Foi na última chuvarada do ano, e a noite estava preta. O homem estava em casa, chegara tarde, exausto e molhado, depois de uma viagem mortificante, e comera, sem prazer, uma comida fria. Vestiu o pijama e ligou o rádio, mas o rádio estava ruim, roncando e estalando. Era tudo muito frio, obscuro. A solidão impregnava no vazio de sua alma. Seu coração estava congelado, com a morte que já tinha ido lhe visitar várias vezes…mãe, mulher, filhos…agora são apenas cadáveres. Não tinha mais motivo para continuar. Por que estava ali então? Não se sabia…as várias vezes que a lâmina chegou perto de seu pescoço, ou que sua arma chegou perto de sua cabeça, sempre desistia…talvez por medo de onde ia chegar, ou de não chegar a lugar algum. Mas parecia que aquela madrugada fria e chuvosa iria mudar tudo. Ali, naquele momento de intensa solitude, começou a ouvir barulhos estranhos lá fora. Gemidos, berros, vozes…quando escutou alguém chamar vagarosamente seu nome, uma voz que nunca havia ouvido antes. Ficou assustado e curioso. Quem o chamaria naquele lugar tão ermo que morava, naquela noite, com aquela chuva? Foi lá pra ver. De repente viu algo surreal, algo que nunca viu em sua vida, ficou boquiaberto. Era…uma mulher? Parecia…talvez…mas muito bizarra. Seres deploráveis e aberrações a seus pés. Era tudo muito estranho e irreal. Uma chama negra envolvia a todos. Havia um sol vermelho, cor de sangue, acima daquela criatura de beleza excêntrica. Tudo era muito assustador, envolvente, bizarro. Quando a voz daquela “mulher”, uma voz de demônios, crianças e agonizantes…algo incrivelmente surreal…encerrou o clima de espetáculo:
“Mortal infeliz, deplorado pela desgraça, seus dias de mórbida solidão chegaram ao fim. Junte-se aos teus amados, e aos meus pés.”
Ninguém sabe o que aconteceu, ninguém sabe a história certa, existem muitos boatos por aí…mas a visão do homem decapitado e mutilado seria inesquecível.