A banda gaúcha Finita retorna com um lançamento arrebatador, trazendo “Quicksand” como mais um capítulo de sua trajetória no metal extremo. Unindo elementos de death e black metal com uma abordagem melódica e atmosférica, a faixa se revela como uma experiência sonora profunda, onde peso e emoção caminham lado a lado.
Desde os primeiros acordes, a música estabelece um clima denso e envolvente, com guitarras afiadas e uma bateria marcante que pavimentam o caminho para uma jornada musical intensa. A temática da faixa, inspirada na metáfora da areia movediça, reflete um amor proibido e avassalador, que prende e consome aqueles que ousam se entregar a ele. Esse conceito ganha ainda mais força quando associado à narrativa bíblica e mitológica que permeia a letra.
A performance vocal de Luana Palma é um dos grandes destaques da canção. Sua versatilidade permite que transite entre vocais limpos carregados de melancolia e guturais ferozes que traduzem a angústia e a força da história contada. Essa alternância cria uma dinâmica impressionante, intensificando as emoções transmitidas ao longo da música.
Na guitarra, Bruno Portela entrega riffs cortantes e solos carregados de feeling, enquanto o baixo de Fernando Back adiciona profundidade e peso à estrutura da faixa. Guilherme Pereira, nos teclados, contribui com camadas atmosféricas que expandem a grandiosidade da composição, evocando uma sensação cinematográfica. Já a bateria de Pablo “Pablijo” Castro sustenta a faixa com precisão e energia, conduzindo as mudanças rítmicas de forma impecável.
A produção da música é cristalina, permitindo que cada instrumento brilhe sem perder a densidade sonora que define a identidade da Finita. O clímax da faixa é especialmente impactante, com um crescendo instrumental que reflete a inevitabilidade do destino dos personagens retratados na canção.
Além da sonoridade poderosa, Quicksand ganha ainda mais força com seu videoclipe, que traduz visualmente a atmosfera sombria e envolvente da música. O vídeo complementa a experiência com uma estética marcante, reforçando a imersão na história contada pela banda.
Com esse lançamento, Finita reafirma seu lugar no cenário do metal extremo, mostrando que não apenas domina a brutalidade e a técnica do gênero, mas também sabe como contar histórias que transcendem o óbvio. Quicksand é um convite para se perder em um turbilhão de sentimentos – e se afundar neles sem medo.
Entrevista com Bruno Portela, Guitarrista da Finita
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Giovanni Maglia: A Finita sempre se destacou por sua abordagem conceitual e estética diferenciada dentro do metal extremo. “Quicksand” traz uma narrativa densa e metafórica. Como surgiu essa ideia e qual foi o processo de transformar esse conceito em música?
Bruno Portela: Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade e pelas excelentes questões. Aqui quem fala é o Bruno Portela (guitarra e composição) vou tomar a liberdade de responder e representar a banda. Quicksand é uma música diferente da maioria, pois é uma música divertida e traz uma letra cheia de sarcasmo ao mesmo tempo com metáforas profundas. O desafio foi equalizar a letra à construção rítmica e harmônica, mas o time é forte e a música está soando como imaginamos lá no início.
Giovanni Maglia: A relação entre amor, ilusão e tempo em “Quicksand” é complexa e filosófica. Como vocês enxergam essa interseção entre o que é humano e o que é divino dentro da história contada na música?
Bruno Portela: Excelente questão! O amor, a ilusão e o tempo estão sem dúvida conectados. Para estes três conceitos, não há limites. Um dos pilares da teologia cristã é o amor ilimitado de Maria. Mas nossa natureza é diferente, o amor é tão intenso que quando feridos, somos ilimitadamente rancorosos. Nesse sentido, enquanto Maria cuida, protege e chora a morte de seu filho, Lúcifer se quebra e se corrompe. Torna-se Satã, faceta que apresentamos nos trabalhos anteriores. O tempo aqui é uma chave importante, para Lúcifer, com sua natureza divina, o tempo nada era, mas Maria e Jesus eram mortais, logo, sua finitude era inescapável. Há uma ambiguidade interessante no verso final da letra: “time… my friend… is not!” Pode-se entender “o tempo não é meu amigo”, já que ele sempre traz a morte a tudo o que Lúcifer conhece, mas também “tempo não é”, uma vez que não existe para quem é divino.
Giovanni Maglia: Bruno Portela comentou que a trajetória do anjo caído na discografia da banda se aproxima do arquétipo de Jesus. Como vocês lidam com a interpretação do público, especialmente aqueles que podem ver isso como uma provocação religiosa?
