheguei com esse álbum.
O término de uma relação longa também me afetou mais do que eu imaginei e ainda refletem no meu dia a dia. Isso está muito presente no álbum.
A cena de Porto Alegre e RS é incrível. Eu navego em todas as vertentes, então acho que isso também favorece.
Já estou com muitas músicas novas semi prontas e iniciando o processo de produção do próximo álbum. Então podemos dizer que “Live Fast, Die Old” é um primeiro capítulo de algo maior.
A questão é que eu não faço música pelo conteúdo ou pensando em quem vai ouvir. Faço música pela música. Pelo que gosto, pelo que estou vivendo, pelo que quero expressar.
@gmaglia:
Outros tipos de críticas como “faltou um solo aqui, faltou um verso ali” eu simplesmente ignoro, porque sinceramente, a música é minha e eu faço como quiser. Tudo que está ali está como deveria estar e foi pensado para estar como estar. Se não agradar alguém, não tenho muito o que fazer.
@gmaglia:
@gmaglia: