São Leopoldo foi o palco de mais uma das diversas comemorações dos 40 anos do Punk Rock.
Domingo dia 22 de outubro na Embaixada do Rock – R. Presidente Roosevelt, 806 , centro do underground de São Leopoldo, liderado por Adriano Mussi da Produtora Som de Peso, aconteceu uma verdadeira festa punk. Uma programação impecável, a presença de quatro Bandas e, encerrando o evento nada mais nada menos que Os Invasores de Cérebros.
A Banda PUNKZILLA formada por Francis Fussiger no vocal, Luciano Santana e Diego Aires nas guitarras, Fábio Cavali no baixo e Gabriel Ribeiro na bateria, foi eleita para iniciar as comemorações. Ainda que seja uma Banda nova na cena, pois iniciaram em 2014, sabem muito bem o que é ser underground e punk. Entre uma música e outra a Banda passou vários recados, lembrando apropriadamente que a cena quem faz somos nós e, conforme disse Francis “quando tu quer tu vai e faz “, “nunca tivemos problema de tocar em qualquer lugar que fosse, tocamos até na rua mesmo”.
A temática da Punkzilla, como não poderia deixar de ser, cumpriu a risca a esteira da critica política, lembrando valores esquecidos, alertando que a “desonestidade é um mal com o qual todos nós sofremos” e que precisamos de mais humanidade. Ainda com uma pegada crítica, mas muito mais irônica, apresentaram a música Pau de Selfie e nessa até o produtor Adriano Mussi se largou na dancinha. Seguindo o show, teve CD para o público e um som homenageando Os Replicantes, um som, que, conforme anunciou a Banda, não é um cover, não é uma tentativa de fazer um som igual, é um som inspirado nos Replicantes, mas com uma pegada autoral.
Se encaminhando para o final a Punkzilla, na música Peladão, criticaram o episódio recentemente ocorrido no Museu de Arte Moderna em São Paulo com a performance de um homem nu. Chegando à penúltima música e favorita, ao menos do vocalista, pois assim ele se manifestou trouxeram o tema do Natal, encerrando o setlist com o Deus Dinheiro. Foi com certeza uma apresentação memorável estando de parabéns a Banda, pela dedicação e engajamento na cultura punk.
Na sequência subiu ao palco a Banda ESTIVE RAIVOSO, desde 2006 na cena com três EPs gravados, presentearam o público com o último EP de 2016 – Estive Goes to Punk, que contém as músicas: Café, As Aventuras do Sujeito Crítico e Hakim Bey mais Bonus Track.
O evento iniciou muito bom e com certeza, a sequência não desapontou, no sentido literal, seguindo ideologicamente uma cultura punk rock ao extremo. Renato Levin (Guitarra e vocal), Leandro Isoton (Baixo) e Diego Colvin (bateria) aportaram com suas bandeiras anti-homofobica e anti-fascista e FORA TEMER, firmando as bandeiras e a conduta da Banda de imediato e bem na frente do palco. Postura determinada de reação ao sistema e às condições político-sociais e econômicas do nosso País. Caíram de pau no governo municipal, estadual, no MBL e por ai afora. Super engajados inclusive, o vocal é professor e está em greve. A Banda faz parte também da coletânea Um Futuro a Temer, que conta com 29 bandas Brasileiras e também da Argentina.
Sem sombra de dúvida a temática da Banda Estive Raivoso extrapola problemas brasileiros, vai além do nosso território e com um setlist inteligente e condizente com a proposta de resistência questionaram as adversidades humanas “Levantemos nossas cabeças. Logo vai acontecer. O destino está em nossas mãos .Lutemos pelo amanhecer” : iniciaram com a música Daqui para lugar nenhum, Dogville, Corrida Cega, Deus está Morto, Knowledge , Café, Bella Ciao, As aventuras do Sujeito Critico, A Pele, Vida Não Fascista, Varsóvia 43. Um puta show pela liberdade e resistência.
