King Crimson: Larks’ Tongues in Aspic – 50 anos Capa do disco

Lançado neste dia em 1973, Lark’s Tongues in Aspic do King Crimson completa 50 anos. Quinto disco da banda, contava com a clássica formação: David Cross, Robert Fripp, John Wetton, Bill Bruford e Jamie Muir. Álbum de estréia com essa formação.  

King Crimson no Beat Club (1972).

Esse disco é um dos três mais fantásticos do rock progressivo em minha opinião (sendo os outros dois Wish You Were Here do Pink Floyd e Close to the Edge do Yes), não economiza nem um pouco no experimentalismo e excentricidade, bem como no peso e energia das músicas. É álbum que quebra padrões o tempo inteiro e nesse artigo de opinião comemorativo eu vou explicar melhor por quê.  

Primeiro, temos que olhar um pouco para o rock progressivo propriamente dito. Por volta de 1969, bandas como King Crimson e Pink Floyd faziam um tipo de música tão diferente que acabaram por ser enfiados nesse rótulo inventado junto com a música. Era um movimento de zero pretensão, eles não curtiam essa alcunha. Diferente de hoje que temos mais de 50 anos de progressivo e existem diversos músicos aspirantes que fazem questão de serem chamados assim. 

King Crimson no Beat Club (1972).

O gênero na verdade é muito subjetivo até hoje, mas teve origem com bandas que estavam misturando gêneros musicais. Pink Floyd misturava Blues com Rock, King Crimson e Jethro Tull misturavam Jazz com Rock e com o tempo, qualquer banda que soava mais profunda ou com a mínima pretensão “intelectual” já caía no gênero. 

Esse é o primeiro ponto que chama a atenção de Larks’ Tongues in Aspic, a fusão de gêneros característica da banda. De Jazz a Heavy Metal, o álbum surpreende o ouvinte médio a cada minuto de música. Veja, estamos falando de uma banda de mais de 50 anos, que toca de terno e gravata nos shows hoje em dia. Muitas pessoas provavelmente não conhecem a banda e possivelmente até colocam no estereótipo de “música de velho” e coisa do gênero. Até hoje, eu imagino como é apresentar esse álbum para uma pessoa com essa visão. O disco começa com uns 3 minutos de introdução super introspectivos e depois começa com o jazz logo antes de um riff de heavy metal que entra queimando tudo. Entre o Jazz/Fusion e o Avant-Garde Metal, muita gente nem imagina que tanta coisa diferente pode ser misturada junto, ainda mais se tratado de algo antigo. Foi isso que me referi sobre a quebra de padrões.

David Cross com a banda se apresentado no Beat Club (1972).

Larks’ Tongues in Aspic é um exemplo clássico de álbuns “biscoito recheado”. Conta com 6 músicas, sendo a primeira e última, a faixa autointitulada (parte 1 e 2). Similar a Wish You Were Here e Animals do Pink Floyd por exemplo e até The Sky Moves Sideways do Porcupine Tree. O primeiro vocal chega em cerca de 14 minutos de tempo, na faixa Book of Saturday. O disco conta com passagens relativamente assobiáveis e sutis. Embora sempre se fale que King Crimson se trata de melodias feitas completamente a esmo, você se acostuma com as passagens mais complicadas quando se habitua a ouvir. E sim, existem faixas maravilhosas de ouvir além do instrumental excêntrico e frenético. King Crimson é uma banda que se odeia ou não se entende nas primeiras ouvidas e que cresce em cada um ao longo dos anos.  

Eu não entendi absolutamente nada do que a banda se propunha a fazer quando ouvi In the Court of the King Crimson (o que dizem ter sido o primeiro álbum progressivo da história) a primeira vez. Isso por volta de 2012, eu tinha 14 anos. Mas ainda assim, sempre ouvia este, Red e Discipline repetidas vezes. Em 2019, os vi no Rock in Rio, e refrescou minha memória e nostalgia, comecei a ouvi-los com muita frequência e as músicas que havia ouvido por 8 anos começaram a fazer mais sentido no meio de toda a bagunça e ficaram mais marcadas em minha cabeça, fazendo eu me apaixonar pela banda quase uma década mais tarde. 

King Crimson no Rock in Rio (2019).

Conheço amigos e familiares entendidos de música que não gostam ou não ligam para King Crimson. Eu aconselho muito a continuar tentando. King Crimson é uma banda clássica de altíssimo nível técnico e de muita criatividade. Muitas pessoas têm que deixar o orgulho de lado e ouvir mais King Crimson em vez de ficar impacientes diante de toda a estranheza, se não gostar mesmo assim, pelo menos não foi por falta de tentativa. Neste 23 de março, quero brindar a criatividade e experimentalismo. Sem o Avant-Garde artístico, seja na música, cinema, artes plásticas ou que seja, não se abriria um leque de maior diversidade cultural ao longo da história em um mundo onde, infelizmente, os gostos são muito homogêneos. King Crimson foi uma das bandas que mostraram tudo que se pode fazer com instrumentos musicais como se estes fossem beckers e tubos de ensaio em laboratórios e isso, na minha percepção, é muito louvável.  

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