Claustrofobia fala sobre o lançamento do videoclipe de “Stronger Than Faith” e as novidades de seu mais recente álbum “Unleeched”

Crédito: Helena Mestriner

Com quase três décadas de existência, o Claustrofobia é uma das principais bandas underground do metal extremo brasileiro. Através do programa “Fúria” da MTV Brasil, a banda ganhou notoriedade e, ao longo de sua trajetória, o trio paulista de death/thrash metal passou por muitas mudanças, consolidando-se como uma das principais bandas underground do cenário nacional e ganhando espaço também no exterior, principalmente na Europa.

No ano passado, a banda lançou seu mais recente álbum “Unleeched” e, recentemente, o videoclipe “Stronger Than Faith“, que vem recebendo excelentes críticas.

Tivemos a oportunidade de entrevistar o vocalista Marcus D’Angelo, que nos contou um pouco mais sobre os processos de criação e produção dos trabalhos.

Acompanhe agora essa conversa exclusiva:

Vocês acabaram de lançar o videoclipe da música “Stronger Than Faith”, que foi uma produção própria. Como foi esse processo?

Marcus D’Angelo: Primeiramente, obrigado pela oportunidade. Durante a pandemia sentimos a necessidade de continuar produzindo conteúdo para banda, porém o lockdown nos impossibilitava de fazer algum dinheiro e ter condições para isso, então fomos forçados a começar a fazer tudo por nós mesmos de uma vez por todas, então o nosso baterista, Caio D’Angelo, dedicou esse tempo para aprender a mexer com edições de vídeo e “Stronger Than Faith” seria nossa quarta experiência com vídeos. Já tínhamos a locação certa na mente, e apenas esperamos o momento certo para organizar a logística. Nós três da banda produzimos todas as ideias, mas como o Caio iria editar, ele mesmo que escreveu o roteiro e dirigiu as gravações. Levamos um grande amigo chamado Carlos Zema, vocalista da Immortal Guardian, para nos ajudar nos takes quando fosse a banda toda em ação, uma amiga fotógrafa chamada Helena Meniatrer nos acompanhou para registrar o momento, nos takes individuais filmamos uns aos outros, o que foi essencial, pois sabemos os melhores ângulos e todas as partes das músicas que deveriam ser valorizadas, tanto musicalmente, quanto de performance. Gravamos tudo em um dia, compramos um estabilizador e filmamos tudo com o celular (iPhone) do Yamada (baixista), e já aproveito para dar um spoiler que acabou sendo gravado um segundo vídeo clipe por acidente (risos).

 

O clipe traz a banda tocando em meio às ruínas e paisagens desérticas. Como se deu a escolha deste cenário? Qual mensagem vocês queriam passar?

Marcus D’Angelo: O local se chama Nelson Ghost Town que fica na histórica Techatticup Mine,  mina de ouro mais antiga e rica do sul de Nevada (EUA), que foi abandonada após o ouro acabar em 1941. Era um lugar frequentado por milhares de pessoas em busca de ouro, sendo também local de inúmeros assassinatos causados por disputas pela riqueza, então com todo esse histórico você pode imaginar a energia incrível do lugar. Temos visitado esse local com frequência para apreciar, é um lugar que nos sentimos muito bem, tem uma família que mora lá, e as fotos promocionais do nosso último álbum “Unleeched” também foram feitas em Nelson, e desde então tivemos a certeza de que faríamos o clipe da “Stronger” nessa locação. A letra fala sobre a importância da fé, mas também que apenas ter fé não é o suficiente, tem que ter devoção ao sacrifício, ser voluntario na batalha para conquistar, porém a interpretação é livre, a música transporta a mensagem de diferentes formas e caminhos, e cada um se apega de um jeito. O fato é que as ruínas, a capela, as cores, a vegetação e o sol brutal do deserto dariam o clima perfeito, e com tudo isso, junto chegaríamos ao contexto imaginado, sem forçar e deixando a arte fluir. Simples assim.

A música “Stronger Than Faith” traz uma crítica à religião. Como surgiu essa ideia? Qual foi a inspiração?

Marcus D’Angelo: Interessante sua forma de interpretar a música, pois vem de encontro com o que acabei de mencionar na resposta da pergunta anterior, na verdade não escrevi essa letra como uma crítica a religião, a fé é uma das palavras mais deturpadas e mal interpretada pela humanidade, quase sempre associada a religião, e o resultado é sempre muita disputa, guerras e discussões. De fato, deixamos claro na letra que só ter fé cega e não fazer nada pra progredir não adianta em nada, sem esforço nada acontece, nada cai do céu, chega um momento que você tem que fazer as coisas acontecerem, pisar forte na guerra e acreditar nos passos mesmo sem saber do futuro desconhecido. Ter fé independe de religião, na nossa opinião, e entendemos que estamos nesse planeta para trabalhar e progredir, de dentro para fora, sempre.

