Bom dia Bruno, é um prazer voltar a falar com o Desalmado após tantos anos, e para começar é impossível não elogiar o trabalho feito em “Save Us From Ourselves”, ficou excelente.

Você pode nos contar como foi o processo de criação destes sons?

Prazer é meu em falar contigo. Muito obrigado pelo elogio, nós estamos muito satisfeitos também com o Save Us From Ourselves, a galera tem curtido bastante o disco. A ideia deste disco veio logo após a turnê que fizemos em 2016 pela Europa, divulgando o split In Grind We Trust, que fizemos com o Homicide. Era nítido que o nosso show havia melhorado muito, então precisávamos fazer um disco que refletisse esse momento. Sem dúvidas foi o disco que mais teve a dedicação da banda, um processo muito mais cuidadoso, tanto na parte de composição quanto gravação. Não colocamos rótulos, queríamos um disco pesado e bem variado, assim como clássicos que gostamos como o Chaos A.D. do Sepultura ou o Enemy of the Music Business do Napalm Death. O nosso processo geralmente o Estevam traz alguma ideia de riff e coletivamente vamos trabalhando ela, transformando numa música. É bem legal, pois todo mundo colabora no processo, às vezes eu trago um riff meio estranho e o pessoal ajuda a deixar ele mais legal. O que mudou desse disco para os outros, sem dúvidas, foi a nossa dedicação em todo o processo.

 

Se vê um novo Desalmado em cada canção, mas porém, também no palco se vê uma postura melhor. Você acredita que essa dedicação transformou o resultado não somente em um disco melhor, mas também em uma banda melhor?

Com certeza. Uma coisa que mudou a banda foram as turnês. Destaco a tour que fizemos pela Europa em 2016, com o Surra em 2017 e com o Besta neste ano. Além disso, somos muito exigentes com o nosso show, sempre tentando melhorar. Quanto consolidamos a banda como quarteto, em 2012, começamos a ensaiar mais, tocar mais e pensar mais no nosso show. Não tem mágica, tem que se dedicar mesmo.

 

A mudança de formação ajudou a consolidar toda essa dedicação e trabalho?

Com certeza, mas não que o problema fosse de quem estava na banda antes. Quando a banda virou quarteto nós acabamos fazendo um pacto, meio que inconsciente, de fazer com que o Desalmado fosse realmente uma banda, não só uma galera que ensaia uma vez por semana e que toca quando dá. O processo de composição e gravação do Estado Escravo já foi diferente, se comparado aos trabalhos anteriores. Lembro que dois shows deixaram isso claro para nós, quando tocamos com o Obituary em Belo Horizonte e quando tocamos no festival Araraquara Rock, a energia da banda realmente havia mudado.

 

Na primeira tour do européia, o que vocês trouxeram na bagagem para agregar valor a banda?

Que banda só é banda depois de uma turnê hehe. 33 dias convivendo juntos não é fácil. Aprendemos a lidar com as diferenças de cada um dentro da banda e também em relação ao nosso show ao vivo. É ali que tudo acontece, desde então nós sempre nos dedicamos a fazer o melhor show possível, sempre!

Banda é um casamento, 33 dias juntos é pesado hahahaha.  E como foi a tour com o Surra, o que você pode destacar nesta viagem?

Cara, pra mim foi uma das melhores turnês que já fizemos, por vários aspectos. Pessoalmente eu sou muito fã dos caras e eles tem a mesma pegada que a gente, sempre preocupados em fazer o melhor show possível. E também somos muito amigos, o que facilita bastante. O show que fizemos com eles e o Manger Cadavre? na Av. Paulista foi espetacular, deu muita gente por lá. Outro show insano foi em Recife, muita gente disse que esperava um show nosso por lá há mais de 7 anos.

Surra é uma banda espetacular mesmo.

Como você vê a cena atual do grind core no Brasil?

Eu acho a cena muito boa, não só do Grindcore, mas da música extrema em geral que é o cenário no qual nos identificamos. Eu vejo também que as bandas estão tomando consciência de se organizarem para fazer algo diferente, não ficar em casa achando que as coisas vão acontecer por magia, isso não existe. Sinto também que um pouco daquele espírito de união está rolando mais, não só com as bandas, mas também com o público, zines, blogs etc.

E como você se sente sendo um  dos nomes mais lembrados nos últimos anos quando o tema e grind core ?

