Que o Raimundos é uma das maiores forças do Rock Nacional isso é indiscutível. Com a morte do baixista formador da banda, o grande Canisso, muito se especulou inclusive se a banda teria forças para prosseguir a carreira. Essa semana tivemos a notícia, através da Rádio 89 FM, que a banda cumprirá sua agenda com o Baixista Jean Moura, que é Roadie dos caras desde 2015 e já fez alguns shows como Sub do Canisso inclusive. O CEP conseguiu uma entrevista exclusiva com ele, segue o papo abaixo:
Primeiramente gostaria de agradecer falar com O Cultura em Peso, e a primeira pergunta não poderia ser outra, como foi que você recebeu a notícia que estaria assumindo as 4 cordas do Raimundos? Você em algum momento imaginou essa situação?
R – É uma honra estar falando com o Cultura em Peso, ainda mais depois dessa semana que a gente passou e não poderia começar ser melhor falando com vocês. Cara, em nenhum momento eu imaginei que isso fosse acontecer, em nenhum momento nenhum de nós poderia imaginar que o Canisso fosse falecer, tem muita gente falando muita coisa, fazendo conjecturas, mas só quem estava ali, perto para saber das coisas como realmente foi. Foi uma notícia que chocou não só a equipe do Raimundos, mas o mundo inteiro, ele era muito querido por todas as tribos, não havia ninguém que falava mal dele, era um cara incrível!!! Cara, eu nunca imaginei que poderia receber um convite desse, partiu do Digão e da família do Canisso e isso foi uma decisão de muita responsabilidade, porra, o cara é insubstituível, não tem como, e a minha amizade e respeito pelo Canisso foi desde o começo muito sincero, ele era muito amigo, a gente tinha uma amizade muito natural, a gente era parceiro, gostávamos de várias bandas em comum, o ritmo de estrada também nos aproximou muito, no ônibus a gente ficava tocando vários sons, a música une as pessoas, foi muito natural, era um grande camarada e nunca na minha imaginei que isso fosse acontecer e agora que aconteceu vamos honrar ao máximo o legado do Zé, que é o Canisso.
Você largou de trampos “convencionais”, começou a carreira como Luthier e depois Roadie até chegar no Raimundos, onde se firmou, comente um pouco da sua trajetória.
R- Cara, larguei os trampos convencionais por ficar injuriado mesmo, fiquei 5 anos em uma empresa, depois larguei, entrei em outra e não deu muito certo também, fui ficando velho e fora do mercado de trabalho e resolvi dar aulas de música em primeiro lugar, venho de uma tradição familiar de músicos, meu avô e meu Tio davam aula de música, todos eram multi-instrumentistas, e eu segui a mesma pegada, comecei com a bateria, mas toco guitarra, violão, violão clássico, baixo; depois das aulas comecei com a Luthieria, a Hell´s Luthieria, e comecei a regular os instrumentos da galera, quando abri a Luthieria eu pensei comigo que poderia também cair na estrada como Roadie, porra, se eu sei regular um instrumento na oficina, também posso regular em um show e dar esse suporte na estrada, divulgando assim a minha marca e em troca disso uma parceria com os músicos para que me ajudassem também na divulgação, uma via da mão dupla, como eu sempre toquei em uma penca de banda, nasci praticamente dentro de um estúdio, pois acompanhava meu Tio sempre em ensaios da banda dele, aí já sabia ligar uma caixa, ligar uma pedaleira, jogar de uma caixa pra outra, etc. comecei com algumas bandas daqui de Santo André mesmo, depois fui Roadie do Worst, que foi a primeira banda maior que eu peguei pra trabalhar, os caras estavam bombando, tinham acabado de lançar o Instinto Ruim e faziam muitos shows, teve o Torture Squad também, que me levou pra estrada de vez, fizemos uma grande Tour viajando durante 30 dias, na Tour do “Return of Evil”, quando a May e o Rene entraram na banda. Nessa época eu tocava com um brother, o Fernando e a gente tocava uns Hardcore estilo Madball, Sick of it All, saca, sempre gostei dessa pegada de batera, depois de um tempo o Fernando me liga e disse que o Pai dele trabalhava com uma banda que estava precisando de um Roadie mas não me falou que banda que era, aí me liga o Anísio Lima, produtor do Raimundos, que esta a séculos com a banda, vários roadies do Raimundos estão com eles desde o começo, vários já viraram produtores, mili anos de rolê, os caras são Heróis da Resistência, enfim, aí ele me liga e disse que precisava de um roadie para guitarra, é para o Raimundos, eu ainda perguntei pra ele se era pro Raimundos Cover hahaha, mas não, era pra banda mesmo, no Domingo já estava ali, próximo a rodoviária entrando em um ônibus gigante e encontrando os roadies da época me cumprimentando, eu com uma maletinha pequena, com um WD-40, um jogo de chaves e uma tape branca, que parecia uma lancheira, não cabia nada de ferramenta, quando eu vi aquele ônibus fiquei assustado, era equipamento pra caralho, 4 caixas de guitarra, 2 de baixo, bateria no case, uma pá de coisa, aí eu pensei, mermão, chegou a hora de eu mostrar quem eu sou, então foi desde aí.
