Nos últimos anos, a presença e o papel das mulheres na cenário da musica tem sido destacado cada vez mais, influenciando não apenas o som, mas também a dinâmica e a mensagem transmitida pela musica. Tanto vocalista como lideres de banda sempre temos que provar que somos capazes de qualquer coisa e temos talento para fazer qualquer coisa e isso Sara Alves natural de Minas Gerais, mais conhecida como Sara Não Tem Nome tem de sobra. Sara tem a capacidade de transmitir emoções sobre o cotidiano através de uma voz impactante, enquanto molda a estética de um rock mais emocional , é uma artista com foco na sua liberdade de expressão.

Sete anos do seu álbum de estreia Omega III Sara retorna com “Situação” um disco que reflete não apenas sua evolução artística, mas também transformações que foram ocorrendo ao longo dos anos como por exemplo o golpe de estado que a nossa Presidente Dilma sofreu e serviu como inspiração para compor e os anos que vivemos com o governo de Bolsonaro. Sempre ampliando suas escolhas sonoras de seus sons e inovando como por exemplo incorporando ritmos e arranjos de suas musas inspiradoras de peso como o ícone Yoko Ono entre outras, mas sempre  mantendo sua voz característica como elemento central.

Ao comparar os dois álbuns vemos a diferença significativa na sonoridade e na abordagem temática que se concentra assim podemos ver a mudança de percepções melancólicas do dia a dia para criticas sobre a nossa realidade politica social. Sara destaca a importância da presença feminina em todas as áreas não só apenas como interpretes, mas também como lideres e a sua capacidade de influenciar com o seu som mostra a habilidade de adaptar se às demandas do contexto contemporâneo.  Sara sempre destaca que todas as mulheres devem  seguir seus sonhos e lutar por espaço e reconhecimento e sempre está promovendo a igualdade de gênero e a valorização do talento feminino.

Cultura em Peso: Como uma mulher no vocal , como você influencia o seu  som e a  dinâmica de suas musicas ?
Sara Não Tem Nome: Vou falar um pouco das diferenças que percebo entre o meu projeto solo, como Sara Não Tem Nome, e a Tarda, projeto coletivo que fiz parte. Como Sara Não Tem Nome, sou autora das músicas e criadora do conceito dos álbuns que lancei. Trabalho com outros artistas e músicos com quem apresento as ideias, sonoridades e temas que desejo trabalhar em cada obra. A direção artística, as decisões e a responsabilidade a respeito de tudo que acontece referente ao projeto, são minhas. No caso da Tarda, projeto em que eu era uma das integrantes, o processo de criação das obras – músicas, videoclipes, e produção dos shows, era de todos. Nos dois casos, acho muito importante cantar as minhas composições. Sinto que dar voz às letras que escrevo, dá mais força e verdade para as músicas.

Você enfrenta algum desafio específico por ser vocalista underground?
São diversos os desafios enfrentados para conseguir trabalhar no universo da música independente brasileira. No meu caso, que tenho um projeto solo, um dos maiores desafios é conseguir manter uma equipe trabalhando comigo, já que poucos shows têm o cachê necessário para contratar a equipe. Outro desafio, é conseguir produzir clipes, divulgar as músicas, enviar propostas de shows e inscrever em editais. Todo esse trabalho, faço sozinha, grande parte das vezes. Muitas realizações são possíveis devido à parceria de diversos amigos e parceiros, que acreditam no trabalho e colaboram para que eu consiga fazer videoclipes e shows, por exemplo.

Qual é o seu ícone feminino que te inspira e te influencia a construir seus trabalhos?
Tenho várias mulheres artistas como referência do meu trabalho. Nesse momento, cito a Laurie Anderson e a Yoko Ono. Ambas artistas, são consolidadas no cenário artístico internacional e transitam entre a música e as artes visuais. Como também atuo entre esses campos da arte, me interessa entender como criam e apresentam suas obras tanto no universo da música, quanto das artes visuais, transitando com fluidez entre festivais musicais, galerias de arte, museus e outras instituições artísticas.