Bruno Portela: Então, não ligamos. Pessoas boas que eventualmente possuem uma vida espiritual e religiosa geralmente são generosas na interpretação também. Mas o argumento importante aqui é o seguinte: a verdadeira arte te tira da zona de conforto. Michelangelo pintou corpos nus na capela sistina e isso foi um choque para os conservadores da época. Mas minha inspiração é outra: Jorge Luis Borges em um de seus contos chamado “As três faces de Judas”. aventa a possibilidade de Judas ter sido o verdadeiro filho de Deus enviado à terra. Pois se o filho de Deus realmente se fez “homem”, ele não poderia ser perfeito como Jesus. Ele tem que ter sido tocado pelo vício e pela dúvida humana. Ele amaria, mas odiaria também, teria pecado. Lembro de ter ficado maravilhado com a hipótese do conto, mas ali também tive o insight que respondeu uma dúvida interna antiga. Se Deus é sumamente bom, onipotente, onipresente e onisciente, como ele pode ter criado o mal? Afinal, ser onisciente é saber exatamente tudo o que aconteceu, acontece e vai acontecer. Não há espaço para a liberdade aqui. Uma vez que o mal está no mundo, a onipotência divina deveria intervir na direção do bem. Uma saída é tentar mostrar que o mal é fruto do livre-arbítrio, que é uma graça divina. Mas Lúcifer não é humano! Enfim, para dar uma solução racional e desatar alguns nós filosóficos essa inversão de papeis veio a calhar.
Giovanni Maglia: O novo álbum, Children of the Abyss, está previsto para 2025. “Quicksand” dá um vislumbre do que podemos esperar. Como esse single se encaixa no conceito geral do disco?
Bruno Portela: O álbum está muito dinâmico, portanto, é possível esperar músicas muito diversas. O que importa para a gente é manter uma identidade sonora e conceitual. No Children of the Abyss, a ideia geral é falar sobre as dissonâncias do mundo enquanto Lúcifer retorna aos céus. Seu retorno causa um abalo no mundo físico tornando falhas as leis que conhecemos. Seria possível, portanto, o retorno das bruxas, tema que também percorre parte significativa do álbum. A Quicksand fala sobre um dos lugares da terra onde uma dissonância semelhante podia ser sentida antes mesmo da saída de Lúcifer. Lugar diferente, onde esse ser divino sentiu como um humano, amou, foi criador e se corrompeu. A inspiração aqui é pitagórica, afinal, os pitagóricos estudavam a música e compreendiam que o cosmos poderia ser compreendido pelo número e pela harmonia. Mas vou parar por aqui, afinal, tem mais questões filosóficas pela frente hehehe
Giovanni Maglia: A banda sempre teve uma forte identidade visual e teatral em suas apresentações. Como foi o processo de criação do videoclipe de “Quicksand” para traduzir visualmente essa história tão rica?
Bruno Portela: Esse foi um trabalho em equipe muito forte. Os diretores Bianchi e Lemon nos apresentaram a ideia de um “faking-off macabro”, com uma ceia satânica. Aos poucos as ideias foram tomando forma e o próprio Bianchi sugeriu levar um bode para a gravação. Conseguimos a Vevéta, uma cabra querida, mas visualmente chocante e conceitualmente interessantíssima para o clipe. Enfim, achamos as ideias maravilhosas e começamos a trabalhar juntos nela. A Roberta Bianchi, que também nos acolheu no estúdio Fusão, nos ajudou muito na parte da ceia. Bom lembrar que ela cozinha bem demais e sempre que passamos uns dias lá, saímos mais pesados. Dessa vez, ela nos levou em diversos açougues e outros lugares para conseguirmos carcaças e frutas frescas para compor o cenário.
Giovanni Maglia: O clipe tem um aspecto cinematográfico e simbólico muito forte. Quais foram as principais referências visuais e narrativas utilizadas na construção desse material?
Bruno Portela:O aspecto cinematográfico vem da qualidade gigantesca do estúdio Fusão. Eles realmente trabalham com câmera de cinema e a direção do Thiago traz esse olhar. Ele mesmo é um dicionário de referências. Sobre os elementos simbólicos, há muita alusão à morte. A vida é uma força imparável. Para seguirmos vivendo, consumimos toda a vida que há ao nosso redor e a única diferença entre nós e qualquer ítem daquela mesa, é o tempo. Valioso tempo, valiosa vida, que paradoxalmente, só tem valor por ser finita. O que está retratado na caveira dourada central do nosso pequeno banquete.