Como está sendo a receptividade do trabalho pelo público?

Marcus D’Angelo: Não temos do que reclamar, somos uma banda independente então todo o trabalho leva um pouco mais tempo pra ser divulgado e digerido, até o momento é só positividade e sinto que cada vez mais, o trabalho tem se expandido de forma orgânica.

A faixa faz parte do mais recente álbum da banda “Unleeched”. Como foi gravar o álbum em meio a pandemia?

Marcus D’Angelo: Nesse ponto a pandemia foi muito boa pra nós, estávamos morando juntos durante o lockdown o que possibilitou a gente poder dar 100% de nós na finalização das composições e nas gravações, ficamos muito focados e toda aquela situação de incertezas e reflexões influenciaram muito no resultado final da obra. Produzimos o álbum juntamente com o produtor Adair Daufembach, trancafiados em seu estúdio, em Los Angeles, no auge da pandemia. Grande experiência com resultado satisfatório.

Vocês têm planos de fazer uma turnê para promover o novo álbum?

Marcus D’Angelo: Sim, já temos feitos alguns shows esporádicos desde o final de 2021, e pelo fato já citado de sermos 100% independentes, dificulta em alguns pontos, sobrecarregando as tarefas de todos, mas estamos sempre em busca de fazer mais shows, pois sempre foi a melhor forma pro Claustrofobia de promover nossa música e nossa postura em relação ao Metal. Lutamos com as armas que temos.

estávamos morando juntos durante o lockdown o que possibilitou a gente poder dar 100%

No ano passado vocês lançaram o clipe da música “Força Além da Força”, versão em português de “Strength Beyond Strength”, do Pantera. Como vocês lidaram com as críticas de alguns fãs que tentaram cancelar a banda por causa das ligações às falas nazistas do vocalista do Pantera, Phil Anselmo?

Marcus D’Angelo: Lidamos com muita tranquilidade, pois no caso do Claustrofobia é uma minoria que tenta caçar um assunto e promover uma discórdia, dentro de mil comentários positivos tem uma meia dúzia de coitados domesticados que estão sempre preparados pra julgar sem precedentes e, infelizmente, as pessoas (principalmente, a mídia) procuram dar mais atenção para essa meia dúzia do que para os outros mil comentários positivos, mas isso é algo comum no ser humano, sem novidade. No Claustro esse tipo de coisa não vai para frente, pois essas pessoas são devidamente ignoradas. Não discutimos com quem apenas ouve o que quer, é perda de tempo. Somos do tempo da troca de cartas, forjados na luta e a internet deu espaço pra tudo e todos, então faz parte. Seguimos com nossa integridade intacta há quase 30 anos de caminhada, observando de camarote todo tipo de situação acontecer na “cena”. Chega a ser engraçado, mas na real é totalmente insignificante. E os shows do “Pantera” continuam lotados (risos).

O que mudou na carreira da banda ao entrar no mercado dos Estados Unidos e quais são os grandes objetivos a serem alcançados?

Marcus D’Angelo: Ganhamos um pouco mais de tranquilidade para trabalhar a arte, temos mais acesso aos equipamentos tão necessários, crescemos muito na parte operacional e o grande objetivo é estabilizar a firma. Estamos quase lá.

Gostaria de acrescentar alguma informação que não perguntei?

Marcus D’Angelo: Mais uma vez gostaria de agradecer você Juliana e todos os irmãos do Cultura em Peso, pela entrevista. Isso significa muito. Gostaria de dizer também que estamos preparando algo especial para o Brasil, sem previsão ainda, mas que vai representar fielmente o significado do que é ser um headbanger verdadeiramente brasileiro. Muito obrigado a todos que vibram pelo Claustro, vocês são nossos aliados e teremos boas pela frente.

Nós, do Cultura em Peso, agradecemos ao Claustro, especialmente ao Marcus D’Angelo por seu tempo em responder as nossas perguntas, com muita boa energia.

a fé é uma das palavras mais deturpadas e mal interpretada pela humanidade, quase sempre associada a religião, e o resultado é sempre muita disputa, guerras e discussões.

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