Tive o prazer de entrevistar a sempre simpática e talentosa guitarrista da banda Crypta
(Death Metal), Tainá Bergamaschi. Ela nos contou sobre sua trajetória no metal extremo
e como guitarrista. Também falou sobre sua entrada na banda Crypta e como está andamento dos trabalhos com suas companheiras de banda (Fernanda Lira – baixo, Sonia Anubis – guitarra e Luana Dametto – bateria). Obrigado à Tainá, irmã das cordas, pela bela entrevista!

Como surgiu o seu interesse pelo metal extremo e quando começou a tocar guitarra? Por quais motivos? Conte para nós como ocorreu o início de sua trajetória na música.

“Sempre tive tendência à coisas mais extremas desde a infância, já começava pelos esportes, filmes, artes marciais etc. Então na música não acho que seria diferente. Na escola eu tive contato com alguns clipes do Iron Maiden através de um colega de classe. Eu queria ter uma guitarra só para fazer alguns bends que eu ouvia nas música e achava maravilhoso o feeling. Aos 12 anos tive minha primeira guitarra eu descobri mais um milhão de coisas além dos bends, claro. E me encantava cada vez mais pelo instrumento. Não demorou muito pra eu conhecer o lado mais extremo do estilo, muito cedo eu conheci o Death Metal e me enlouqueci vendo alguns clipes. De cara eu sabia que eu queria ser aquilo que eu estava assistindo na hora.”

Quais as bandas e guitarristas que mais te influenciaram em sua formação como
guitarrista e quais te influenciam hoje? Você estudou guitarra com algum(a) professor(a) ou utilizou outras estratégias para se desenvolver como guitarrista? Quais estratégias?

“Posso dizer que no início eu tive muita influência de Christopher e Michael Amott. Por muito tempo eu ouvi muito Arch Enemy e o álbum Stigmata me influenciou bastante. Hoje em dia não escuto muito, não tenho escutado muito o lado melódico do Death Metal. Gosto mais da pegada da banda Death, Possessed, Carcass, Interment, Bloodbath etc.. Saindo do Death Metal hoje eu escuto muito Devin Townsend, Rotting Christ, Gojira, King Diamond, inclusive Andy LaRocque é uma grande influência para mim, principalmente pelo seu trabalho em Individual Thought Patterns da banda Death.

Quanto aos estudos da guitarra, eu nunca tive um(a) professor(a), pois eu deveria, afinal o aprendizado é infinito haha… não sei dizer bem sobre as estratégias, mas a maior parte do que aprendi eu só tocava de ouvido desde o início e aos poucos fui conhecendo o instrumento, tocando do meu jeito. E sempre que eu preciso estudar técnicas específicas, como as de sweep picking por exemplo, eu procuro alguém que ensine um bom exercício e coloco em prática, sempre com o metrônomo pra ganhar mais velocidade.”

Conte-nos sobre a cena do metal na sua cidade natal e onde você mora até hoje,
Barbacena-MG. Conte-nos em quais bandas já tocou e como foi a experiência de tocar nelas (shows e material produzido).

“Eu não poderia deixar de citar uma grande referência que temos em Barbacena que é o Getulio ‘’Silenzio’’, fundador da banda Gargula Valzer. Um cara bastante conhecido e respeitado no underground nacional e internacional, o cara é tipo uma lenda daqui. Em Barbacena tínhamos o ‘’Abobrão’’, primeiro fest que metal da cidade que infelizmente teve seu fim no final dos anos 90, assim, hoje temos o Pumpks Rock Fest, que tem o nome em sua homenagem. Pumpks teve início em 2015/16 e tem crescido bem rápido. Trouxeram bandas como Hatefulmurder, Gangrena Gasosa, Apple Sin, entre várias outras que
marcaram o festival. O primeiro Fest que eu fui foi o Rock Solidário, que foi muito importante pra cena também. Bandas como Apsheit, Makabrethy, Conciliabulo, Tristis Terminus, Krushies (que uma vez ganhou o concurso de festival de bandas novas de Juiz de Fora), entre várias outras, fizeram grande parte da cena na cidade. Hoje temos a Ruins of Purgatory, banda nova com um álbum ‘Frailty of Mind’’ e um EP ‘’Appetite for Self-Destruction’’, e está em pré produção do próximo álbum, que para mim tem grande chance de crescer erepresentar ainda mais a cena. O criador desse magnífico trabalho é Bruno Zr,
um cara que também está sempre na ativa desde muito novo, tocando em praticamente todos os festivais desde que começou a tocar e cantar em bandas, e muitas vezes fazia participações especiais.