Giovanni Maglia: Em termos de sonoridade, “Quicksand” traz elementos audaciosos e diferentes do que se espera do metal extremo tradicional. Como vocês equilibram inovação e fidelidade à identidade sonora da banda?
Bruno Portela: Essa música, apesar das reflexões que suscitam, fala sobre amor e sexo. Quando estamos falando sobre algo bom, temos que tentar trazer felicidade para a representação sonora também. Aliás, esse é um cuidado que temos desde sempre, se há algo a ser dito, deve ser dito em letra e música, sem contradições. O sexo não é herança de nossa natureza racional, não é um artifício divino ou um desejo unicamente humano: é o instinto voraz da criação que atravessa todos os seres. Por isso as mudanças de dinâmica na música fazendo menção ao furor, o anseio e certa animalidade que move nossos apetites.
Giovanni Maglia: A gravação e produção da faixa ficaram nas mãos de Thiago Bianchi, um nome respeitado no metal brasileiro. Como foi trabalhar com ele e qual foi a maior contribuição dele para o som da Finita?
Bruno Portela: Trabalhar com o Thiago foi sensacional. Ele tem muita experiência e conhecimento na área e não se importa em dividir. Desde o momento da pré-produção foi muito presente e nos deu dicas valiosas para a preparação dos sons. Na Quicksand, especificamente, a maior contribuição, além da excelente produção, é claro, foi nos trabalhos vocais. Teve um cuidado especial na gravação, mas também na criação das vozes de acompanhamento.
Giovanni Maglia: As orquestrações de Pablo Greg e Evandro Dörner adicionam uma atmosfera quase cinematográfica à música. Como vocês decidiram que essa abordagem seria essencial para “Quicksand”?
Bruno Portela: A abordagem de fato é cinematográfica pois a nossa referência não foi apenas metal sinfônico, como Dimmu Borgir e Septic Flesh, mas também o Hans Zimmer (trilhas de Batman do Nolan e Interestelar). A decisão foi interessante, tivemos conversas divertidas com o Greg sobre a proposta da banda, ele ouviu com cuidado e chegamos em um denominador comum. O interessante do processo é que foi feito música a música, então havia muito espaço para diálogo. Mas convenhamos, tivemos pouca coisa para adicionar, os caras trabalham muito bem.
Giovanni Maglia: O press release menciona que cada música da Finita tem um sentido singular, mas também faz parte de uma narrativa maior. Como vocês constroem essas histórias e conectam os álbuns entre si?
Bruno Portela: A narrativa principal existe há muito tempo. Cada música é um aspecto ou momento dessa história e está sempre vinculada a alguma questão filosófica, que muitas vezes é a principal mensagem a ser transmitida, mas está ancorada em uma metáfora ou uma parábola. Temos planos de publicar um pequeno livro com ela assim que possível. Para nos guiar e também ajudar o público a entender essas conexões, pensamos no conceito de universo. Os álbuns estão no mesmo universo, não necessariamente na mesma história. No single anterior, “Witch’s Laugh”, as bruxas estão ambientadas no mesmo universo em que Lúcifer retorna ao céu e tal interferência permite o retorno delas ao mundo dos vivos. Mas não é uma história conectada.
Giovanni Maglia: A Finita foi confirmada no Otacílio Rock Festival 2025, ao lado de bandas como Malefactor e Uganga. Como é tocar em festivais desse porte e o que o público pode esperar do show de vocês?
Bruno Portela: É uma emoção muito grande estar de volta a esse grande festival dividindo palco com bandas excelentes. Estamos ansiosos para conhecer Malefactor ao vivo e também rever a galera da Uganga e sua energia incomparável. Podemos dizer que a banda ganhou muitos amigos em Santa Catarina e quem nos abriu as portas foi o Ota. Da primeira vez tocamos, o show foi uma surpresa, pelo que percebemos. Esperamos conhecer muita gente nova e que a galera que nos conhece e nos aguarda possa curtir os sons novos e o show que estamos preparando com muito carinho.
Giovanni Maglia: A performance ao vivo da Finita é conhecida por sua teatralidade. Como vocês trabalham a experiência visual e cênica para que os shows tenham um impacto tão forte?
