1- Faz muito, mas muito tempo que não falamos do Questions aqui no C.E.P, e ai, como vão as coisas com a banda?
Salve galera do Cultura em Peso e todos que acompanham o site! Estamos na estrada há 16 anos, sem parar. Os últimos tempos, especialmente desde o lançamento do nosso último disco, estão bem legais. Fizemos a quinta tour na Europa no ano passado, onde tocamos em festivais muito importantes como o Hardcore Help (Alemanha), o Fluff (Rep. Tcheca) e o Ieper (Bélgica) e desde então temos tocado por todo o Brasil, sempre com ótima recepção. Esse ano já passamos por Vila Velha, tocamos no Abril Pro Rock em Recife e outros shows no Nordeste, em Porto Alegre, BH… estamos sempre na luta!
2- Com 6 álbuns na bagagem, hoje o Questions é uma banda madura, deixou de ser a sensação do hc nacional, para ser uma sólida referência no estilo. Quando olham para trás o que vocês vêem? E olhando a frente, como a banda se vê daqui 5, 10 anos?
Olhamos para trás e nos sentimos totalmente realizados com tudo o que conquistamos. Todos os nossos sonhos de moleque, como tours na Europa, na Rússia e nos países do leste, discos lançados por selos gringos, reconhecimento por grandes nomes da cena e por gente de todos os cantos nos deixam com uma sensação muito boa de dever cumprido.
Valorizamos ainda mais a nossa história por que todas essas conquistas foram através dos nossos próprios esforços e com a ajuda de pessoas que se identificam com a gente. Seguimos à risca a principal coisa que aprendemos com as bandas punk, o faça você mesmo. Não esperamos que as coisas que a gente quer caiam do céu, a gente tenta ir atrás e fazer acontecer.
Por outro lado, quando olhamos para frente, existe o sentimento que ainda temos muita lenha para queimar. Não é porque a gente atingiu os objetivos de antes que agora a gente vai sossegar e tirar o time, hah! A gente sempre conversa sobre o que queremos fazer daqui pra frente, e por enquanto seguimos na mesma pegada de tocar o máximo possível, compor e gravar material novo, enfim, manter a banda na ativa. Enquanto a saúde e os compromissos pessoais de cada um permitirem, vamos levar essa banda o mais longe que a gente conseguir.
3- O último som lançado foi “Pushed Out … of Society” em 2015, muito bem trabalhado, uma porrada para os amantes do bom hardcore, onde este som foi gravado? Quem produziu?
Obrigado pelas palavras! Desde o “Rise up”, de 2009, quem produz os nossos discos é o Fernando Sanches, do El Rocha. O estúdio tem uma estrutura ótima e ele já sabe a sonoridade que a gente busca, então o processo de gravação e mix é o mais simples e rápido possível. Em poucos dias matamos tudo. Desta vez optamos por masterizar com um produtor gringo, o Paul Miner. Ele tocava no Death by Stereo e já trabalhou com uma monte de banda, então também nos entendemos rápido. A gente gostou bastante do resultado final.
4- As incontáveis vertentes que surgem e surgiram com o tempo dentro dos estilos musicais não são uma exceção no hardcore. Como a banda vê esta segmentação, atrapalha o crescimento da cena?
É natural que as pessoas fiquem inventando jeitos de classificar as coisas, criando rótulos e mais rótulos para descrever esse ou aquele estilo de som. Para nós essas coisas não são muito importantes. O que vale é a sinceridade de cada um, se o som e o conteúdo da banda são verdadeiros, cedo ou tarde as pessoas vão se identificar.
O que pode atrapalhar a cena é se a molecada ficar de cabeça fechada, se prendendo demais nesses rótulos. A segmentação em si não é um problema, o problema é a pessoa achar que por gostar, por exemplo, de hardcore melódico, nunca vai gostar de uma banda mais pesada, ou mais isso ou mais aquilo. E ficar preso nisso. Radicalismo sempre existiu e nunca ajudou em nada. Quando a gente era moleque, tinha esses caras que só ouviam um tipo de som, mas também era comum o cara gostar desde Venom até Led Zeppelin, hah, era tudo “rock”. Então, o negócio é manter a cabeça aberta para novas influências. Quanto mais conhecimento, melhor.
5- Um dos lemas da banda desde o início é “União e respeito”. O Questions acredita na união da cena? Como está a cena nos olhos da banda?
Colocamos essa postura desde o começo porque acreditamos nisso. Sabemos que pode soar utópico ou até ingênuo para muita gente, mas de qualquer forma achamos que isso é o certo e é o que devemos tentar construir na nossa cena. Partimos do princípio que respeito não se ganha, se conquista. E que as pessoas são mais fortes e mais capazes se atuarem juntas para atingir um objetivo comum. O básico: a união faz a força. Como ninguém falava disso na época, a gente achou importante começar por ai.
