Fala Manu, tudo em paz? Então irmão, é sempre um prazer entrevista-lo, sangue bom e parceria sempre. Parceria que já rendeu até música (risos). Mas, enfim, nos últimos anos eu acompanhei de perto o Uganga e vi o crescimento do grupo, o que me alegra muito, e agora vamos para mais um bate papo sobre música que é um dos nossos motores.
Manu “Joker”: Salve, irmão! Nossa parceria não é de hoje meu camarada! Foi da hora termos trabalhado juntos na letra de “Sua Lei, Minha Lei” (que saiu no álbum “Vol. 3: Caos Carma Conceito” de 2010), ao lado do Panda do Oligarquia. Só máfia (risos)! Massa estar aqui de novo no CEP!
Vinte anos na estrada de Uganga, de metal e hardcore, de altos e baixos, uma caminhada que a gente nunca quer ver chegar ao fim. Como você vê os últimos anos de Uganga? Ouve um salto mais rápido do que o esperado?
Manu “Joker”: Sinceramente, não. Estamos trabalhando pesado no Uganga desde o começo e quando se faz o que se acredita de coração o retorno vem, demore o quanto for. Nesses seis anos mais recentes acho que as coisas ficaram mais profissionais e menos passionais na banda e isso fez a engrenagem girar mais rápido (risos). Não é fácil, em alguns momentos bate o desânimo, principalmente com problemas de formação, mas é passado, ou ao menos é algo que hoje lidamos de maneira mais calma e focada. Hoje temos um núcleo forte reforçado pelo Murcego Gonzalez dos “Canábicos” que tem cuidado da guitarra solo ao vivo enquanto o Christian cuida da saúde e estamos com um novo álbum que com certeza é nosso melhor trabalho até agora. Inevitável cair nesse clichê de que o próximo trampo é o nosso melhor, mas é algo que está muito claro pra todos nós e com certeza ficará também pras pessoas que acompanham a banda nesses 20 anos.
Quatro álbuns em estúdio, um ao vivo, e já se foram duas tours no velho continente, o que o Uganga levou na bagagem para a segunda tour que não tinha na primeira? O que fez da segunda tour ser melhor ou pior?
Manu “Joker”: Cara, com certeza a segunda tour foi ainda melhor que a primeira, que, diga-se de passagem, já tinha sido excelente e além das nossas expectativas. Na verdade em ambas não tivemos problemas mais sérios, mas eu diria que na segunda na bagagem levamos um pouco mais de experiência obviamente, planejamento e principalmente paciência para lidar com as diferenças dentro de uma banda. Não é fácil sete homens numa van por quase um mês, estresses rolam, mas dessa vez estávamos mais preparados pra isso e correu tudo muito bem. Em relação a receptividade, ficou claro que a banda aumentou sua base de fãs na segunda vez, em países como a Polônia, por exemplo, isso ficou claro, mas é um trabalho constante e logo estaremos nos preparando pra voltar sempre buscando melhores condições para isso.
Como a banda vê o resultado da mais recente obra gravada?
Manu “Joker”: Estamos todos muito satisfeitos com o resultado cara! Como disse, sem demagogia nenhuma “Opressor” é realmente nosso trabalho mais forte e eu iria mais além: pra mim, de todas as bandas que já toquei, desde 1986, é o melhor trabalho que participei! Os motivos são vários: formação estável, ambiente interno com papéis bem definidos e sem crises de ego, separação do profissional e pessoal, comprometimento dos integrantes com seus papéis e, principalmente, uma pré-produção bem feita. No “Vol. 03” já trabalhamos dessa forma, mas dessa vez foi ainda melhor. Ficamos um ano trabalhando as composições com calma, individualmente ou com a banda toda, eu fiz as vezes de produtor nessa primeira fase de “garagem”, organizando as várias idéias que chegavam, cronogramas, etc, e acho que a banda toda aprovou o resultado. Nossas influências estão todas lá, a base metal e hardcore somada à detalhes de outros estilos como o dub, por exemplo, tudo na medida certa e ao meu ver cada vez com mais identidade. Também considero nosso álbum mais técnico musicalmente e com as melhores letras que já escrevi. Mas isso é só minha visão e o retorno quem dará é o pessoal que curte o Uganga.
Em que o Uganga acredita que a produção de Gustavo Vasquez fez de “Opressor” ser uma das melhores e mais maduras obras do grupo?
Manu “Joker”: Cara, ele teve um papel muito importante com certeza. Não desmerecendo os outros engenheiros de som/produtores que já trabalharam com a gente, mas o Gustavo levou a banda a outro nível de sonoridade. Estamos soando mais “na cara”, mais como é ao vivo, tudo captado de maneira tradicional, porém usando os recursos atuais que com certeza ajudam no processo de gravação. Como disse, as composições estavam em sua maioria definidas antes de irmos pro Rocklab, mas mesmo nessa parte ele ajudou com muitos toques nos arranjos e até tocou teclado em algumas partes. Particularmente, foi a primeira vez que tive alguém me apoiando de verdade com os vocais e com isso pude ir além de onde costumava ir, tanto eu quanto o Ras (baixista e backing vocal). O Gustavo é um grande amigo, músico de talento, fácil de lidar, conhece nosso estilo e nossas referências e fez um excelente trabalho. Já havíamos trabalhado com ele em uma faixa do cd ao vivo (“Não Desista”, cover do Stress), agora no “Opressor” e já adianto que ele também estará envolvido no nosso próximo lançamento que é o DVD de 20 anos previsto pra sair em fevereiro.