Bruno Portela: Ficamos muito felizes de ler isso. O show não é apenas música, mas um momento único de partilha. É arte sendo feita ao vivo para quem está presente. Aprendemos com grandes bandas do underground que não importa o lugar e as condições que se apresentam (infelizmente nem tudo é ideal), é preciso honrar o público que vai prestigiar os eventos e também celebrar a arte como um todo. Sobre a teatralidade, particularmente, não foi algo pensado e traçado anteriormente, mas fruto de um desenvolvimento natural da banda. Lentamente fomos testando e incorporando elementos que contribuem para essa identidade. E que sigamos aprendendo e amadurecendo cada vez mais, tem sido divertido.
Giovanni Maglia: Desde 2010, a Finita vem evoluindo artisticamente. Como vocês enxergam essa jornada? O que mudou na abordagem musical e conceitual da banda ao longo dos anos?
Bruno Portela: Muita coisa mudou, sem dúvida. Certamente todos mudamos e evoluímos. No início éramos jovens tentando compor e fazendo um grande esforço para achar um lugar para tocar. Tínhamos influências mais melódicas, mas desde o primeiro som gravado já apresentamos dinâmicas com guturais e tensão musical. Esses anos nos brindaram com muito aprendizado, em especial com as bandas mais antigas que sempre nos ensinaram muito, com as produções, gravações e o feedback da mídia especializada. Sobre o que mudou, dá para dizer que nosso som está mais denso e encaixado. E conceitualmente sentimos muito mais liberdade para tocar em temas sensíveis, o que é visível inclusive nos últimos clipes.
Giovanni Maglia: O metal extremo muitas vezes explora temas como ocultismo, filosofia e mitologia. Como a Finita escolhe os temas para cada álbum e como eles refletem o que vocês vivem e sentem?
Bruno Portela: As temáticas dos álbuns estão ancoradas nas letras e as letras possuem uma base filosófica. Dessa forma, geralmente eu (Portela) me encarrego da parte conceitual, enquanto a temática é abordada em conjunto. Há muito diálogo sobre a intenção da letra, das motivações e do direcionamento musical, afinal, são temas de interesse de todos nós e os vivenciamos individualmente ao mesmo tempo que expressamos em conjunto uma perspectiva consensual. Apesar de termos uma banda uníssona em relação à defesa da ciência e do conhecimento em geral, há algo fascinante naquilo que se oculta. E a arte é capaz de desvelar algo desse universo que nos escapa.
Giovanni Maglia: O público de metal no Brasil é muito apaixonado, mas o underground ainda enfrenta dificuldades para crescer. Como vocês enxergam a cena do metal extremo nacional hoje?
Bruno Portela: Acho que a cena do metal extremo enfrenta as mazelas do terceiro mundo. Vivemos em um país (num mundo, na verdade) em que a arte não é valorizada como deveria e quase ninguém consegue viver disso. No final, quem faz o “corre” do underground precisa ter duas jornadas de trabalho e isso é um grande desafio. Do outro lado, temos um público que também não tem dinheiro para ir em todos os shows e apoiar como gostaria. Para crescer, precisa de mais cooperação entre todas as partes, valorizar quem trabalha na cena e entender que funcionamos como um organismo.
Giovanni Maglia: Vocês já dividiram o palco com grandes nomes como Abbath, Crypta e Dorsal Atlântica. Existe alguma banda com quem ainda sonham em tocar?
Bruno Portela: Sem dúvidas existem muitas bandas com as quais gostaríamos de dividir o palco, acho que cada membro tem seus ídolos. Mas para não deixar de responder, e lembrando que sonhamos sempre alto, nomes como Arch Enemy, Behemoth, Dimmu Borgir, Fleshgod Apocalypse, Epica, Nervosa, Sepultura (em um possível retorno aos palcos).
Giovanni Maglia: A capa de “Quicksand” foi feita por Carlos Fides, um artista visual renomado. Como foi o processo de criação da arte e como ela se conecta com a mensagem da música?
Bruno Portela: Estamos utilizando a capa do álbum para os singles considerando a identidade geral desse projeto. A arte foi a expressão de como o Fides compreendeu o conceito do nosso trabalho atual e gostamos muito do resultado. Ela traz a nossa versão da Deusa primordial do Caos. A inspiração aqui é o próprio deus grego Caos, considerado originário e pai de Nix (noite) e Erebó (escuridão). Conecta-se com o conceito do álbum da seguinte maneira: A mentalidade ocidental focada na razão e na ciência, uma herança da modernidade, só consegue compreender o universo a partir de suas regras, mas algo se perde aí. Cabe à arte explorar essas lacunas que a razão não acessa. Toda vez que as regras caem e a razão não mais tem lugar, é o momento de interagir com esse universo dissonante.