Na continuação entrou PUPILAS DILATADAS, essa bem das antigas, de Porto Alegre – RS. Extremamente atuante na cena do punk rock gaúcho, marcando presença também fora do Estado. Felipe Messa na guitarra e vocal, Rogério Bittencourt na bateria e apoiando no vocal e Veri D’Avila no baixo. Fizeram um show sentindo-se em casa e estabeleceram um diálogo perfeito com público e com a proposta do Fest.
Por fim, arrebentando o palco da Embaixada com uma roda punk bonita de ver, botando todo mundo para quebrar os ossos, entrou a esperada Banda Paulista, INVASORES DE CÉREBROS, pela primeira vez pisando no templo underground de São Leopoldo – RS – Embaixada do Rock.
Sobre o show da Invasores de Cérebros, além de fantástico foi inusitado na proposta de solução pra um imprevisto enfrentado pela Banda. Na falta do baterista Filipe, que atualmente está em tour pela Europa com um projeto paralelo convidaram três bateristas da cena gaúcha, os quais fizeram bonito ao se unirem à Banda nessa apresentação. O primeiro batera a entrar no palco foi o Nenê da Banda Atritos, o segundo foi Cássio Quines das Bandas El Diablo e Troll e o terceiro foi Rodrigo Sauro da Conduta Destrutiva e Para-Raio da Desgraça, dividiram o seguinte setlist: Noites quentes da Cidade, Injustiça Social, Cedo ou tarde, Anti Militar, A Conspiração, Não se entregue, Armas – Bombas Nucleares, EZLN, Desespero, Rato Patrulha, Bonesco de Tiro ao Alvo, Realidade, Peste, Fome, Guerra e Morte, Cobaias, Guerra nas Ruas, Sangue de Crianças, Ódio, Direito à preguiça, São Paulo, Porra de Vida, Admirável Mundo Novo, Iwanna Be your Dog, Turma da Carolina, Desequilíbrio. Com uma humildade de dar inveja agradeceram de coração aos três bateristas engajados no projeto.
Ariel Uliana liderando Popó na guitarra, Denis no baixo e os três bateristas Nenê, Cássio e Sauro, deu uma verdadeira aula de Punk Rock, conforme lembrou Adriano Mussi, produtor do evento. Foi sem dúvida uma comemoração super especial da Banda, pois além de comemorarem com a galera gaúcha os 40 nos do Punk, fazem 29 anos de estrada nesse ano de 2016. Não pouparam fôlego e destilaram toda uma critica social e política.
Fui buscar com Adriano Mussi uma primeira e breve impressão do show e, repasso aqui na íntegra as palavras de quem estava emocionado de verdade e não se conteve, subiu no palco cantou junto: “O que dá pra dizer assim, rapidinho, é que a visita dos Invasores, com metade da formação original (além de Ariel, o guitarrista Popó também é fundador da banda) foi uma verdadeira aula, pra lembrar os preceitos e os fundamentos do punk rock. Preceitos que tratam de discurso politizado, organização social e, acima de tudo, liberdade. E fundamentos que estão na guitarra distorcida, na simplicidade objetiva das letras, na rudeza do som e na agressividade sonora do conjunto. Ali, naquele show dos Invasores, tinha tudo isso. E muito mais.”
Além de toda essa rebeldia presente, não faltou um discurso forte de critica à nossa sociedade, ao marasmo e à situação política na qual estamos envolvidos.
Infelizmente, se fez necessário um discurso de reconhecimento e homenagem ao um dos integrantes da Banda falecido em 2016, Zorro, baixista e também um dos fundadores da Banda, a qual hoje conta com o Denis Marsola no Baixo.
Enfim, um evento realizado com muita competência, organizado, punk ao extremo, um público ainda que não muito numeroso, pois infelizmente a galera não responde ao comprometimento dos produtores, não correspondem a todo o esforço de quem faz um som próprio, e estão sempre na batalha diária que é permanecer fazendo música autoral, de qualidade, e não se entregar ao sistema. Os poucos que vão são a verdadeira resistência, e estão de parabéns. Queremos cada vez mais punk rock com certeza.