Nos passados ​​dias 11 e 12 de Novembro , contamos com o tão aguardado regresso dos Evergrey aos palcos portugueses, cortesia de Free Music Events. Foram duas noites intensas, emotivas e inesquecíveis!

Evergrey, por @catiasousacts

Depois do lançamento de Theories of Emptiness em Junho deste ano, foi a Free Music Events a promotora portuguesa que possibilitou o regresso dos Suecos a palcos portugueses após demasiados anos afastados. Este regresso esteve agendado para duas datas, 11 e 12 de Novembro , em Lisboa e Porto , respetivamente, sendo que a cobertura da  Cultura em Peso foi realizada na segunda data, no Hard Club , na cidade invicta.

A espera foi muito longa e até os próprios membros da banda o consideram. Portanto, depois deste concerto inesquecível, esperemos que a próxima não o seja pois estes Suecos , a cada trabalho apresentado, conseguem conquistar mais e novos fãs.

A abertura das hostilidades esteve ao cargo de Virtual Symmetry e KLOGR.

VIRTUAL SYMMETRY

Os suíços Virtual Symmetry tinham a árdua tarefa de aquecer uma noite de outono de uma terça-feira no Hard Club , numa sala que, infelizmente, ainda se encontrava um pouco vazia, e ainda para mais, abrir para o concerto de Evergrey – a responsabilidade era muita!

Virtual Symmetry, por @catiasousacts

O que não parecia fácil, tornou-se uma lição de humildade, e acima de tudo, de qualidade composicional e técnica destes senhores. Com um Prog / Power Metal de características jubilares, foi com mestria que aqueceram aquela sala. Conseguiram sacar muito rapidamente gritos e aplausos de um público que, possivelmente, ainda não os conhecia tão bem.

Virtual Symmetry, por @catiasousacts

Tanto pela presença no palco dos seus membros, como pela própria felicidade transmitida pelos mesmos elementos, conquistaram os presentes muito rapidamente. Sempre de sorriso na cara e tendo noção do dia da semana que era, uma terça feira de trabalho para a maioria dos presentes provavelmente, agradeceram a presença de todos. Mas quem tem de agradecer somos nós por tão bela atuação.

Apesar de terem tocado apenas 5 músicas, mostraram enorme técnica. Destaque para os intensos vibratos do vocalista Marco Pastorino que, com uma versatilidade enorme, consegue prolongar de forma tão relaxada tantas notas. Destaque também para os fantásticos solos de guitarra de Valerio Villa , com bastante progressismo, como foi tão bem refletido no tema ” The Paradise Of Lies “, por exemplo.

Virtual Symmetry, por @catiasousacts

Intensificaram ainda mais o fator surpresa quando o teclista Ruben Paganelli pega e toca oboé na parte inicial de uma música e dá à performance um toque jazzístico . Ainda mostrou também o seu lado mais emotivo com uma balada bem orelhuda, onde reforçam ainda mais a grande qualidade a criar melodias que ficam rapidamente no ouvido, apesar de terem riffs mais pesados, mas sempre com linhas de teclados muito “catchy“.

Terminaram com o tema ” Come Alive ” onde deram a machada final naquele público, e toda a gente se submeteu à sua qualidade. Uma sala que começou um pouco vazia, mas durante a sua atuação ficou bem composta para a alegria de todos. Penso que poucos dos presentes conheciam bem Virtual Symmetry, mas toda a gente ficou fascinada com a sua qualidade e o seu espírito como banda, e certamente é um grupo que dificilmente sairá do nosso radar.

Virtual Symmetry, por @catiasousacts

Setlist: 1- Heart’s Resonance, 2- Canvas of Souls, 3- The Paradise of Lies, 4- Exodus, 5- Come Alive.

De seguida entram em palco os ítalo-americanos KLOGR com notória preocupação em ter presença de palco, com ecrãs alegóricos, bandeiras e go-pros para gravarem a atuação.

KLOGR

20h55 em ponto, nem mais nem menos um segundo, começa a música introdutória da atuação de KLOGR , com um clipe estranho e assustador a correr nos ecrãs do palco, que mostram logo uma imagem de uma espécie de Pennywise feminina. Em termos visuais este grupo era fantástico, tanto pela “pinta” dos membros, especialmente do vocalista Gabriele Rustichelli , como pelos vídeos que passavam no fundo e ainda o trabalho de luzes. Tudo junto, criava um ambiente incrível.

