Entrevista com Oligarquia
Entrevista realizada em 17/12/2009
Feita por Laurencce Martins
Com Panda Reis (bateria)
Hey bangers do Cultura em Peso. Aqui é Laurencce Martins da sessão Death Metal e hoje vamos falar com o integrante de uma banda oldschool que está na ativa desde 1992. Já lançaram trabalhos independentes, por gravadoras, já tocaram com banda gringa, já fizeram o escambau a quatro (risos). Estou falando de uma banda experiente e reconhecida no cenário nacional. Direto de São Paulo (SP), Oligarquia Deaaath Metaaaal (gutural). E para falar um pouco do trabalho da banda, ninguém melhor do que o fundador da própria, estamos aqui com o baterista Panda Reis!
1 – Primeiramente, olá, Panda! Na ativa desde 1992, cara. Parabéns pelo trabalho!
Fala parceiro, tudo certo? Pois é, em Setembro de 1992 fizemos nosso primeiro show, cara, de lá pra cá seguimos ininterruptamente até os dias de hoje. Na verdade nós que temos que agradecer a galera que ainda nos acompanha depois de tantos anos.
2 – Conta pra gente sobre a formação da banda. Como e por que a Oligarquia começou?
Desde o final de 2008 estamos com uma nova formação, isso é até meio corriqueiro pra mim, pois sempre mudamos de formação a cada trabalho, e dessa vez não foi diferente. Quando começamos a compor e a pré-produzir o disco novo (em 2008), o Alex decidiu sair fora e fomos obrigados a procurar novos membros, e aproveitamos um desejo antigo: transformar a banda em um quinteto. Cara, começamos como milhões de bandas ao redor do mundo começam. Éramos moleques, gostávamos de rock e em um sábado à tarde, entre uma pinga com limão e um baseado, decidimos montar uma banda, e aí foi… vaquinha pra comprar instrumentos, achar lugar pra ensaiar e o mais difícil, e o que buscamos até hoje, aprender a tocar.
Sempre tocamos death metal tradicional, acho que por causa da época , por causa do gosto musical, talvez… pois a Oligarquia era um mosaico, cara, tinha tudo nos ensaios: punks , headbangers , rapper´s. Era mais ou menos uma “Comuna”, hahaha! Quando nos demos por si, todas as primeiras composições (e as subseqüentes) foram saindo com essa cara de “death metal dinossauro”, saca? Na verdade por que começou não dá pra precisar, mas como sempre fala meu amigo Amilcar (Torture Squad): “somos a banda mais punk do death metal mundial e o rock me tirou do crime”, coisas de Amílcar, hahaha!
3 – Vocês lançaram uma demo tape em 1995, apenas três anos depois da criação da banda. Do que se trata “Conviction of the Death”? Foi seu primeiro trabalho como músico?
Sim, foi a primeira vez que entrei em um estúdio, cara, nem ensaiar em estúdio eu tinha ensaiado, e caímos de cara logo nas mãos do Tchello Martins no lendário Anonimato. Essa demo fala do que falamos até hoje: humanidade e seus diversos problemas de relacionamento, seu mundo capitalista burguês, as questões que oprimem e exploram todos os proletários do Mundo, sempre com um discurso agressivo… não mudou muita coisa hoje em dia, acho que estamos tocando menos pior e estamos escrevendo letras mais complexas. A coluna cervical ainda é a mesma, as inspirações continuam aqui do nosso lado.
4 – Em 1999, a partir da segunda demo tape, a banda deslanchou no cenário nacional. Conseguiu gravadora e saiu em tour. Porém, desde o início da banda até a turnê nacional se passaram quase 10 anos. O que você acha que ocorreu para que a banda demorasse 9 anos para só então ter o trabalho reconhecido?
Sinceramente, sem aquela média que alguns fazem, não temos esse reconhecimento que você diz, não. Somos a mesma banda de 1992, tocando praticamente nos mesmo lugares para basicamente o mesmo número de pessoas. No meu ponto de vista estamos distantes das bandas reconhecidas aqui no Brasil, e pra ser mais sincero ainda estamos exatamente aonde deveríamos estar, pois se você analisar a postura da banda, o que escrevemos e o que defendemos, não daria pra receber reconhecimento de uma cena reacionária (em sua estrutura) e que valoriza as bandas que se enquadram no “sistema” underground, salve algumas poucas exceções. O reconhecimento mesmo vem em doses homeopáticas (rs), no meu caso, por exemplo, quando o Caio (Claustrofobia) chegou em mim e disse que depois que viu a maneira maloqueira de eu tocar, ele mudou sua visão a respeito de se tocar bateria, isso pra mim é um reconhecimento, anônimo, ao pé do ouvido, mas aquilo fez sentido, pois se influenciei um moleque que inspira tantos outros com sua música, talvez estejamos certos em continuar aqui no lado B do underground.
5 – No Brasil, mesmo demorando tanto tempo para o reconhecimento, você acha que vale a pena fazer o trabalho underground? Por quê?