Como é o clima da banda nos ensaios? O que podemos esperar do Raimundos após a inusitada passagem do Canisso?
R- A estrada é o estúdio de ensaio do Raimundos, é uma banda muito profissional, os caras já sabem o que fazer, muitos anos de estrada, o mais legal é que os shows são memoráveis, tem muita gente que vem falar com a gente que um dos melhores shows que já assistiram foram do Raimundos, na década de 90 teve shows que a galera fala até hoje como o do Monsters of Rock dentro outros, todo mundo teve um show do Raimundos inesquecível. São quatro amigos tocando e o clima sempre foi de boa, amizade antiga. Sobre o que esperar, era uma coisa que ninguém estava esperando, o que a gente quer fazer é uma homenagem aos fãs da banda, a todos que nos apoiam nessa decisão, eu nunca recebi tantas bençãos dos fãs, a gente precisava desse feedback dos fãs, a banda sempre respeitou e conversou com todo mundo, o Canisso estava sempre ali na Graxa, a gente sempre saía na Rua, sempre falou com todo mundo, até quem não sabia quem ele era, ele gostava de falar com todo mundo, sempre conversava com os fãs, dava conselhos, muitos perrengues que eu passei ele me dava conselhos que eu sigo até hoje, uma vez estava com o Fred nos bastidores e de longe a gente comentou, olha o Canissão, o Pai de todos, lembro-me de uma vez estar morrendo de frio em um show, não tinha levado blusa e ele estava cheio de blusa, parecia um esquimó, ele me deu uma bronca porque estava sem agasalho, abriu o case do baixo e sacou uma blusa, saca, ele cuidava de todos nós, era surreal. Agora temos que tentar suprir essa falta dele com muito amor e respeito à obra do cara, o legado dele, ele é a maior referência pra mim, vou dar o máximo para suprir isso junto aos fãs da banda.
Como os fãs da banda estão percebendo a notícia da sua entrada para assumir os baixos do Raimundos? Tem muita gente falando com você?
R – No geral a galera está apoiando bastante, sempre tem aquelas pessoas que não aprovam, eu compreendo, a partida do Canisso não está sendo fácil pra ninguém, você colocar uma pessoa no lugar de alguém numa banda consolidada é difícil, mas tem que ver que várias bandas passaram por isso, com coisas ligadas a morte…mas graças a Deus tem muito fã apoiando, por ver que o que eu tinha com o Canisso era uma coisa muito verdadeira, a gente era parceiro, então tem muito mais gente aprovando do que reprovando, a galera pede pra gente ir tocar na sua cidade, está rolando uma compreensão animal, sabe, e esse carinho deles é muito gratificante, a gente precisa muito disso, o apoio da família do Canisso tem sido muito importante pra mim, pra levar a história dele adiante, essa força que eu tenho recebido é surreal e isso me motiva muito a ir em frente, aos que estão sendo contra, eu entendo também, está tudo bem mesmo e eu mando um grande abraço a todos.
