Final de tarde, céu fechado, neblina, muito frio. Ela chorava incondicionalmente, gritava. Descalça e sangrando, perdida entre árvores, cipós e trilhas, ela não via saída para a desgraça que o destino reservava…foi certo.
O inferno não durou pouco, a agonia foi profunda e prolongada. Entre berros, choro, dor e o orvalho das folhas misturado ao sangue, dilacerava-se pouco a pouco o corpo estremecido pelo medo. A morte chegou. Os convidados também. Começa a celebração Necromântica, o início da noite, o início da morte-viva. Entre volúpia, orgias e necrofagia, a lua de inverno assistia a cada detalhe. Um grupo de jovens alucinados, unidos por um laço mágico, físico e emocional, buscavam algo imaginavelmente supremo, desconhecido talvez…buscavam pela força que não tinham, que provavelmente iria salvá-los da vulnerabilidade humana, a maldita vulnerabilidade…
Foi uma noite alucinante, os ânimos estavam à flor da pele, algum ópio escondido na corrente sangüínea…o sol nasceu, estava radiante.
Mit era a mais nova de todos eles, tinha 17 anos, 1,63 de altura e não gostava de ter pêlos em seu corpo…sobrancelha, cabelos, pêlos do corpo inteiro…tudo era extraído por ela. Sua mãe achava que tinha problemas mentais, principalmente depois do dia em que viu ela se masturbando com a lâmina de barbear. Ela não ligava, era muito convicta em suas idéias. Convicta de que tinha acabado de assassinar brutalmente uma jovem de 15 anos num ritual psicopata, e não se arrependera disso. Seu irmão mais velho, Sid, junto com seus amigos, Soi e Oli, planejaram e executaram a captura da garota. Levaram-na para a floresta próxima à cidade e iniciaram suas atrocidades. Mit acompanhou cada passo desse episódio, maravilhada com o sabor e a essência da situação, de morte e loucura.
Ali, naquela manhã ensolarada, estavam os quatro jovens, convictos em sua crença baseada em vários estudos de ocultismo, mesclados às “viagens” de ópio e ácido lisérgico, que lhes proporcionavam a acreditada visão além do alcance da sabedoria humana…se sentiam magníficos por ver o que ninguém via. Acreditavam ter realmente alcançado o apogeu da vitalidade com aquele ritual, mas tudo rapidamente foi se desfazendo quando logo se sentiam ainda meros humanos no final de uma viagem química. Foi deprimente , e isso os abalou profundamente, logo que se via uma mera ilusão de uma crença sem fundamento.
Tudo terminou exatamente as 9:45 da manhã, com todos aqueles quatro jovens, saltando como carneirinhos o abismo no final da trilha da floresta, que terminava num rio, que agora banhava suas carcaças e se misturava ao sangue. Um belo suicídio coletivo.