Eu acho muito interessante, pois a maioria das pessoas do Grind não considera a gente uma banda de Grindcore. Essa galera está certa na verdade, pois nós sempre tivemos muitos elementos diferentes, se você ouvir o SUFO vai perceber que ele é um disco mais livre, com vários elementos do metal extremo, hardcore e crust. Nós começamos como uma banda de grind, mas fomos agregando elementos de outros estilos ao nosso som. Não nos preocupamos muito mais com os rótulos, mas temos consciência que a galera sempre vai associar o Desalmado ao Grind, o que pra nós jamais será um problema.

Você disse que há um sentimento que as coisas estão melhorando, mas na sua opinião falta muito para se globalizar o profissionalismo na cena ?

Eu acho que falta sim, mas ultimamente eu tenho sido mais otimista. A verdade é que não existe um mercado aqui no país, o que existe são pessoas fazendo ações mais isoladas. Precisamos criar este circuito, criar este mercado, para que mais bandas possam levar a sua mensagem para o país todo. Tem uma infinidade de coisas a melhorar, mas eu acredito que já estivemos piores nesse sentido.

Tocando neste tema, super interessante, me recordo de uma ação do torture squad em que pedia circuitos de shows de segunda a segunda propondo uma aliança da melhor forma possível.  Eles inclusive conseguiram realizar uma tour nacional assim. E possível mais bandas fazerem isso ?

Sem dúvidas, nós fizemos isso na turnê com o Besta. Todos precisam se empenhar para isso acontecer, quem organiza o show, público e bandas. Tem que ser feita uma divulgação boa e ingressos a preços que caibam no bolso da galera, assim vamos começar a criar essa cultura de ir em show durante a semana. Também precisamos ter o bom senso de fazer num horário legal pra todo mundo que utiliza transporte público poder voltar do show numa boa, mas é possível sim.

Voltando a falar sobre “Save us from ourselves ”   onde ele foi gravado e sob produção de quem ?

Temos o privilégio de poder gravar no Family Mob, um dos melhores estúdios do Brasil, Ratos de Porão e o Nervosa já gravaram por lá também. O Estevam é dono do estúdio, mas não significa que tivemos todo o tempo do mundo, nós pegávamos os horários vagos do estúdio. A produção foi feita por nós e o Hugo Silva, que é engenheiro de som do estúdio. O trampo do Hugo fez toda a diferença, o disco não teria saído como saiu se não fosse pela dedicação dele. A nossa evolução tem muito a ver com a produção do Hugo, sem dúvidas.

Hoje pós disco gravado e bem aceito na mídia, se você pudesse alterar algo nele, oque você mudaria?

Não penso muito nisso, eu já penso no próximo. O que eu quero mudar para o próximo é conseguir tocar melhor e fazer um disco melhor que o SUFO. Disco é uma fotografia do momento, então prefiro não sofrer com isso. Estou muito satisfeito com o SUFO, ele reflete o momento atual do Desalmado.

Boa, muito boa.

E quais são os planos para este ano?

Tocar o máximo que pudermos! Além disso, vamos tentar lançar um clipe pra cada música do disco, num esquema Do It Yourself, bem colaborativo. O SUFO vai ser lançado em vinil na Europa em setembro e nós faremos mais uma turnê por lá em outubro. Vamos fazer mais alguns shows com o Surra também e já estamos pensando o próximo disco. Esse ano o nosso EP Hereditas faz 10 anos de lançamento, então faremos algo especial para celebrar esta data.

O que há de confirmado para esta tour em outubro?

Provavelmente a turnê será em 3 países: Portugal, Espanha e França. O disco vai sair em vinil com alguns bônus pela Raging Planet, uma gravadora portuguesa, então vamos concentrar as datas por lá. A turnê vai ser com o Besta e deve rolar um show junto com o Surra por também. Vai ser uma turnê de tiro curto, mas estamos bastante ansiosos pra tocar novamente por lá.

E sobre o vinil em setembro, o que levou a banda a lançar este tipo de material lá? há possibilidades de um lançamento aqui em vinil?

O interesse partiu do pessoal da Raging Planet, não foi algo planejado… o que é mais legal ainda! Recebemos proposta até do Cazaquistão pra lançar o SUFO, mas acabou não indo pra frente. Por nós tudo teria saído em vinil, mas é um investimento alto e, para uma banda independente, fica complicado. Nós traremos umas cópias pra vender aqui, mas não deve sair uma versão nacional do vinil.

Sobre o Hereditas, um disco que eu escuto até hoje e é fenomenal, o que vocês tem preparado para comemorar ele?

Ainda estamos planejando, talvez relançar com alguns bônus também, mas ainda não está definido. Muita gente curte o Hereditas, então com certeza faremos algo especial!

Seria um disco com roupagem nova?