Depende, cara. Olho pra trás e vejo tudo que rolou nessas últimas décadas e me sinto bem, em nenhum momento me vendi, me prostituí, saca? Eu me lembro que em 1993 a extinta gravadora “Rock It!” nos fez um convite pra ingressarmos no cast deles, desde que cantássemos em Português. Recusei na hora e essa recusa me faz ainda mais sentido hoje em dia, então sinceramente não sei se vale a pena… depende o que cada um busca no underground e como cada um vê esse underground. O que eu sei, irmão, é que o underground de hoje é diferente do underground em que eu fui formado. Como alguns dizem ao meu respeito, eu sou um revolucionário e não um músico (utilizo minha música para propagar as nossas idéias anti-burguesa/capitalista e não para pegar mulherada e ficar chapado nos shows.
6 – Nechropolis foi o primeiro debut da Oligarquia. Do que se trata? Qual são as influências para o álbum?
Não é um álbum conceitual, não em sua essência, talvez no assunto, que fala das merdas que a humanidade fez e é, esse ainda é pra mim o trabalho que mais gosto da Oligarquia, é um disco de death metal, só isso… (risos) Esse CD foi o que mais sofreu influências, mesmo que não pareça, ele é um retalho de tudo que ouvimos desde moleque, mas acho que ele soa mais como um LP do final dos anos oitenta mesmo, saca quando escuto ele, consigo perceber que o death metal tradicional é latente em todas as faixas, gosto muito desse “filho da puta” (risos).
7 – E tuas influências pessoais, dentro e fora da música, quais são?
Ai fodeu! (risos) Vou ser sintético para conseguir ser o mais amplo possível. O que me influencia na música são as bandas de rock, sejam elas de metal, punk ou o rock clássico, gosto muito de outros estilos como o Rap, Reggae, Soul Music e até MPB. Escuto de um monte de músicas que a maioria dos leitores torceria o nariz, mas gosto e foda-se! Acho que hoje a minha influência vem mais de fora da música, pois historiadores como Hobsbawm , Rochlin, Perry Anderson, Leôncio Basbahum, Mere Del Prioli, Maria Helena Farelli, Doratiolo e outros me influenciam pra caralho, minha influência vem também dos movimentos guerrilheiros que passaram pelo mundo, sei lá, quanto mais eu os estudos mais percebo que “o mundo está ao contrário e ninguém reparou” (risos). Agora meu grande inspirador é o Capitalismo, sem ele e sua burguesia majoritária, não escreveria o que escrevo.
8 – Como funciona o processo de criação (composição) da banda?
Simples, a gente chega ao estúdio aonde ensaiamos e começamos a conversar sobre as bases e ideias que cada um tem, começamos a tocar e a encaixar as partes. Confesso que é bem chato, cara! Às vezes ficamos meses em uma mesma música, aí estressa, saímos do estúdio pra queimar um mato tomar uma cerveja e falar de futebol. Tem outras que saem em uma tacada só, de “prima”, aí temos que gravar pra não esquecermos (rs). No Cd Humanavirus tem a música Forged , que gravamos ela no estúdio de gravação (Da Tribo, com o Ciero). Na hora de gravar, não tínhamos ensaiado ela como as demais, me lembro que a parte dos bumbos, duplo e o grind, não era como ensaiávamos, mas fiz na hora e ficou até que legalzinho hahaha! Não somos uma banda muito convencional para os dias atuais aonde todos buscam o profissionalismo e a perfeição, não quero que me entendam mal, somos uma banda profissional, que tem contrato pra gravar, pra tocar e temos metas estabelecidas, apenas levamos isso há quase vinte anos, desse jeito relaxado, “maloqueiro da favela” mesmo, hahaha. Às vezes é preciso a “ala mais séria” da banda tomar as rédeas, por que se deixar “pro Panda”, para o Guilherme e o Ártour, às vezes descamba pra diversão pura! (risos)
9 – Como está ficando o novo trabalho “Distiling Hate”? O que os fãs podem esperar da banda?
Cara, posso dizer que eu tenho gostado bastante dele (rs), e ainda não deu pra ouvir mixado, cara, atrasou tudo aqui no estúdio. É como eu disse, pra gente ta tudo como no primeiro disco, foda pra gravar, foda pra descolar uma gravadora pra lançar, mas era pra ter saído já. As gravações atrasaram, em minha opinião, escolhemos a metodologia errada, notei isso quando fez um ano que estávamos em estúdio, mas aí já era. O que importa é que o estúdio é bom pra caralho, os caras sabem gravar (até demais para o meu gosto) e com muito esforço, maconha e paciência, estamos conseguindo terminar o cd. Eu diria que é um disco mais com a cara do que é a Oligarquia, uma mescla homogênea dos dois primeiros cd da gente, com um tempero diferente, o nosso momento de criação tem sido tão foda, que já estamos terminando a pré produção de um “3 way split” que participaremos mais para o final do ano e já estamos conversando sobre a temática do próximo cd, cara hahaha!
