– Muito obrigado pelo tempo cedido para a equipe da Cultura em Peso. Você pode nos contar como se deu o início do seu projeto solo?
Sou eu que agradeço pelo interesse em meu trabalho, assim como ao espaço cedido pelo Cultura em Peso e o tempo de leitura do público. Desde o meu início na guitarra, aos 13 anos, sempre busquei formar ou me associar a bandas autorais. Os covers, para mim, eram mais como estudos para evoluir como guitarrista e compositor, e também laboratório para adquirir presença de palco. Minha mensagem sempre foi predominantemente autoral. Em 2019 começava a compor os primeiros riffs que seriam o embrião do Reasons For My Vengeance, mas esse processo foi interrompido pela minha entrada na banda Scars. Foi ao sair da banda que retomei com real afinco, pois deixei o Scars após a pré-produção do álbum Predatory. Eu estava em ritmo de jogo e queria “disputar o campeonato”. Então liguei para o Thiago Bianchi e assinamos o contrato de produção, trazendo o Marcelo Cardoso (bateria) e o Raphael Dafras (baixo) para o time.
– Gostaria de saber como você se define. Eu particularmente achei o trabalho de vocês voltado para o Metal Instrumental com pitadas de Fusion. Você concorda comigo?
Nesse álbum, optei por apresentar alguns temas mais puxados para o thrash, outros para o prog, outros para o Power, e há temperos de música erudita. baião e até flamenco, então concordo com sua análise.
– “Reasons for my Vengeance” é o seu primeiro registro. Como se deu o processo de composição deste material?
Esse é meu primeiro registro como músico solo e o processo, no geral, é bastante trabalhoso e diferente de uma banda convencional. Algumas ideias eu já tinha prontas há anos, mas a maior parte das ideias surgiram fazendo jam sessions com loops de bateria e organizando as estruturas até que se houvesse material para uma música completa. Ao formar uma ideia madura o suficiente , mandava a demo para o Thiago fazer suas ponderações, aí seguia-se para a próxima música.
– Gostamos muito da qualidade sonora alcançada por você. Suponho que o trabalho em estúdio tenha sido muito tranquilo. O que você pode nos falar sobre esta etapa, até chegarmos no lançamento propriamente dito?
O Thiago e eu formamos uma boa dupla de trabalho, ao ponto dele ter me convidado para excursionar com a Noturnall em 2 turnês internacionais. O ponto é: sentamos juntos para realizar a mixagem do álbum e tivemos sintonia para perceber nuances e alinhar visões, chegando em consensos, mesmo quando as opiniões iniciais eram diferentes, com profissionalismo e respeito mútuo. Ele sacou de imediato minha referência de timbre e lapidou com maestria. Basta comparar o resultado final do álbum com as demos do EP Rising Empire para notar. A pré-produção do álbum levou um extenso tempo em função do alinhamento de agendas, mas isso foi ótimo para maturar e validar ideias. Na hora da ação, o Marcell gravou impressionantemente todas as músicas em uma tarde. O Raphael esteve em extensas turnês com o Edu Falaschi e levou um pouco mais de tempo para concluir suas linhas, mas também entregou um material satisfatório. Não posso deixar de citar o brilho trazido pela participação do meu amigo, Alexandre Panta, que apresentou linhas de baixo fantásticas para a música E@rth-2, que se tornou o primeiro single do álbum. Trabalhar com esse time formidável trouxe segurança de um resultado final que vem sendo muito elogiado pelo público e pela crítica.
– Rick, eu adorei as linhas mais pesadas compostas por você. Como funciona o seu processo de composição, neste sentido?
Gosto de bandas de heavy, power e prog, e também me identifico muito com estilos mais pesados como thrash, death e black metal. A minha mão direita é pesada e o thrash metal representa para mim a combinação equilibrada entre agressividade, técnica. velocidade e swing em um ambiente adequado para esbravejar essa dor que é ancestral, mas também atual, que o brasileiro carrega, banhada ao sangue de nossos antepassados, violência nas ruas e nas redes, constantes estorções legitimadas pelo poder do Estado, apropriação e distorção dos valores de grupos diversos, polarização, disseminação do ódio, intolerância generalizada, entre outras situações caóticas que fazem parte da nossa construção histórica. Posso fazer músicas com a intenção de soar de forma diferente, mas esse peso vai emanar intuitivamente em algum momento, de forma sutil ou não. Esses riffs vão surgindo sem muito planejamento inicial e vou lapidando.