Qual é a importância da representatividade feminina na indústria da música? Como você vê o papel das mulheres na cena musical atualmente?
É perceptível que as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço na cena musical. Isso acontece também devido ao movimento das mulheres de criarem seus espaços e não esperarem ou dependerem que espaços que já existem as acolha. Percebemos o crescimento de vários festivais, selos e produtoras, criadas e geridas por mulheres, dando suporte e criando esse espaço que lhes era negado. Infelizmente, ainda existe uma grande desigualdade em relação aos valores pagos para mulheres e homens. Por exemplo, apenas 8% dos direitos autorais de música foram destinados às mulheres em 2022, segundo o ECAD. Também percebemos que existe uma maior aceitação de mulheres cantoras, mas não de mulheres compositoras. A União Brasileira de Compositores realizou uma pesquisa que aponta que cerca de 80% das artistas mulheres já declararam que sofreram algum tipo de discriminação no cenário musical. Acredito que ainda temos muito a percorrer para alcançar a igualdade entre gêneros dentro do cenário musical.


De onde vem a inspiração para compor suas letras e como você reflete nas suas experiências como mulher? Como escolher a temática e mensagens que querem transmitir por meio da música?
Minha inspiração surge de diversos lugares e situações, não gosto de me restringir a um só assunto. Costumo criar músicas sobre questões e momentos que me tocam de alguma maneira, que me fazem refletir e me trazem o desejo de compartilhar ideias e sentimentos com outras pessoas. Sinto que escolho dentro das minhas composições, o que preciso dizer dentro do contexto que vivo no momento. Gosto muito da ideia de trabalhar um álbum, criar todo um universo, pensar um conceito temático, musical e visual para uma obra. No meu primeiro álbum “Ômega III”, falei muito sobre minha adolescência e início da fase adulta, que passei na cidade de Contagem, em Minas Gerais. As músicas do álbum refletem a minha relação com minha família, minha percepção sobre o tempo, minha saída da igreja evangélica, minha relação com os animais, e sobre não comer carne, por exemplo. No meu segundo álbum, “A situação”, apresento minha percepção sobre a sociedade brasileira após o golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Nesse álbum, narro de forma poética os acontecimentos que me marcaram nos últimos anos – a pandemia, a ascensão da direita e do fascismo, problemas de saúde mental como a depressão e ansiedade, a perversidade do capitalismo, entre outras questões que me atravessam.

Como equilibrar a carreira com outros aspectos da sua vida?
Acho um desafio conseguir equilibrar todas as áreas da vida. Não sei se existe uma fórmula, se existe, eu desconheço. Percebo que cada vez mais, somos cobrados por mais produtividade. Me sinto angustiada ao pensar na demanda dos artistas produzirem muito, em pouco tempo. Como consequência disso, percebemos esvaziamento e superficialidade nas obras artísticas, ou artistas que não conseguem se adequar a essas demandas e acabam sendo negligenciados pelo mercado e o público. Tento, dentro do possível, respeitar o tempo das ideias e dos processos, mas é bem difícil produzir dessa maneira, já que essa lógica insana de competitividade, tem nos tornado reféns dessas demandas de mercado.

Quais os próximos planos?
Os planos para esse ano, são de realizar shows do álbum “A situação” e lançar o videoclipe da faixa “Vazio”. O álbum conta com visualizers das músicas e videoclipes das faixas “Pare” e “Cidadão de bens”. Em maio, lançaremos uma session do álbum “Ômega III”, que foi gravada em 2016. Também estou produzindo um álbum junto de alguns parceiros musicais – Julia Baumfeld, Bernardo Bauer e Felipe D’angelo, com participação do Pedro Veneroso e outros artistas. Conseguimos aprovar um projeto para terminar de gravá-lo e devemos lançá-lo ainda em 2024.

Qual conselho para outras mulheres que estão considerando formar uma banda ou entrar na carreira musical?
Meu conselho é acreditar no seu trabalho, mesmo que existam diversas dificuldades. Continue persistindo e procurando pessoas que acreditem no seu projeto e possam estar com você nesse processo. Outro conselho que eu daria, é fazer o que você gosta e acredita, não se guiar apenas pelo que está na moda ou pelo que os outros vão pensar. Faça a música que você quer ouvir, mesmo que não agrade a todas as pessoas que você gostaria de alcançar.

Sara possui o talento máximo de criar cenários em nossa mente de um jeito muito pratico, sempre fazendo a gente pensar em questões complexas de uma jeito simples e calmo, trabalhando muito o lado lúdico em suas musicas. É maravilhoso poder ouvir que suas canções se completam e contam historias de uma forma única e continua com letras que são certamente pensadas para que possa mostrar a real  do situação do país.  Sara tem o trabalho de evoluir e inspirar seus ouvintes e sempre deixando uma marca na história da música desafiando a criar legado duradouro através de suas letras e sua presença impactante.


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