Realmente ainda não temos o formato definido, mas quando estiver tudo certo você vai ser um dos primeiros a saber heheh

Hahaaha fico ansioso por esta notícia.

vamos fazer um jogo rápido:

 

4 bandas nacionais: Surra, Homicide, Facada, Manger Cadavre?

4 bandas internacionais: Napalm Death, Gov’t Mule, Morbid Angel, Judas Priest

1 disco: World Downfall – Terrorizer

1 livro: Atualmente relendo Doutrina do Choque, da Naomi Klein

Desalmado: Contra o Estado Fascista e Toda Opressão Religiosa

Brasil: Golpe atrás de golpe.

Música extrema: forma de expressão de situações extremas.

Europa: turnê em outubro hehe

Família: Base de tudo, o que motiva.

Uma frase: “Somos vivos, mas nascemos sempre que erramos.” (Redson Pozzi – Cólera)

Qual foi o seu aprendizado durante todos estes anos na música Underground ?

Cara, acho que um dos grandes aprendizados é buscar se aperfeiçoar sempre, não seguir modismos, ser íntegro aos seus ideais e apoiar quem está sempre correndo pelo certo. O Desalmado me deu a oportunidade de conhecer outros músicos experientes e consagrados que me ensinaram tanto quanto bandas que estão no mesmo patamar que a gente. Aprendi também a respeitar e aprender com o ponto de vista de outros, principalmente com meus irmãos de banda. Estamos nessa porque realmente amamos e respeitamos a música extrema, não tem modismo que mata isso.

Me diga dois aprendizados que marcaram vocês , um positivo e outro negativo

Cara, pergunta difícil… mesmo em situações difíceis você aprende lições importantes. Lembro que em nossa primeira turnê europeia nós tivemos uma briga que quase acabou com a banda, mas tivemos que ter um papo reto para conseguir manter a tour até o final. Essa treta mais uniu a banda do que distanciou. Os maiores aprendizados pra mim foram as tours pela Europa e as que fizemos no Brasil com o Besta e o Surra. O fato de ter contato com grandes músicos de outros estilos musicais no Family Mob foi um grande aprendizado também.

Quem quer conhecer o desalmado onde pode encontrar?

Está tudo no nosso site, www.desalmado.com. Todos os nossos discos estão nas principais plataformas digitais e no nosso Bandcamp. (https://desalmado.bandcamp.com/)

Não sei se você viu, mas acabamos de lançar um novo clipe, da música “Blessed by Money”, depois me diz o que você achou!

Acabei de assistir e ficou fenomenal, mostra uma realidade que muitos brasileiros estão passando no momento.

Qual mensagem final que você deixa para os leitores?

Primeiramente eu quero te agradecer pelo espaço, pelo apoio e pelo trabalho que você tem desenvolvido para divulgar as bandas, é algo essencial e muito importante para nós. Para os leitores eu peço que compareçam aos shows das bandas que vocês gostam. Não tem mágica, é a forma pela qual nós conseguimos continuar fazendo música extrema no Brasil. Leiam as letras das bandas, saiba exatamente o que você está apoiando. Aqui ninguém quer ser pastor ou doutrinador, queremos sempre incentivar o senso crítico, que as pessoas pensem e não apenas saiam compartilhando ideias por aí sem ter tido o mínimo de reflexão. Fiquem ligados que nós vamos fazer muita coisa ainda este ano, contamos com o apoio de vocês! Valeu!

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Cremo
Sejam bem-vindos ao meu mundo onde a música é pesada, a arte visual é uma paixão e a tecnologia é uma busca incessante pela excelência. Sou um aficionado por Death, Thrash, Grind, Hardcore e Punk Rock, trilhando os ritmos intensos enquanto mergulho no universo da fotografia. Mas minha jornada não para por aí; como programador e analista de segurança cibernética, navego pelas correntes digitais, sempre sedento por conhecimento e habilidades aprimoradas em um campo em constante mutação. Fora do reino virtual, vibro intensamente com as cores do Boca Juniors, e meu tempo livre é uma mistura de leitura voraz, exploração de novos lugares e uma pitada de humor. Seja nas areias da praia, nas trilhas das montanhas, acampando sob as estrelas ou viajando para terras desconhecidas, estou sempre pronto para a próxima aventura. E claro, não há nada que eu ame mais do que arrancar um sorriso do rosto das pessoas com minhas piadas e brincadeiras. Junte-se a mim nesta jornada onde a música, a tecnologia, o esporte e o entretenimento se entrelaçam em uma sinfonia de diversão e descobertas. E lembrem-se: Hail Odin e um firme 'foda-se' ao fascismo e ao nazismo!