BNegão deu seu recado e provou que é um dos principais rappers brasileiros. Foto: Diotana Mosley
Marcelo D2 não poupou críticas ao sistema político brasileiro Foto: Diotana Mosley

Em meio a uma cidade mergulhada no caos, onde faltava água, luz, internet e dignidade para grande parte da população, o Planet Hemp veio e entregou tudo que podia aos gaúchos. O público, ansioso para ver um dos maiores fenômenos da história do hip hop brasileiro, já se aglomerava por volta das 21h da última quinta-feira (18 de janeiro), no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, mas teve que esperar quase uma hora para ver os caras.Afinal, não é sempre que um show é tão esperado: mais de 20 anos o separaram para o lançamento, em 2022, das inéditas Jardineiros. Aclamado, o disco venceu duas categorias do Grammy Latino 2023. Estava todo mundo sedento para ver Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru subirem ao palco e detonarem tudo.

BNegão comandou a festa com clássicos e novos foto: Livia Meimes
“Jardineiro não é traficante”, bradou BNegão/LM 

E foi isso que aconteceu por mais de duas horas. A começar pela introdução do show, um lindo vídeo com homenagens ao Skunk (parceiro de D2 no início da banda, e à trajetória impressionante da banda, o show teve como foco músicas novas e antigas. Mas a primeira providência de BNegão foi sem dúvidas “desmanchar” o cercadinho da imprensa que estava tomado de fotógrafos após eles entrarem no palco. “Desculpe aí o pessoal da fotografia, mas é pra galera chegar pra cá”. E logo o Araújo Vianna tornou-se uma grande festa que celebrava todas as bandeiras do Planet Hemp, com destaque para a da legalização da maconha, é claro.

Marcelo D2. na lata sem dó/ LM

Planet Hemp começou nos anos 90 de forma despretensiosa e autêntica, com uma postura ativista, inovadora, que fazia a cabeça dos jovens da época por meio de sua arte, mas indo além da ideia de curtição, fazendo a galera se questionar sobre as pautas que cercavam o jovem periférico, cujos problemas estão presentes até hoje. E foi exatamente essa vibe que rolou na última quinta-feira, ou seja, mais de 20 anos depois, o impacto segue o mesmo por meio do seu conteúdo artístico, que segue bombando, e às questões comportamentais que eles trazem em suas letras, com destaque, é claro, à questão da legalização da maconha, que continua contudo nessa nova fase da banda – hoje algo super em alta.

Mas, quando começaram, entretanto, o discurso da legalização da maconha era algo visto como inadmissível pelo status quo mesmo sem ditadura. Mas eles faziam isso com uma naturalidade incrível, mas também com objetivo de chocar e testar os limites com frases como “porque uma erva natural não pode te prejudicar”. Jovens, estavam tirando onda com aquilo que irritava os “bons costumes”, e, dessa forma, reuniram tudo aquilo que os jovens procuram na música desde sempre, o senso de consciência do mundo, que estão vivendo e uma irreverência descolada.

Espetáculo teve imagens projetadas e contou com músicas novas e antigas. Créditos: Livia Meimes

Falando sobre essa fase, o Marcelo D2 disse que via mais como militante do que como artista no começo. Para chegarem lá, eles tiveram que passar por umas barras que não aconteceriam se ele não tivessem as causas que traziam: Em 97 eles chegaram a ser presos por apologia às drogas depois de um show em Brasília. Ficaram presos por 5 dias,

No palco, nesta quinta-feira de janeiro, foi a vez de Marcelo D2 atualizar as causas: reclamou da milícia, a “milícia tomou o país de assalto”, disse ele. Nesse sentido, eles pediram para o público lembrar “Mariele e Anderson, presente”. Além de militar sobre inúmeros causas, D2 não esqueceu onde estava: “estamos na Osvaldo Aranha, na cidade do rock”, lembrou ele, que nos anos 90 já era “cliente” por essas bandas. Fã de rock gaúcho, citou DeFalla.

https://drive.google.com/drive/folders/1sNnHM4ED81Lpo22J8HwwqXk907tnvwTT

Facebook - Comente, participe. Lembre-se você é responsável pelo que diz.