KLOGR, por @catiasousacts

Estes Americanos  de origens italianas apresentaram-nos um metal moderno  com toques  progressivos e bastante energético, mas também com um traço emocional que faz lembrar um pouco os próprios  Evergrey.

KLOGR  (que se pronuncia Key-Log-Are) despertaram todo o meu interesse bem antes desta atuação, pois são uma banda de  rock/metal alternativo  que cruza fronteiras com o  progressivo  e o  melódico. Este grupo teve uma ascensão selvagem ao topo do gênero escolhido. Riffs contundentes que saúdam o ouvinte enquanto os temas se desenvolvem no estilo típico KLOGR , carregado de rosto e atitude. Gabriele Rustichelli (vocalista) apresentou-se com um estilo vocal amplo, passando sem esforço do limpo ao rouco e ao berrado, com notas de ambos os mundos: metalcore e death metal .  

Os trabalhos deste grupo, em especial o mais recente álbum Fractured Realities que foi o foco deste concerto, mostram um lado muito versátil, onde é possível ver sempre algo diferente em cada tema. A banda amadureceu e cresceu desde seu penúltimo lançamento Keystone (2017) e não tem medo de expandir seus limites musicais, e isso é algo que deve ser sempre valorizado.

KLOGR, por @catiasousacts

Estes americanos criaram um metal alternativo , com momentos à TOOL, mas mais radio friendly , diria. Isto, apesar de meterem muito peso nas músicas. São muito fortes nos momentos mais envolventes e até em alguns momentos à nu metal dos anos 90. São sofisticados, mas sem entrar em exageros, e apesar de manterem tudo não muito complexo em termos de composição, fazem-no com mestria, pois nunca se tornam aborrecidos, até porque sabem bem usar essa simplicidade para fazer bons refrões e bons riffs.

Ainda se deve ressaltar que o baterista que atuou com KLOGR, foi o baterista de Virtual Symmetry , Andrea Gianangeli , que teve de aprender tudo numa noite, pois o atual baterista dos americanos teve problemas pessoais que o impediram de atuar naquela noite. Mas honestamente, com tanta segurança e com tudo a correr tão bem, quem diria que aquele baterista não era o da banda? Incrível.

KLOGR, por @catiasousacts

A certo momento, Gabriele Rustichelli (vocalista) questiona “Temos uma nova família em Portugal?”. Se antes não tinham, depois desta atuação, certamente que sim! Tal como o mesmo disse durante o concerto, a sua mãe só fica descansada quando está em tour se ele estiver em família. Refletiu-se num momento engraçado entre banda e público em que todos terminaram a rir.

KLOGR, por @catiasousacts

Os KLOGR tiveram uma apresentação estrondosa neste concerto. Terminaram esta atuação com um tema que devo destacar – The Twisted Art ” – que abre com um riff funky que percorre toda a faixa, mas onde também está presente um groove matador. Este tema é, na minha opinião, um dos melhores do último trabalho de KLOGR e por isso foi uma excelente opção para terminar o alinhamento.

No entanto, ficou no ar a sensação de que o público queria um espetáculo mais longo… Quem sabe se em breve teremos uma nova oportunidade de os ver novamente em Portugal. Espero que sim!

EVERGREY

E para encerrar a noite, o que todos estavam à espera, os suecos Evergrey com uma setlist a roçar na perfeição. Digo apenas “a roçar” pois seria impossível incluir todos os grandes êxitos dos Evergrey num alinhamento que não ultrapassasse as três horas.

Evergrey, por @catiasousacts

Uma pequena introdução iniciou, com uma contagem decrescente até o momento do concerto arrancar, o que só elevou ainda mais os níveis de ansiedade do público. Essa contagem decrescente foi berrada por todos os presentes na sala, criando um momento muito íntimo e intenso. Mal a contagem decrescente chega ao fim e os elementos aparecem no palco, houve uma explosão de energia naquela sala. Tenho a dizer que resultou de forma estratégica, pois logo aos primeiros acordes de ” Falling From The Sun ” o público ficou literalmente louco com um headbanging sincronizado.

É do equilíbrio entre o peso e a melodia, o complexo e a simplicidade que os Evergrey fazem as suas maiores forças, nunca esquecendo que a maiores dessas forças é a emotividade com que atingem o ouvinte e deixam bem cravada a mensagem no coração e na mente do mesmo . Se em álbum já o conseguem fazer, então ao vivo nem é possível descrever.

