Fernanda Lira conversa com Ricardo Brigas e conta para o Cultura em peso sobre sua nova banda Crypta, um projeto que virou banda e hoje desponta como uma das principais apostas do Death Metal Nacional.
Acompanhe a conversa que rolou e os planos da nova banda para o futuro.

Fernanda Lira

Primeiramente gostaria de agradecer pela entrevista, pela oportunidade de conhecermos um pouco da banda que já nasceu grande e que já gerou uma grande expectativa no Mundo do Metal, então nossa primeira pergunta é sobre a Crypta, como nasceu a banda? Fale sobre a formação.

F: Menino, nem a gente esperava uma resposta tão grande! Haha Mas estamos muito felizes e também estamos muitooo na expectativa pra compartilhar cada vez mais coisas pra todo mundo!

Na metade do ano passado, a Luana me expressou o desejo de ter um projeto paralelo de Death Metal, e me perguntou se eu não tinha essa vontade também. Eu nunca tinha pensado muito em outra banda, pois sempre estive muito focada trabalhando ali na linha de frente da Nervosa. Mas senti que de repente seria uma boa oportunidade de experimentar algo novo e dar uma renovada nos ares, já que todas já vínhamos percebendo um desgaste dentro da banda. Topei e aí surgiu a Crypta! A pretensão era puramente um projeto sério, mas ainda paralelo, mas no fim das contas acabou virando nosso maior foco e hoje estou muito feliz de tê-la criado lá atrás, porque com certeza já estar numa banda me ajudou a passar com mais facilidade pelo processo de transição que aconteceu depois de minha separação da minha antiga banda.

 

– A realidade é que a Pandemia causou muitas mudanças no Mundo da música, quais os próximos passos?  Pelo que já foi anunciado, a composição do disco já está pronta, passando essa Pandemia, existe um grande desafio para as bandas, vocês estão preparadas? Já podemos esperar por algum lançamento?

F: Com certeza a pandemia tem atingido todos os setores e o da música e do entretenimento tem sofrido desafios enormes. No nosso caso, onde ela mais ‘atrapalha’ atualmente é exatamente no processo de gravação. Queremos entrar em um estúdio de qualidade e fazer tudo com calma, e nenhuma de nós vai se arriscar a sair de casa pra gravar enquanto tiver subindo o número de casos aqui, não é seguro e muito menos recomendável. Enquanto isso não ocorre, estamos polindo as músicas que já estão prontas, finalizando outras pra assim que isso tudo se amenize, possamos gravar. A partir daí fica muito mais fácil de já prever lançamento de faixas pra galera ouvir, planejamento quanto a shows, etc.

 

– Falando em Pandemia, quem a acompanha nas redes sociais tem percebido sua preocupação com as pessoas mais necessitadas, esse lado humanitário sempre foi uma característica sua, você pretende dar uma atenção maior a esses projetos?

F: De uns tempos pra cá essa tem sido uma preocupação grande pra mim. Sempre contribuí com doações ou voluntariado aqui e ali, mas como as coisas tem estado muito difíceis, antes mesmo da pandemia, economicamente falando, e tendo tantas pessoas perto de mim (literalmente na minha rua) precisando, não vejo outra opção a não ser arregaçar as mangas. Gostaria de fazer muito mais do que faço, que é juntar uma graninha pra fazer compras, ou conseguir cestas básicas, móveis e quaisquer outras coisas que esse pequeno grupo de pessoas que ajudo precise. Mas acho que se cada um fizer um pouquinho, dá pra ajudar muita gente a passar um pouco menos de sufoco. Temos sempre que lembrar que por mais difícil que esteja pra gente, SEMPRE TEM ALGUÉM NUMA SITUAÇÃO pior. E eu posto nas redes não pra ostentar nem nada, mas sim pra incentivar as pessoas a fazerem Tb. Todo mundo conhece alguém que está passando necessidade e todo mundo pode abrir mão de sei lá, uma pizza no mês, pra contribuir de aguma forma com alguém que esta precisando.

 

– A Sonia Anubis, guitarrista da Crypta, mora na Holanda, como está sendo o processo de composição e logística de shows da banda? Vocês pretendem tocar por aqui também?

F: O processo de composição é bem fluido! Dá pra compor bastante pela internet e muitas bandas o fazem hoje. É claro que sentimos falta da coisa orgânica ali na hora de criar, mas com certeza consideraremos ensaiar com ela antes de gravar o disco pra enriquecermos os detalhes das músicas, etc. Quanto a shows, isso também dá pra planejar de boa. Queremos sim fazer muitos shows no Brasil e na América Latina, e tendo 3 das 4 integrantes brasileira, facilita muito, afinal basta trazer ela pra cá por um período e agendar shows por aqui nesse determinado período. Com um bom planejamento, tudo é possível!

 

– Logo que foi anunciado a sua saída e da Luana da Nervosa, as duas bandas já apareceram formadas e com os trabalhos prontos, foi uma grande surpresa a todos, houve muito burburinho no meio sobre isso e nem todos foram positivos, como você vê essas críticas?

F: Depende do teor da crítica. Coisa construtiva eu levo em conta, agora teorias de conspiração, ataques gratuitos ou tentativas sem fundamento de diminuir quaisquer uma das bandas, eu ignoro. Ignoro porque se eu não vejo verdade no comentário, eu não consigo validar ele, dar um sentido, um significado a ele, então pra mim acabo relevando pois não fazem sentido algum pra mim. Às vezes a gente vê o povo inventando mentira, coisa que jamais saiu da nossa boca, mas ao invés de responder aquilo, prefiro focar na maioria esmagadora que reage de forma saudável dando apoio ou fazendo comentários sensatos. Desde o primeiro dia que mostramos a Nervosa ao mundo, sofremos críticas duras e ataques virtuais de uma minoria, então imaginei que na nossa separação não seria diferente, então não me surpreendeu muito. O lance é focar onde realmente importa.