– A arte da capa é bem diferente, fugindo do padrão que estamos acostumados. Qual a mensagem que você quis transmitir com ela?
Essa capa flerta com a estética de outras mídias como HQs e videogames. Minha ideia inicial era discorrer mais sobre a temática do disco, que é sci-fi, através de outras produções, que comuniquem também com o público mais jovem. Em resumo, a ideia é ilustrar um futuro distópico em que a humanidade é dominada pelo império das máquinas e um grupo de resistência alinha poder arcano à tecnologia para combater os autômatos. Quem se atentar mais aos detalhes, poderá encontrar diversos easter eggs.
– Imagino que você já deva estar trabalhando em novas músicas. Poderia nos adiantar como elas estão soando?
Recentemente, recebi uma guitarra de 7 cordas da Blend e tenho explorado ideias diferentes. No geral, são músicas mais pesadas, com células rítmicas menos retas e mais técnicas do que em Reasons For My Vengeance.
– Você já está pronto para excursionar? Falo isso, pois depois de escutar o seu material, fiquei curioso para vê-lo ao vivo.
Tenho me preparado para isso. Tudo aponta para um início através de workshops e outros formatos mais intimistas e seguindo para o formato de shows. Ir para a estrada, encontrar com o público e estabelecer conexões reais é magnífico.
– Como você analisa o mercado fonográfico atualmente? Você acredita que o nicho que você faz parte, permite espaço para novos nomes promissores, como é o caso aqui?
A cultura no Brasil é sempre uma questão de luta. O meu trabalho não olha apenas para o viés do entretenimento, mas da cultura em todas suas dimensões. É preciso ocupar os espaços da sociedade, fazer trabalho educacional, mostrar diversidade para as novas gerações, transitar e comunicar nas diversas esferas da sociedade. Se meu trabalho se limitar a tentar atingir apenas o metalhead da internet, será difícil prosperar, pois há muitos guitarristas mais famosos e abastados do que eu investindo nos algorítmos. O meu diferencial é oferecer cultura. Reasons For My Vengeance tem narrativa, tem contexto, tem guitarra em sua essência, tem diversidade quando mostro temperos de outros gêneros e tem uma linguagem que está às margens da grande mídia. As pessoas se impressionariam com a reação das crianças quando junto umas 30 delas para mostrar o meu trabalho ou de outros artistas de metal na escolal. Elas ficam em êxtase com a novidade e a energia desse tipo de música. Muitas pessoas reclamam das tendências das novas gerações, mas pouco ofertam a elas. Mostrar a elas um mundo diferente de possibilidades é aumentar seu repertório para que elas elas tenham possibilidades de escolhas, e assim há esperança de uma memória viva do metal que acontece aqui e agora. Não há uma resposta pronta para solucionar o dilema econômico e representativo do metal no Brasil, mas questionar na internet o destino do dinheiro do público que não apoia novos artistas também pouco contribui. Minha ideia é furar um pouco a bolha dos moldes tradicionais dos espetáculos de metal, acessando também o público por outros meios.
– Mais uma vez obrigado pelo tempo cedido ao site Cultura em Peso. Agora o espaço é seu para as considerações finais.
Agradeço novamente ao espaço concedido, às pessoas que têm trabalhado comigo no backstage e, principalmente, ao público que vem demonstrando apoio. Convido todos a conferirem o recém-lançado videoclipe da música Deathstalker (The Last Hell Crusader) que pode ser conferido em meu canal no YouTube (YouTube.com/rickbarrosofficial) e a acompanharem meu trabalho pelo Instagram (Instagram.com/rickbarrosofficial). Forte abraço a todos e stay metal!!!