Auschwitz e seus terríveis campos foram inspirações para a criação de “O Campo”, sabendo que você é um admirador da história, como foi para ti estar nos campos, visita-los e trazer isso para a música?
Manu “Joker”: Foi uma experiência única que levaremos pra vida toda. Passamos umas três horas lá dentro andando por todos os lugares e experimentando sensações diferentes, porém todas muito intensas. Nem vou me ater muito às questões que levaram a criação desse lugar, pois acho que a letra fala por si e logo todos saberão a nossa visão. O que posso dizer é que é algo que nunca deve ser esquecido. Os caras da banda Holocausto já haviam colocado uma citação de Bertold Brecht na contra-capa do disco “Campo De Extermínio”: “Nunca devemos aclamar a vitória sobre o cão bastardo, pois a cadela que o pariu está novamente no cio.”
Jogo rápido:
4 bandas mineiras: Sepultura, Sarcófago, Uganga e Seu Juvenal.
4 bandas nacionais: Vulcano, Paura, Olho Sêco e Racionais MC’s.
4 bandas internacionais: Black Sabbath, Beatles , Exodus e Exploited.
1 livro: O Passo Decisivo (Krishnamurti)
Uganga: Parte muito importante de quem eu sou.
Minas Gerais: Minha casa hoje e sempre. Daqui pro mundo sempre voltando.
Política: Um mal necessário. Alienação só ajuda os corruptores.
Brasil: Um bebê que ainda não acordou, mas com certeza irá. O papo do “gigante” pra mim não passou de uma confusão sem foco.
De onde surgiu a idéia de fazer um cover do Vulcano?
Manu “Joker”: Sou fã dos caras desde o começo da banda, acho “Who Are The True?” um álbum injustiçado e a letra dessa música está cada vez mais atual. Dei a idéia pra banda, todos apoiaram, o Zhema e a Cogumelo liberaram para fazermos a versão e acho que ficou bem legal. Demos a nossa cara e ainda contamos com as participações mais que especiais do Murillo (Genocídio) e Ralf Klein do Macbeth (Alemanha) nas guitarras.
Por que o Uganga sempre escolhe primeiro o título do álbum antes mesmo de criar as musicas?
Manu “Joker”: Não sei, mas realmente acontece (risos). Como a maioria das letras fica por minha conta, eu começo a pensar em títulos pros álbuns assim que começamos uma nova pré-produção. Gosto de títulos fortes e esse em especial veio antes de ter escrito qualquer letra. Teve a ver com o conceito da capa, que trata do mundo atual com tudo de ruim que nos cerca e que é culpa nossa enquanto seres viventes. Conversei sobre a idéia com o Marco (meu irmão e batera do Uganga) que é quem cuida da parte gráfica e ele sugeriu trabalharmos com o Beto Andrade dessa vez para a ilustração da capa, ficando ele com o encarte. Acho que tudo, letra, som e arte ficou muito bem amarrado apesar de não ser propriamente um álbum totalmente conceitual.
Uganga sempre faz parcerias tanto na criação das músicas como nos lançamentos de seus materiais. Quem participou deste CD e por onde ele sairá?
Manu “Joker”: O cd sairá pela Sapólio Rádio, um selo novo daqui do Triângulo Mineiro que está vindo com muita força. Eles lançaram alguns singles de bandas locais, uma coletânea e agora nosso cd. Também vão lançar o vinil do Seu Juvenal e o do “Opressor” que sai no começo de 2015 (o vinil). Também fechamos com eles o DVD de 20 anos e só estamos definindo o formato do pacote agora. Será algo bem especial. Para a distribuição contaremos com a Hellion e a Voice, duas empresas consolidadas no mercado e que se mostraram os parceiros ideais para esse lançamento ir além de onde foram nossos outros álbuns. Sobre as participações, tivemos menos dessa vez. Eu escrevi uma letra com o Tito do Seu Juvenal/Angel Butcher chamada “Moleque de Pedra” e nesse som o Juarez “Tibanha” do Scourge fez uns vocais. Além dele, tivemos, como disse, o Ralph do Macbeth (Alemanha) e o Murillo (Genocídio) tocando guitarra no cover do Vulcano e o Gustavo Vazquez nosso produtor tocando teclado em “Nas Entranhas Do Sol”. Ah, também rolou um reforço nos backings em algumas músicas onde contamos com integrantes das bandas Hellbenders e Mugo que já são parceiros.
Projeto para 2015?
Manu “Joker”: Seguir em frente com o Uganga, divulgar bastante o “Opressor” e o clipe novo (“Casa”), tocar no nordeste e no sul do Brasil, fazer alguns shows na América Latina e fechar parcerias fortes de distro pro “Opressor” no resto do mundo. Depois disso Europa de novo!
11- Contatos e merchan:
Manu “Joker”: Nosso merchan tá por conta da Incêndio Shop que já é parceira desde o começo. Links: http://ugangastore.tanlup.com ou http://www.incendioshop.com.br
12- Considerações finais:
Manu “Joker”: Mano, muito obrigado pela parceria que não é de hoje. Vida longa ao CEP e quem quiser conhecer mais o Uganga é só acessar www.uganga.com.br. Um salve à todos!
Mais informações:
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