A cena hardcore é um reflexo do momento do país. O racha direita-esquerda, muito radicalismo vazio, muita intolerância. Infelizmente essas coisas existem e é muito importante que a gente assuma com clareza qual é a nossa posição. Para nós a raiz e toda a história do hardcore tem a ver com Punk, Anarquismo, com duvidar e questionar sempre autoridades, governos, elites. Existem grupos que pensam que hardcore é só um tipo de som e um estilo de se vestir. Não é. É muito mais do que música. Então, estamos vivendo um momento onde é preciso deixar claro que a nossa cena não é um espaço onde vai ser tolerado o racismo, a homofobia, atitudes fascistas e intolerantes em geral.
6- Jogo rápido:
4 bandas nacionais: Ratos de Porão, One True Reason, Institution, Charlotte Matou um Cara
4 bandas internacionais: Minor Threat, Sick of it All, Madball, Warzone
1 cd: Cro-Mags – The Age of Quarrel
1 livro: Dead Kennedys (banda fundamental, existe uma edição brasileira lançada pela Ideal)
Questions: persistência
Uma música: “Protest and Survive” – Discharge
Uma frase: “Se você resiste como uma questão de hábito, você transforma a resistência em arte.” Tá no encarte do nosso primeiro disco “Resista”, de 2004.
7- Em maio vocês estiveram aqui no sul, mais precisamente em Porto Alegre tocando na primeira edição do festival Barulhada, que foi histórico, como foi a participação da banda neste fest?
É uma satisfação enorme ver o pessoal de Porto Alegre se organizando para fazer as coisas acontecerem. O festival foi ótimo, a estrutura e o cuidado com as bandas foram demais e a galera compareceu em peso! Não é fácil fazer show no Brasil, ainda mais com várias bandas vindo de outros estados. A organização merece todo o nosso reconhecimento, as bandas que tocaram com a gente e a galera que colou também! Demos o nosso recado da melhor forma e esperamos ter correspondido!
Além do festival, tivemos o privilégio de fazer mais uma data na cidade, tocamos também na Minor House, um espaço sensacional que lembra muito alguns squats que tocamos na Europa.
Um lugar onde nos sentimos em casa e conhecemos pessoas que vivem o hardcore no dia a dia e tem muita informação para passar. Saímos de Poa revigorados!!
8- Que proporções de importância um festival assim tendo segmentos anuais pode ter para a cena num todo?
Quando os shows começam a ter uma frequência, a tendência é fortalecer a cena, com certeza.
Por mais que hoje em dia seja possível conhecer muito de uma banda pela internet, ver vídeos etc, nada substitui a experiência de ver um som ao vivo. Isso forma público, instiga a molecada a querer montar banda, instiga os “véios” a se mexer, hah, é bom para todos.
Por isso, mais uma vez, sabemos das dificuldades de produzir shows de hardcore no nosso país, então iniciativas como essa devem ser valorizadas e repetidas o máximo possível.
Quanto mais shows, mais as pessoas se envolvem, mais a cena se movimenta e acontece de verdade. Ver banda ao vivo é vida real, não existe apenas no mundo virtual.
9- Em junho vocês tocaram em mais uma edição do festival “SPHC”. O festival tem uma importância alta por levar o nome do estado que talvez mais fomente o hardcore no Brasil, qual é a proposta do evento, e qual a importância dele?
O SPHC é um festival que a gente começou a fazer em 2001, esta foi a décima nona edição.
O nome São Paulo Hardcore não tem nenhuma intenção de bairrismo, é só uma maneira de identificar de onde a gente veio mesmo. A proposta desde o começo sempre foi juntar bandas de estilos diferentes, seja dentro do hardcore ou até mesmo do rap, que muitas vezes tem muito em comum com as coisas que a gente acredita. É a maneira que encontramos de mostrar as nossas ideias e chamar gente que pensa parecido para celebrar a nossa cultura com a gente. Não só bandas, mas também fotógrafos, zineiros, artistas de rua, documentários, enfim, a gente tenta colocar bastante informação para circular. A importância do festival pra nós é manter o espírito “faça você mesmo” vivo. É muito legal ver que o festival vem crescendo e ganhando força ao longo dos anos. E o mais importante é que fazemos questão de tentar construir um ambiente livre de preconceitos, onde não haja espaço para racismo, homofobia, etc.
10- Por ser uma banda referência, a banda cuida da sua postura por ser um exemplo para a molecada nova que esta iniciando? Como vocês vêem isso?