Giovanni Maglia: A estética sombria e atmosférica da Finita é um de seus maiores diferenciais. Como vocês trabalham os visuais da banda para que eles complementem o conceito sonoro?
Bruno Portela: É fruto de um amadurecimento do que hoje compreendemos como nosso papel artístico. Gostamos de viver cada ato e criar a atmosfera necessária para dividir essa conexão com o público. É como vestir-se para uma ocasião importante. Estamos sempre tentando tornar esse universo que musicamos mais visível para o mundo.
Giovanni Maglia: Santa Maria tem uma cena underground forte. Como é fazer metal extremo no interior do Rio Grande do Sul e como isso influenciou a identidade da Finita?
Bruno Portela: Santa Maria segue a lógica do sul, que é valorizar o som extremo. Sem dúvida isso influenciou muito a nossa história dentro do underground. Bandas de grande expressão do metal extremo como Krisiun e Sepultura passaram por aqui e deixaram sua marca. De Santa Maria mesmo temos uma referência no doom metal, a Serpent Rise, considerada uma das pioneiras. Mas para ser honesto, essa também foi uma das dificuldades no início, como a Finita sempre dialogou com outros estilos e buscou explorar sem muito receio o vocal feminino, as teclas e guitarras limpas, tivemos muita dificuldade de conseguir shows e fazer parte dos festivais, éramos muito leves para os extremos e muito pesados para os tradicionais. Enfim, deu tudo certo e depois de algumas oportunidades encontramos muita gente que também buscava algo novo.
Giovanni Maglia: O novo álbum será lançado em 2025. Como está o processo de finalização e o que podem adiantar sobre ele para os fãs?
Bruno Portela: O som está pronto, a arte está pronta. É uma alegria gigante dar um gostinho do que vem por aí com os singles já lançados, podemos antecipar que é um trabalho pensado do início ao fim e os singles não são necessariamente os melhores sons do álbum, mas ganharam versões em clipe por questões conceituais. A Gates of Oblivion por mostrar a base filosófica do álbum, a Witch’s Laugh foi lançada no Halloween e traz uma temática a ser explorada em outros sons e por fim a Quicksand, que conecta com os trabalhos anteriores e mostra algo que também faz parte da nossa identidade que é o sarcasmo e impulso dionisíaco que por vezes nos domina.
Giovanni Maglia: A relação entre caos e beleza é muito presente na discografia de vocês. Vocês acham que essa dualidade é a essência do som da Finita?
Bruno Portela: Essa dualidade nos define! Vou antecipar aqui o nome de um dos sons onde esse conceito vai ser explorado ao máximo: “Goddess of Disharmony”, um dos meus sons preferidos do novo álbum. Será uma boa surpresa, acredito.
Giovanni Maglia: Se tivessem que definir Children of the Abyss em uma única frase, qual seria?
Bruno Portela: “When you look into the abyss, we look back”.
Giovanni Maglia: O que “Quicksand” representa para vocês, tanto como músicos quanto pessoalmente?
Bruno Portela: A Quicksand é um som ao mesmo tempo divertido, sarcástico e com reflexões profundas. Ela de fato representa muito do que somos. Vivenciamos uma infinidade de complexidades morais e existenciais todos os dias. A vida não é como gostaríamos e nem tudo está sob nosso controle. Enquanto equilibramos desejos, crenças, razão, sentimentos, trabalho, família, arte e outras dimensões da vida diária, temos uma sombra cada vez mais presente que é a passagem do tempo. Há uma contagem regressiva, um “tique-taque” que vai se tornando mais alto. Paradoxalmente através da arte, tentamos deixar nosso legado e tornar nossa marca aqui eterna.
Giovanni Maglia: Para encerrar, qual mensagem vocês gostariam de deixar para os fãs que acompanham essa jornada intensa e imersiva da Finita?
Bruno Portela: Somos muito gratos a vocês, lindezas! Todo nosso esforço e dedicação valem a pena quando sentimos essa presença massiva de gente que torce e vive esse sonho com a gente. Todos os novos passos que as bandas como a Finita dão, são um passo que a cena dá. Essa caminhada não existe sem vocês! A arte é definida por essa conexão e só faz sentido se estamos juntos. Espalhem a palavra!