Eu comecei a tocar ao 14 anos em banda. Tive uma banda de Thrash Metal de início, a gente tocava alguns covers, Slayer, Testament etc.. tínhamos começado a compor mas a banda se separou, nenhum show ou gravação foi feita. Toquei também em uma banda de Symphonic Metal, onde começamos a gravar nossas músicas mas a banda se separou antes do fim das gravações, tínhamos algumas demos. Fizemos um show pequeno em um festival de motociclistas, sem registros. Toquei em algumas bandas de Rock apenas por
diversão também como a Delilah, que se não me engano ainda está na ativa. Depois surgiu o convite para entrar na Hagbard, Folk Metal de Juiz de Fora. Fizemos alguns shows e foi a primeira banda que me levou aos palcos mesmo. Tocamos em dois dias de edição do Odins Krieger Festival, em Rio Negrinho (SC) no Maniacs Metal Meeting, no fest JF Rock City e também no Rising Metal Fest de Lafaiete. A banda possui hoje dois álbuns e um EP, mas não cheguei a fazer nenhuma gravação com a banda, quando estávamos iniciando algumas gravações decidi a minha saída. A banda Ruins Of Purgatory confirmou sua participação no Pumpks este ano de 2020, onde eu iria fazer parte da formação ao vivo com convite do Bruno Zr, junto de amigos. Devido à pandemia teve que ser cancelado até então. No ano passado tive uma participação no show de 30 anos de carreira de Rodrigo Nézio, onde fui convidada a tocar duas músicas com ele. Rodrigo Nézio é um grande músico aqui da cidade também, para quem gosta de Blues, vale muito a pena conferir o seu trabalho.”

Como surgiu a oportunidade de integrar o projeto da banda Crypta, juntamente com as queridas e talentosas Fernanda Lira (voz/baixo), Luana Dametto (bateria) e a holandesa Sonia Anubis (guitarra)? Conte-nos como ocorreu todo esse processo de ter sido a escolhida.

“Luana e Fernanda tinham feito alguns posts dizendo que estavam com um novo projeto de Death Metal. Até aí tudo bem, e eu já tava achando o máximo, mas depois e fiquei pensando, ‘’será que elas têm guitarrista?’’. Eu já conhecia o trabalho da Sonia, e já acompanhava ela nas redes sociais também, mas não tinha visto que ela estava postando sobre isso. Então, como para mim era só Fernanda e Luana eu pensei ‘’uai, vou perguntar, não custa nada’’. E aí tudo começou. Primeiro que eu perguntei a Fernanda e tentei esquecer, porque não imaginava que a ela iria ver minha mensagem e principalmente porque estava no auge da saída da Nervosa. Elas estavam procurando uma segunda guitarrista desde o início da banda em Junho de 2019, quando eu entrei em contato com elas em Abril de 2020 elas ainda não tinham encontrado uma, assim tive a oportunidade de mostrar o meu trabalho para elas e claro, minhas intenções como banda. Finalmente tudo se encaixou e estamos juntas, quase entrando em gravação do primeiro álbum.”

Em qual estágio do processo de pré-produção a Crypta se encontra? Pode adiantar alguma novidade ou surpresas que a Crypta está preparando para um futuro próximo? Qual a previsão de lançamento do primeiro álbum da banda?

“Estamos nos detalhes finais da pré-produção do disco agora. Com os vocais encaixados vamos ter tudo pronto para entrar em estúdio. Vamos iniciar as gravações em Janeiro, contando também com gravação do novo clipe. Não podemos dizer ainda a data de lançamento, mas não demora muito sair a previsão e junto com algumas novidades que estamos preparando!”

Quais os equipamentos (guitarras, pedais/pedaleira, amplificadores) que você está utilizando no momento? Quais equipamentos você pretende utilizar nas gravações e durante as turnês?