A gente sabe que tem uma responsabilidade, que um moleque que está conhecendo a cena agora vai procurar saber das bandas que estão ai o que elas têm a dizer e, principalmente, se agem de acordo com as ideias que defendem. Mas isso pra nós é uma coisa natural. Não estamos adotando um discurso x ou y na tentativa de agradar multidões ou parecer melhores que ninguém. A gente tenta botar nas letras, nas entrevistas, nas atitudes, aquilo que a gente acredita realmente que é importante e que devemos seguir. Somos pessoas, podemos e vamos errar também, claro. Mas estamos abertos ao diálogo e às críticas, desde que feitas com respeito. A cena é construída por todos os envolvidos o tempo todo, queremos dar a melhor contribuição que a gente puder.
11- O que o Questions tem ouvido? No raio X da banda, quem vem fazendo bem as coisas, merecendo destaque?
Dois destaques de bandas novas de caras “véios”, hah! Do Brasil o Institution, banda não tão nova assim, mas que chegou fazendo o corre certo e vem conquistando um espaço muito merecido. Som, ideias e shows foda, que tenham vida longa!
E gringo tem o World Be Free, projeto que junta caras do Strife, Terror e Gorilla Biscuits. Saiu o primeiro disco no ano passado, pegada bem legal.
12- Ainda falando sobre o “Pushed Out … of Society”, qual é a proposta do cd, sobre o que ele fala, e o que a banda espera do público em relação a estas músicas?
O disco fala da sensação de se sentir excluído. As oportunidades da vida moderna e o acesso à cultura e educação de qualidade existem para poucos. Sem falar do poder de compra da maioria das pessoas, que não atende o mínimo necessário para uma sobrevivência decente. Achamos que o estado não cumpre o seu dever de prover o básico: saúde, educação, moradia, transporte e segurança, achamos que as elites não estão nem um pouco interessadas em abrir
mão de pelo menos uma parte dos seus privilégios para buscar uma sociedade menos injusta, achamos que o hardcore é veículo importante de informação e conscientização e finalmente, achamos que por todo o planeta a intolerância em relação à diversidade de cores e gêneros é um problema muito grave. Estamos em 2016, ao mesmo tempo parece que estamos na idade média. Racismo, homofobia, pessoas defendendo discursos de ódio e ideias fascistas… uma vergonha. Temos que diariamente nos posicionar contra isso.
Esse disco foi lançado em vinyl e cd na Europa Toanol Records, em fita K7 pelo selo Mustard Mustache, ambos da Alemanha. Aqui no Brasil, saiu em cd pela Seven Eight Life e em K7 pela Hearts Bleed Blue. Desde que lançamos o disco, tivemos muitas reações positivas vindas de vários cantos do mundo. A tour na Europa no ano passado foi umas das melhores que a gente fez, além de tocarmos nos festivais, tocamos também com bandas que são referência pra nós, como Ratos de Porão e Madball.
A gente adotou uma postura mais direta na hora de escrever as letras, muita gente se identificou, e isso nos incentiva a continuar na luta!
13- Como estão as demais datas? Vem tour na europa este ano?
Esse ano infelizmente não vamos para a Europa. Apesar de gente querer bastante, a situação aqui está complicada, ai no começo do ano conversamos e resolvemos focar no shows pelo Brasil, além de escrever material novo. Então estamos fazendo vários shows por ai. A próxima parada é Goiânia e Brasília, nos dias 18 e 19 de junho.
Deve rolar outra tour pela Europa em 2017.
14- Contatos, merchan:
Opa, tá ai a lista!
*Facebook:* www.facebook.com/questionsbr
*Bandcamp:* www.questionshc.bandcamp.com
*Youtube:* www.youtube.com/questionstv
*Site:* www.questions.com.br
*Twitter:* @questionshc
E a lojinha:
http://questions.iluria.com/
15- O CEP agradece o tempo disponibilizado para responder nosso email, e pedimos que deixem uma mensagem da banda para fans, amigos, leitores do C.E.P.?
Muito obrigado pelo apoio que recebemos ao longo desses anos, é muito importante para nós!
Para tod@s que se identificam com as músicas, nos mandam mensagens, fazem tatuagens, vão nos shows, trocam ideias… a gente se sente privilegiado de ter contato com tanta gente, ainda mais quando sentimos que pudemos contribuir com alguma coisa positiva. Saibam que nos inspiramos em vocês e assim encontramos forças para continuar na luta!
Para quem não nos conhece, tá ai o convite, o Questions pode não ser a banda com os melhores músicos, ou com as músicas mais elaboradas, hah, mas pode ter certeza que o que fazemos é de coração!
Positive Hardcore!
Conheça o Questions em vídeos:
The Same Blood
Those Days
The Same Blood Lyric