Evergrey, por @catiasousacts

Tom Englund e companhia apresentaram-se claramente dedicados e com “ganas” de “rebentar” com a sala 2 do Hard Club naquela noite. Sempre energéticos, envolventes e a puxar pelo público, e este respondeu com cantos em uníssono em praticamente todas as músicas. Mas não dá para não o fazer com refrões tão belos, tão cantáveis ​​e acima de tudo cativantes pelo poder dramático com que são expressos.

Evergrey, por @catiasousacts

Não dá de todo para dar ênfase a nenhuma música em concreto pois foi vitória atrás de vitória, tanto em músicas mais poderosas como ” Midwinter Call “, ” One Heart ” ou ” Save Us “, como nas mais “harsh” como ” Eternal Nocturnal ” ou “ Weightless ”, ou até mesmo as mais emotivas como “ Distance ”, “ Call Out The Dark ” ou “ King Of Erros ”. Todas as vertentes foram igualmente bem recebidas pelo público e a paixão com que foram cantadas e sentidas foi reciproca. Basicamente, as músicas tocaram-nos na alma e no coração e isso foi demonstrado pela forma apaixonada com que o público português recebeu os Suecos.

A forma como o setlist foi organizada foi, na minha opinião, uma jogada de mestre. Começaram com dois dos grandes sucessos do trabalho mais recente Theories Of Emptiness, seguindo-se Midwinter Calls “, que é um tema no mínimo viciante do penúltimo trabalho dos Suecos A Heartless Portrait (The Orphean Testament) (2022), que infelizmente não tivemos oportunidade de testemunhar ao vivo após a sua saída, mas felizmente tivemos agora neste regresso de Evergrey aos palcos portugueses. Seguem-se temas que rodam entre os anos de 2016 e 2024, e portanto ainda se encontram mais vivos na mente dos fãs.

Evergrey, por @catiasousacts
Evergrey, por @catiasousacts

Mas o momento mais emotivo de todos, diria eu, veio após o encore , quando a viagem a 2004 inicia com o tema ” A Touch Of Blessing ” do álbum “The Inner Circle” (2004). Durante esta pausa e antes da música começar, não houve nem um segundo de silêncio, pois a vontade era tanta de continuar aquele concerto que até nos esquecíamos que estava a chegar ao fim. ” A Touch Of Blessing ” serviu como uma viagem pela carreira de 30 anos dos Suecos. As imagens que corriam no fundo do palco eram precisamente dos membros da banda ao longo dos anos. O resultado foi, no mínimo, emotivo.

Seguiu-se ” King Of Erros” , a única faixa de Hymns for the Broken (2014), permitindo deliciar os fãs mais duradouros de Evergrey e por fim, mais uma execução de mestre, ” Our Way Through Silence ” do último álbum da banda . Este tema começa com uma melodia de teclados tão bela, com acompanhamento ligeiro de guitarra até apenas a voz de Tom com o piano de fundo se ouvirem. Durante a música temos vários momentos destes, contemplativos de harmonia perfeita entre a voz e o piano. O refrão é arrepiante, tão emocionante que os mais sensíveis sentiram a lágrima no canto do olho. Este tema tem o peso de Evergrey mas com um toque mais ligeiro que facilmente poderia levar os Suecos às rádios ou até mesmo a representar o seu país num festival como a Eurovisão. Se eu comecei por dizer que a maior força destes senhores era a emotividade que passavam, agora reforço mais uma vez. Com este tema e encerrar o concerto, foi a mensagem passada oficialmente.

Evergrey, por @catiasousacts

A tudo isto, ainda se juntou uma grande dose de humor, alguma cerveja derramada num pequenino acidente durante a atuação por parte de Henrik Danhage resultando num momento engraçado, e uma enorme simpatia e vontade de estar ali, naquela terça-feira, a atuar para o público português. Deram tudo deles mesmos e isso notou-se do início ao fim do concerto. Deixaram-nos de coração cheio e sinceramente, penso que o deles também ficou.

Obrigada Evergrey e que voltem rápido. Os fãs portugueses torcem para que a próxima espera não seja tão longa quanto esta. E obrigada Free Music Events por terem terminado este longo período que separou Portugal dos Suecos.

Facebook - Comente, participe. Lembre-se você é responsável pelo que diz.