CRYPTA – integrantes.

– Como está a adaptação para tocar Death Metal? Teve muita mudança na maneira de tocar?

F: Pra tocar não muito, mas pra cantar, estou estudando diversas técnicas novas. Está sendo desafiador, mas um caminho muito proveitoso. Além disso, está sendo bacana se reinventar na maneira de compor, afinal encaixar linhas de vocal de death e thrash são bem diferentes, então tenho voltado a ouvir várias bandas de death que não ouvia faz tempo pra me inspirar e aprender coisas novas, então tá sendo bem enriquecedor e prazeroso.

 

– Quem está compondo as letras? Do elas retratam? Todos que a acompanham sabem da sua ligação religiosa com a Umbanda, podemos esperar letras ligadas ao tema? 

F: Eu vou escrever as letras pois as meninas mesmo preferem assim já que não têm muita prática nem fluidez nisso, mas estou considerando ideias e gostos delas pra essas letras, uma delas, por exemplo, é baseado em algo que a Luana sugeriu, então elas também vem com ideias, não sou a única que tem ideias pras letras, mas eu que as exteriorizo em texto. Quanto à Umbanda nas letras, a questão é um pouco mais complexa, não me sentiria confortável eu acho escrevendo sobre coisas que só eu me afinizo dentro da banda e também sei separar meus gostos e filosofias e adaptá-los ao gênero, senão por exemplo, escreveria sobre cristais, ervas e não sei se teria muito a ver com o estilo haha

 

– Existe uma banda homônima de Power Metal em Buenos Aires, isso foi tratado? Não pode dar problemas em um futuro próximo?

F: A coisa mais normal do mundo é ter bandas com o mesmo nome, todos sabemos. Basta, por exemplo, jogar lá no Metal Archives quantas bandas Massacre existem, ou Black Death… até Behemoth existem 5! Haha. O cuidado que tivemos foi ver se não tinha nenhuma do exato gênero que o nosso, old school death metal, que não estivesse ativa, lançando discos ou cujo nome já estivesse registrado. Não acredito que teremos problemas, pois é algo bastante comum de acontecer, até Nervosa descobrimos depois que existia uma outra banda com esse nome. Acontece e não creio que seremos prejudicadas e, óbvio, jamais pensamos em prejudicar alguém quando escolhemos o nome.

 

– A Nervosa alcançou um patamar muito alto no cenário Mundial, e hoje é uma das maiores bandas Brasileiras, fazendo Tours Mundiais, tocando em todos os Continentes, lançaram o excelente Downfall of Mankind e esperava- se muito do próximo disco, que provavelmente as lançariam a voos mais altos; começar do zero com a Crypta é um desafio maior? As comparações serão evidentes, o que podemos esperar da banda?

F: Não acho que seja um desafio maior, já que muita gente já conhece a mim, a Luana e a Sonia, por exemplo, e porque nesse longo tempo acumulei muitos contatos e experiências, o que certamente vai nos ajudar a fazer escolhas mais acertadas e rápidas, mas é sim um desafio diferente. Por que por mais que muita gente já nos conheça, é toda uma estrutura que deve ser levantada do zero sim, estamos passando por todos os passos iniciais que qualquer banda passa, mas tá sendo bacana e por incrível que pareça, estou super animada, foi uma renovação bem-vinda. Quanto às comparações, sei que infelizmente isso sempre vai acontecer, mas eu particularmente não acho saudável, pois soa como se as pessoas quisessem instaurar uma competição, e essa não é a ideia, pra mim o metal precisa muito mais de cooperação do que competição e a última coisa que quero é ficar ‘competindo’ com outras mulheres que estão ali trabalhando duro pra viver seu sonho. Sem contar que são estilos e propostas diferentes, pra mim não faz nem sentido querer comparar musicalmente.

Fernanda Lira

– Como foi a experiência em tocar no Rock In Rio? Eu assisti pela TV e me emocionei ao ver vários amigos lá tocando. É o sonho da maioria das bandas Nacionais. Era um sonho particular seu também? Como foi entrar no palco esse dia?

F: Com certeza foi uma das minhas maiores realizações não só como musicista, mas como headbanger mesmo. Tive a chance de ir em um Rock in Rio uma vez antes disso, e ficava toda arrepiada só de pensar que poderia, quem sabe um dia, tocar ali e quando aconteceu, me senti profundamente realizada. Era um sonho de moleca que concretizei com muito esforço. Pra mim foi muito emocionante principalmente por ter minha família e vários amigos queridos ali assistindo na primeira fila, nos apoiando, e por conta da tremenda reação e apoio do público, não esperávamos e foi de tirar o fôlego. Chorona que sou, óbvio que desci do palco, fiz o que tinha que fazer e quando cheguei no camarim, só conseguia chorar, de pura gratidão. Aquele dia foi muito especial e acho que muita gente se emocionou junto porque acabamos transparecendo a alegria e realização que estávamos sentindo.

 

– Obrigado Fernanda, em nome do Cultura em Peso eu gostaria de agradecer por essa entrevista, por formar mais uma banda, que com certeza representará o Death Metal Brasileiro pelo Mundo e para finalizar deixo espaço aberto para deixar um recado aos nossos leitores e fãs. 

F: Muito obrigada pelo espaço e a todos que leram, só tenho a agradecer pelo apoio. Vocês são muito mais importantes pra mim do que podem imaginar. Sem vocês, fâs, nenhuma banda é nada! Valeu!

 

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