“Eu uso guitarras Solar modelo V2.6C e pedaleira Line 6. Para a gravação vou usar pedais analógicos, conto com as marcas da Tc Electronic, a nacional Fuhrmann entre outras que estão sendo estudadas. Usarei também por enquanto Mesa Boogie e EVH 5150, mas estamos estudando outros aspectos para concluir os equipamentos usados em estúdio. Mas basicamente isso.”

Como a Crypta se organizou para o processo de composição das músicas diante do isolamento social? Ressaltando que cada uma de vocês reside em cidades distantes e a Sonia Anubis em outro país (Holanda).

“A composição das músicas já começou desde muito cedo, então quando eu entrei na banda já tínhamos quase o material completo, faltando uma faixa bônus que escrevi. Nessas últimas semanas revisamos todas as música acrescentando e/ou retirando, mudando o que fosse necessário para finalizarmos essa parte. Bastante coisa mudou e cada uma dá o seu feedback e acertamos até ficarmos 100% satisfeitas com o resultado final. Claro, no estúdio muita coisa pode mudar, pois estaremos juntas e não compondo à
distância.”

Qual é o seu ponto de vista com relação ao cenário limitado do entretenimento musical provocado pela pandemia do COVID-19? Quais suas perspectivas futuras para a Crypta diante do citado cenário global?

“É um momento muito delicado, estamos tomando bastante cuidado e esperando a hora certa para as coisas acontecerem. Não queremos correr co nada até porque aqui no Brasil o risco está muito grande, e temos que pensar que a Sonia está vindo pra cá pra gravação do álbum. Não queremos marca nenhuma turnê até que possamos sentir segurança. Claro que com relação aos festivais e para as bandas não é nada legal. Muita gente vive disso e vi bandas se separando porque tiveram que se mudar por conta da situação presente e chegando à um fim por isso. Festivais cancelados até por dois anos, gravadoras paradas. Mas eu acho que assim que tiver a vacina vai voltar como antes, e também acho que vai haver um equilíbrio entre pessoas que ainda vão estar com receio da aglomeração e outra felizes demais e irão direto para o mosh. Porém, infelizmente eu não tenho esperanças de que já estaremos em palco antes do segundo semestre.”

Quais as 3 bandas de Metal, do cenário underground, que você indica para que as
pessoas que acompanham o trabalho do Cultura em Peso possam pesquisar e conhecer o trabalho? Por qual motivo você indica cada uma delas?

Ruins Of Purgatory, com certeza. As mensagens passadas são muito marcantes e chocantes, além das belas composições, de todos os instrumentos. Como dizem, ‘’a banda de um homem só’’. Eu recomendo muito e torço para que esse trabalho seja muito bem reconhecido.

Noise More Bleed, excelente banda de Minas, eles são bem diretos no som, com canções cantadas em Português, retratam o passado e presente do país voltado pro caos social. Outra banda com mensagens marcantes nas letras.

Apple Sin, também de Minas, metal clássico com vocais bastante melódicos e as guitarras dobradas e melodias memoráveis, o baixo nem se fala, um destaque. Os caras trabalham duro e merecem total reconhecimento na cena. Sempre admirei muito o guitarrista Beto que está sempre em busca de viver da música, e ele está fazendo um trabalho maravilhoso junto com toda a galera da Apple Sin, acredito que eles vão longe.

Entre outras, Mortiferik, Gargula Valzer, Harmony Hate, In Nomine Belialis, Helllight, eu poderia passar um dia inteiro falando dessas bandas que tanto admiro o trampo e merecem pelo o que fazem e pela essência que tem.”

Para finalizar nossa entrevista, deixe sua mensagem para nossos leitores, o espaço é todo seu!

“Agradeço muito pela oportunidade em responder o Cultura Em Peso, agradeço sempre ao carinho e apoio ao Diego Linhares, que tanto apoia a cena underground e está sempre aberto à parceria, e lhe desejo sorte nessa nova caminhada. Irmão das cordas!

Obrigada à todos que nos acompanham e um grande abraço aos que dedicaram um tempinho para acompanhar essa entrevista, espero que possamos nos ver em breve nos palcos e festivais!”

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