Primeiramente, gostaria de esclarecer as pessoas que estão lendo essa matéria, é que eu não sou nenhum profissional da área de comunicação. O principal motivo desse texto é defender o lado do Fabiano Penna (ex Rebaelliun, ex The Ordher, ex Andralls, ex Blessed) que infelizmente não está vivo para fazer isso por conta de uma reportagem mal elaborada sobre os acontecimentos que envolvem a prisão (por envolvimento com grupos neonazistas) de um ex-colega de banda do Fabiano.

A matéria em questão foi publicada pelo site Wikimetal¹ e o primeiro equivoco é colocar uma foto do Fábio Lentino algemado ao lado de uma foto do logo da banda The Ordher afirmando ser um símbolo neonazista (Cruz Celta). Essa atitude do site causa desinformação e a proliferação de notícias falsas: a montagem já pode ser vista em outros perfis em redes sociais². O segundo erro é citar trechos de uma entrevista que Fabiano Penna concedeu ao site Recife Metal Law, induzindo forçadamente o leitor a um contexto de vínculo ou simpatia com as práticas de seu ex-colega (agora presidiário).

Conforme dito pelo Maurício Weimar em live pública no seu perfil do Instagram³, o trio de Death Metal ‘The Ordher’ foi fundado em 2005, três anos após o fim do Rebaelliun (que voltaria as atividades em 2015), por iniciativa do Fabiano Penna, que era o responsável por todo conceito da banda, pelas letras e composições. Em 2020 o The Ordher voltou as atividades, desta vez comandado pelo Fábio Lentino, numa atitude desleal e oportunista, visto que a banda nunca foi um projeto idealizado pelo Lentino e que caso o Fabiano Penna estivesse vivo, jamais permitiria o retorno do grupo sob outras mãos.

Para os que não conheceram Fabiano Penna, ele foi guitarrista do Rebaelliun e também trabalhava com composição de trilhas sonora para filmes, séries, animações e curtas metragens. Em fevereiro de 2018, o Penna precocemente faleceu. Eu tive contato com ele de 2012 – quando acertei com ele a produção do primeiro álbum da minha banda (Pandemmy) – até início de 2018, pouco antes da sua morte. Serei taxativo: Fabiano não era conservador! Tampouco passava pano para um absurdo que é o Neonazismo.

Fabiano era progressista, estava preocupado com os rumos que o Brasil estava levando nos últimos anos de sua vida. Há relatos sobre a pessoa do Fabiano nos comentários da live do Maurício Weimar, de que inclusive ele estava idealizando criar um grupo no Whatsapp com pessoas progressistas da cena de Heavy Metal da região Sul do Brasil para debater sobre a guinada à extrema-direita que muitos integrantes dessa cena estavam tomando.

Faltou responsabilidade por parte do site Wikimetal ao publicar um trecho de uma entrevista de Fabiano dentro de um contexto que claramente não se encaixa com as práticas criminosas cometidas pelo Fábio Lentino. O símbolo do The Ordher representa um alvo, uma mira. Não vou negar que há uma semelhança entre o ‘O’ do The Ordher e o símbolo nazista chamado Cruz Celta. Porém, peço a vocês leitores que pesquisem no Google no campo Imagens, ‘mira de tiro’⁴ e em outra aba ‘cruz celta’⁵. São inquestionáveis as semelhanças. Mas se parecer não significa ser, de fato. Há outras similaridades da estética fascista em capas, logos e artes de bandas consagradas do Heavy Metal, porém não é comum ver acusações gratuitas com os membros dessas bandas.

É importante lembrar qual é o papel de uma mídia de imprensa, a mídia assumiu o papel de mediadora do conhecimento, já que está cada vez mais inserida no dia a dia das pessoas, desempenhando uma grande influência na sociedade, informações fornecidas por jornalistas e criadores de conteúdo ajudam os cidadãos a tomar decisões com base em informações, ela tem a obrigação de sempre trazer fonte confiável. E por uma série de questões, não pode ser leviana e ou omissa com a verdade. Não é papel da mídia dar opinião pessoal, não cabe a mídia conjecturar coisas e ou presumir fatos.

A situação se torna mais grave ainda quando se trata de uma pessoa que já não está entre nós, como é o caso de Penna e de alguém que poderia falar por ele que também não está mais entre nós, que é o Lohy Silveira (ativista antirracista e um dos idealizadores do Coletivo Preto no Metal). Indy Lopes, companheira em vida do Lohy, afirma que poucos homens são tão honrados quanto ele foi, e tem certeza que ele jamais iria se associar a alguém de índole duvidosa. “Lohy contava que inclusive o encerramento do The Orther por parte do Penna, foi por inúmeras divergências com Lentino. Após sua saída da banda ele deletou Lentino da sua vida por completo, a ponto de nem mesmo falar nele”.

 

Penna foi uma pessoa fundamental ao meio metal, era um homem de esquerda e não compactuava com ideias fascistas e dizer, insinuar, conjecturar que ele sabia e ou fazia parte de toda a doença do Fábio Lentino, beira a ser criminoso.

Por fim, escrevo estas linhas em tom de desabafo em nome de um amigo que não está vivo para se defender. Considero injusto, antiético e revoltante o contexto que o site expôs Fabiano Penna. Escrevo em memória e respeito à sua família, a sua ex-esposa, aos seus amigos, aos seus ex-companheiros de banda que não compactuam/compactuaram com a extrema-direita. Deixo registrado que não estou aqui querendo difamar ou cancelar o site Wikimetal, apenas peço aos veículos de imprensa especializada que procurem ser mais éticos e realistas com as vidas das pessoas, não podemos nos igualar a mídias que jogam Fake News nas redes como bem sabemos que ocorre.

Autor: Pedro Valença.
Coautora: Indy Lopes.

¹ https://www.wikimetal.com.br/vocalista-death-metal-preso-grupo-neonazista/
² https://www.instagram.com/p/CqoWyTmAEUW/
³ https://www.instagram.com/p/CqlRuJevqZH/
http://lnnk.in/gzd7
http://lnnk.in/aAlp

Ao momento da publicação desta matéria o site Wiki Metal já havia se corrigido da publicação inicial.

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Cremo
Sejam bem-vindos ao meu mundo onde a música é pesada, a arte visual é uma paixão e a tecnologia é uma busca incessante pela excelência. Sou um aficionado por Death, Thrash, Grind, Hardcore e Punk Rock, trilhando os ritmos intensos enquanto mergulho no universo da fotografia. Mas minha jornada não para por aí; como programador e analista de segurança cibernética, navego pelas correntes digitais, sempre sedento por conhecimento e habilidades aprimoradas em um campo em constante mutação. Fora do reino virtual, vibro intensamente com as cores do Boca Juniors, e meu tempo livre é uma mistura de leitura voraz, exploração de novos lugares e uma pitada de humor. Seja nas areias da praia, nas trilhas das montanhas, acampando sob as estrelas ou viajando para terras desconhecidas, estou sempre pronto para a próxima aventura. E claro, não há nada que eu ame mais do que arrancar um sorriso do rosto das pessoas com minhas piadas e brincadeiras. Junte-se a mim nesta jornada onde a música, a tecnologia, o esporte e o entretenimento se entrelaçam em uma sinfonia de diversão e descobertas. E lembrem-se: Hail Odin e um firme 'foda-se' ao fascismo e ao nazismo!