Havia muita expectativa por este evento por parte dos fãs de Hermética, a lendária banda de Heavy Metal formada em 1988 por iniciativa do baixista Ricardo Iorio após a separação de V8. Era o encerramento de uma turnê que os levou pelo Chile, Paraguai, Uruguai e Espanha, celebrando os 35 anos da formação de Hermética. Foi uma grande convocação que uniu três gerações de fãs, incluindo filhos, pais e avós sob uma mesma paixão. A lembrança de Ricardo Iorio, falecido há um ano, também esteve presente. O evento, aguardado ansiosamente pelos envolvidos, foi um sucesso total com ingressos esgotados. Malón se apresentou no Estadio Obras Sanitarias para 5 mil pessoas eufóricas sob o nome de La H No Murió, um projeto que homenageia a época de Hermética tocando suas melhores músicas. A banda é formada por Claudio O’ Connor nos vocais, Antonio «Tano» Romano na guitarra, Karlos Cuadrado no baixo e Javier Rubio na bateria. O’ Connor e Romano foram parte de Hermética durante toda sua existência.
Desde cedo na tarde, já era possível ver os primeiros fãs buscando entrar no local do show com bastante antecedência. Chamava atenção ver pais com seus filhos e até avós com seus netos compartilhando a música que os uniu nesse evento tão esperado. Outra grata surpresa foi a união dos fãs de Hermética, perssoas com camisetas de Malón e de Almafuerte (a banda de Ricardo Iorio após a dissolução de «a H»). Algo impensável nos anos 90, quando antigos fãs de Hermética se dividiam entre apoiar uma banda ou outra após a polêmica separação de 1994. Mas a festa no Estadio Obras Sanitarias fez com que as tensões do passado se dissipassem, resultando numa verdadeira reconciliação, ou em uma superação das diferenças pelo menos. Talvez seja o tempo, a maturidade ou outro motivo. No entanto, na noite de Sábado, 12 de outubro, todos estavam unidos cantando as músicas de Hermética e lembrando de Ricardo Iorio.
Às 21h18, as luzes se acenderam e começou a tocar uma introdução instrumental («Tano solo», presente no disco «Víctimas del vaciamiento» de 1994). Às 21h20, com precisão surpreendente, La H No Murió atacou com os primeiros acordes de «Soy de la esquina », e a multidão no Estadio Obras começou a se descontrolar em puro pogo e corpos apertados à frente do palco. Sem descanso ou diálogo com a plateia, seguiram com «Cráneo candente», «Víctimas del vaciamiento» e «Sepulcro civil», testando o fôlego dos fãs, que não paravam de balançar a cabeça, fazer pogo e se jogar sobre a multidão, algo constante durante todo o show. Apenas com o ritmo mais lento de «Yo no lo haré», o público pôde recuperar o fôlego após tanta loucura desenfreada.
A apresentação foi conduzida por uma banda sólida musicalmente, que não deixa nada ao acaso. O baixo de Karlos Cuadrado formou uma base forte sobre a qual qualquer baterista pode se apoiar, como é o caso de Javier Rubio, o membro mais novo da banda, que traz uma energia nova ao projeto. Ambos formaram uma base rítmica infalível. Por outro lado, a performance do guitarrista Antonio «Tano» Romano foi impecável. A banda pode soar melhor do que em outras épocas devido aos avanços tecnológicos, mas os anos de prática e experiência de Romano também foram fatores decisivos para sua evolução técnica. Cada riff, base rítmica e solo foram executados com precisão milimétrica. Claudio O’ Connor, o vocalista, interagiu pouco com o público, preferindo se comunicar através da música, mas em uma rara exceção, dedicou algumas palavras ao falecido Ricardo Iorio, incentivando o público a não deixar seu legado morrer, antes de continuar com «Para que no caigas».
O show seguiu com clássicos como «Memoria de siglos» e «Robó un auto», acompanhados intensamente pelo público. La H No Murió interpretou «Del colimba»
e «Desde el oeste», ambas originalmente cantadas por Ricardo Iorio. Houve ainda um cover «Vencedores vencidos », de Patricio Rey y Los Redonditos de Ricota, que elevou a energia do público. Hermética gravou sua versão dessa música no
EP «Intérpretes» em 1990.
Após tocar «Vida impersonal», a banda fez uma pausa para interagir com os fãs, tocando a base de uma canção popular que o público cantava em apoio à banda. Logo em seguida, tocaram «Del camionero», que começa com um ritmo médio e depois acelera, seguida por «Evitando el ablande».
Um dos momentos mais importantes do show foi quando a banda tocou «Olvídalo y volverá por más», um clássico cantado originalmente por Ricardo Iorio no
álbum «Víctimas del vaciamiento». A canção, que ainda hoje mantém relevância política e social, foi entoada pelas 5 mil pessoas presentes no Estadio Obras Sanitarias.
Logo após, houve um solo de bateria executado por Javier Rubio, que mostrou suas grandes habilidades técnicas e simpatia, conectando-se com o público apesar de estar na banda há apenas três anos. Depois do solo, a banda voltou ao palco para tocar o clássico «Gil trabajador», e Claudio O’ Connor aproveitou para saudar a classe trabalhadora. A banda seguiu com músicas como «Otro día para ser», «Cuando duerme la ciudad», «Ayer deseo, hoy realidad» e «Masa anestesiada ». Neste último, Tano Romano se destacou com um solo de guitarra utilizando a técnica de tapping, popularizada por Eddie Van Halen.
O show se encerrou com três poderosos clássicos: “Atravesando todo límite”, “Vientos de poder” e “Tú eres su seguridad”, enquanto o público dava suas últimas energias. As luzes se acenderam, indicando o fim do espetáculo ao som de “Highway to hell” de AC/DC, enquanto os músicos agradeciam, jogando palhetas e baquetas para o público. Mesmo com o fim do show, a festa continuou para os fãs, que cantavam esse clássico do rock. O baterista Javier Rubio, cheio de carisma, dançava e até imitava os passos de Chuck Berry e Angus Young.
Sem dúvida, o show de La H No Murió no Estadio Obras Sanitarias foi uma festa do início ao fim para todas as gerações de fãs presentes. O evento foi muito bem organizado pela responsável de imprensa Nadya Cabrera e pela produtora AV Producciones, que merecem agradecimentos por proporcionar a cobertura deste evento e o apoio a ese cronista para que pudesse escrever estas linhas e testemunhar a grande noite que representou para todos os envolvidos nesta história.