Mais um amanhecer. Esta frio lá fora e aqui dentro de mim.
Ventando levemente. A vontade de ficar na cama fala mais alto.
Olho pra minha pele, é como se os glóbulos brancos e vermelhos de
meu sangue estivessem guerreando. Estão totalmente divididos e isso me assusta.
Os pássaros cantam lindamente, a última vez que os ouvi cantar era noite,
uma noite em que enfrentei meus medos de outra forma e enxerguei mais além que o normal.
Partes de mim foram levadas com os pesadelos recentes. Alguns ainda permancem, parecem não ter fim.
Me sinto em um deserto onde em volta gigantes lutam, há barulhos, há medos,
há mortes, há dores, gritos, desesperos, agonias, lágrimas, sobras de coisas
sobrevoando e carregando sonhos que pedem socorro. É tudo muito frio, feio,
escuro e sombrio. É como se todas as cores tivessem dito adeus e permanecido
apenas o preto e branco. O branco forma uma luz muito forte que meus olhos doem.
Tento olhar e alcançar, mais não consigo. Olho pra trás e não vejo nada,
só o preto. É muito escuro. Apenas dor e lamentações. Tudo de bom foi apagado.
É como se arrancassem e rasgassem todas as páginas felizes de um livro
e deixassem apenas as partes tristes e ruins. Em mim há um silêncio vazio e pensamentos distantes.
A única coisa que ouço aqui dentro são os ecos de perguntas sem respostas.
Percebo que nada do que eu faço consegue me distrair ou me levantar.
São tentativas frustantes, vagas e inúteis.
Porque a morte sempre leva pessoas fazendo-as sofrerem primeiro.
Porque ela leva justamente as pessoas que mais amamos de forma tão cruel.
E porque essa dor não sai do meu peito. Porque eu não consigo mais
pensar em nada. Só estes porquês e mais porquês martelando,
assombrando e corroendo meus pensares.
Tive um pesadelo terrível essa noite, chega a doer os ossos ao lembrar,
talvez fosse pra completar a sombra do meu dia que mais parece noite.
Hoje a esperança tentou soprar alguma coisa, mais foi tão rápido que
nem senti direito. Logo, partiu. Bom, já não me importo mais,
tudo esta partindo mesmo. O que machuca é ir aos poucos, porque
não vai tudo de uma vez. Iria doer menos. É triste mais é real.
A sobrevivência e o corpo lutam sozinhos. Enquanto a mente reconhece
que estou morrendo aos poucos, que estou morrendo em vida.
Priscilla Raquel