Vêm coisas mais audaciosas para os próximos anos, até por que já estou a passos largos para os quarenta anos e aí a tendência é me envolver menos com música e me infiltrar mais na parte acadêmica das minhas idéias. É impressionante, mas chega uma hora que você olha pra cena e não se vê tão dentro dela… desculpe se decepcionei pessoas que curtem a banda, estou apenas sendo sincero com esse honrado zine, que está perdendo tempo comigo(risos). Apenas acho que não tenho muito mais do que alguns anos a oferecer para o underground musical mundial daqui algum tempo, as idéias são outras, as buscas totalmente diferente das minhas. Os preconceitos, todos eles continuam empreguinados, alguns em doses bem menores, outros disfarçados e outros da mesma maneira. Na cena, isso atrapalha bastante, me incomoda ver neonazistas livremente em shows de metal, junto com alguns bangers compactuando ideias. Incomoda-me ver bandas pagando para abrir shows, pagando por espaço, sei lá… todos acham normal tudo do jeito que está, então eu esteja errado.
Tenho outros projetos musicais, a maioria deles dentro da musica alternativa, eles seguem longe da mídia, no subterrâneo mesmo, sem alarde e divulgação, às vezes toco ali na “Augusta” com um desses projetos, às vezes participo de coletâneas mundo afora, mas tenho curtido muito escrever sobre história, filosofia, política e criticas ao sistema, tenho feito muito desses trampos e tenho curtido pra caralho! Mas respondendo (escrevi pra caralho hahaha, é que estou fumando uma erva enquanto respondo hahaha) a banda lança o Distilling Hatred em 2010, ainda e 2010 iremos participar de um “3 way split” com sons inéditos, cover e regravações, e iremos tocar por aí, aonde nos chamarem, para aí em 2011 ver a possibilidade de lançar um novo cd, enquanto me der tesão tocar ao vivo, escrever e lançar discos estaremos por aqui.
10 – Sobre a frase que vocês usam, “Temos muito ódio pra destilar ainda”, se trata de uma postura bem old school quando nos referimos ao Death Metal. O que você acha do Death Metal moderno? Há diferença na postura?
Então, não conheço muitas, pois só escuto o que eu gosto, raramente escuto algo fora da meu gosto musical, então se opinasse estaria sendo falso. O que posso dizer é que “Metal da Morte Melódico” me dói nos ouvidos (risos), e sobre death metal moderno que você fala eu sei lá… vou procurar ouvir alguma coisa, me dá uns toques sobre quais bandas ouvir? (risos)
11 – A banda já chegou a se apresentar apenas como uma dupla e você estava nas baquetas quando isso ocorreu. Hoje, em 2009, seria possível a Oligarquia se apresentar apenas com dois integrantes?
Não. Hoje o baixo é peça fundamental no som da banda, e naquela época (1993 se não me engano) era possível. Hoje o som da banda está diferente pra caralho daquela época, mas fizemos um grande show naquela turnê por Minas Gerais!
12 – Qual foi o show que mais te marcou em que você tocou? Por quê?
Puta, cara… foda, hein? (risos) Com o Napalm Death foi legal por ser fã e poder constatar que os caras não são cuzões (risos). Têm outros que marcaram pelo “role” como um no interior do Rio em Casimiro de Abreu aonde nenhuma rua era asfaltada e tinha tudo no pico, banger, punk, careca, função, foi bem louco! Tiveram outros como em Londrina aonde o Alex mijou no quarto do hotel (risos), teve um em Macaé que eu e o Guilherme vasculhamos a cidade inteira atrás de maconha, hahaha, um com o Andralls aonde o “role” itinerante na cidade foi surreal, vixiii… teve um aonde não me lembro à cidade, que o público, cerca de 150 pessoas fizeram a vaquinha e pagaram a van e o aluguel da aparelhagem pra gente ir tocar lá cara… esse foi foda , até hoje arrepia veio!
13 – Panda, você acredita em sorte?
Depende do que seja sorte nessa sua pergunta!(risos) A sorte no senso comum eu definitivamente não acredito.
14 – Jogo Rápido:
Uma banda: Ratos de Porão
Um álbum: True Carnage (Six Feet Under)
Uma música: Todas da Cássia Eller (sim sou fã dessa mulher desde 1989)
Um livro: A era dos extremos (Eric Hobsbawm)
Uma frase: Sejam realistas, exijam o impossível
15 – Cara, novamente parabéns pelo trabalho e parabéns por todos esses anos dedicados à arte e ao underground. É realmente admirável a persistência de pessoas como você que mesmo diante das dificuldades de um país carnaval continua firme na luta com a música extrema. Pra fechar, deixa uma mensagem para o pessoal do Cultura em Peso, para os fãs de Oligarquia e para os headbangers de um modo geral.
Obrigado, humildemente mesmo, obrigado. E continue ajudando o nosso underground, seja ela qual for (risos), precisando de mim e da minha banda é só falar. E queria pedir desculpas se desagradei alguém, se decepcione alguém e por minhas sinceras palavras e lembre-se: “estranhos se tornam melhores amigos, melhores amigos se tornam estranhos”. Isso faz muito sentindo hoje em dia. Sigam forte no que acreditam e busquem sempre sua versão para os fatos, não reproduza as ideias alheias. Vejo vocês em um palco aí na sua cidade em 2010.
Contato:
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