Você teve apoio da família do Canisso inclusive, que foi um diferencial para que a banda o escolhesse pra acompanhá-los nessa Tour, como é substituir um grande amigo, é o seu maior desafio na vida?
R – Tive muito apoio da família sim, também apoiamos bastante eles nesse momento tão difícil essa semana, desde a segunda feira passada até agora, substituir o Canisso é uma missão pesada, saca, o Canisso tinha um jeito único de tocar o baixo, a pegada dele só ele tinha, se eu não estiver tocando com a pegada dele, não vai soar como Raimundos, entende, não sai nada parecido, é igual você substituir o Jimmi Hendrix saca, substituir um músico que tem uma identidade é muito difícil, mas a gente vai tentar fazer o máximo para que o som esteja fiel ao que ele fazia, pra mim é uma puta honra, já tinha feito dois shows substituindo ele quando ele fez uma cirurgia recentemente, ele que me convidou no Aeroporto e foi uma oportunidade única, ter a confiança dele pra isso, ele podia escolher quem ele quisesse, podia chamar caras de outras bandas, mas ele me escolheu, isso foi um reconhecimento maior que qualquer dinheiro, foi único por ele ter me escolhido, isso fortaleceu pra caralho a nossa amizade, ter a confiança do Mestre, ter ido até a casa do Mestre pra tocar os sons, porque eu via a banda tocar, já sabia todas as músicas, achei que seria fácil, quando a gente sentou junto pra fazer o som, ele me falou daquele jeitão dele “Tá tudo errado” hahaha, tem ser nessa pegada, essa parte toca com esse feeling, senão não vai soar Raimundos, me lasquei, aí a gente ficou a tarde inteira lá tocando, inclusive a foto que 89FM postou foi daquele dia, estava eu, ele e o Rafa, que é o outro Roadie da banda, que acompanhou a gente na guitarra, a gente ficou o dia inteiro pra eu pegar o jeito dele de tocar, no final do dia ele disse “Agora sim está na pegada do Raimundos, você está pronto pra fazer os shows”. Os shows rolaram legal, a resposta do público foi muito positiva, o público do Raimundos é uma galera que respeita os músicos, mas te digo que não foi nada fácil fazer esse Sub, até porque a galera estava esperando o Canisso tocar e não eu, mas fui muito bem recebido e as pessoas vieram após o show com um retorno muito positivo.
Finalizando, gostaríamos de agradecer a oportunidade de falar exclusivamente com a gente e deixe um recado para os fãs da banda e para galera do Cultura em Peso.
R – Quem é do rolê sabe do corre que o Ricardo Brigas e o Cultura em Peso fazem para poder mandar essas informações, vamos valorizar esse corre, porque é sempre bom ter informação do som que você gosta, eu desde moleque comprava revista de banda, a Metal Head, lembra? Que vinha com uma revista de Tattoo junto, por causa disso virei um viciado em Tattoo também, outra paixão que eu tenho, por isso que eu digo, a informação tem que ser correta, continuem lendo o Cultura em Peso, que os caras sempre buscam a informação sem distorção e vamos valorizar o trampo dos caras porque eles o fazem com muito carinho e muito amor pra notícia chegar da melhor maneira para vocês, gostaria de agradecer todos o fãs da banda, todo carinho que tenho recebido, são muitas pessoas, essa semana falei com muita gente, tentando fazer igual o Canisso fazia, que ele respondia todo mundo, então quero deixar meu agradecimento a todos fãs, novos, antigos, à legião de fãs do Raimundos, que a gente possa sempre representar o Canisso com muito amor e respeito máximo a toda trajetória e ao legado que ele deixou. Estejam com a gente nesse momento, precisamos de todas as pessoas perto, nos apoiando, apoiando a família do Canisso, à graxa. Obrigado pelo apoio, obrigado pela entrevista e obrigado pelo convite para que a gente pudesse expor a real da parada.