Há dias em que os concertos, mais do que isso, têm mais o caráter de uma festa. Isso era precisamente o que se vivia no evento organizado por OLISKULL, onde a banda de hardcore de Sevilha MARABUNTA apresentava seu novo álbum de estúdio, EL DEDO EN LA LLAGA. Para a ocasião, eles foram acompanhados não apenas por duas bandas, mas por dois grupos de amigos: um vindo de Málaga, VERDUGO; e outro, de Lleida, MMHC (MEMENTO MORI HC).
Tudo parecia que ia ser um tremendo sucesso, já que de antemão haviam vendido 75% da lotação e, com os ingressos vendidos na bilheteria, a SALA LA2 estaria lotada. Infelizmente, nem tudo ia correr como planejado, pois uma série de complicações causou um pequeno atraso na abertura das portas, algo que afetou (embora não muito) a duração das apresentações das duas primeiras bandas.
Os primeiros a pisar no palco foram MMHC (MEMENTO MORI HC), que, com um tom brincalhão, se apresentaram como os próprios Marabunta que estavam apresentando seu novo álbum, embora tenham começado com um de seus primeiros discos, Ball de Bastons. Com os primeiros acordes, já começaram a ser vistos os primeiros bailes hardcore e algum moshpit nas primeiras filas. Continuaram com Trenca e Reinici, com um ritmo muito alto para que o público começasse a se aquecer para a noite que se aproximava.
Novamente, MMHC (MEMENTO MORI HC) se apresentou, mas desta vez como Verdugo, para continuar a festa com Guaita Ruc e Parlen els Carrers. As danças e os moshpits não paravam (até houve vários concursos de flexões na primeira fila do público mais jovem) pela adrenalina que o hardcore desta banda injeta. Uma vez apresentados como MEMENTO MORI, o trio catalão continuou com Messies e No Ha Desaparecut.
O som estava muito bom e a iluminação era decente para poder ver o concerto sem nenhum tipo de problema (depois vão ler por que digo isto, até podem ver os resultados nas fotos). O concerto decorria sem problemas e as pessoas estavam totalmente entregues, mas, como se diz, tudo o que é bom acaba. O toque final foi com Revolta, para que Miki apresentasse cada membro, agradecesse a todas as partes envolvidas e terminasse de se render ao público sevilhano que, mais uma vez, os acolheu de braços abertos.
Certamente, MMHC é uma aposta segura para um grande concerto se você gosta de música hardcore, pois desfruta de um espetáculo em todos os sentidos, tanto musical como pessoalmente, pois eles conseguem criar uma proximidade que mais de uma banda gostaria de ter, pois sendo apenas um grupo de três membros, o palco ficava pequeno para eles.
Após o clássico intervalo em que há troca entre bandas, chegou a hora de VERDUGO, que há bastante tempo não voltava à capital andaluza. Se antes falávamos do tom humorístico de MMHC, eles não iam ficar para trás. Com uma introdução com um toque cinematográfico com a clássica introdução da 20th Century Fox, eles deram uma guinada ao transformá-la em uma versão “shittyflute” com essa brincadeira (ou “guasa” como dizemos na Andaluzia) para, de repente, sentir um tapa de brutalidade no rosto começando com Cómo Quieres Empezar.
Naquele momento, as coisas na sala começaram a mudar. Nas primeiras filas, ouvindo as músicas de Atrapado en Mí e Narco, o som não estava ruim, mas, conforme eu me afastava um pouco para ter diferentes pontos de vista, a qualidade caía e não se ouvia com a mesma nitidez que na atuação anterior. Mesmo assim, as pessoas continuavam realmente entregues à banda e havia energia para continuar com os moshpits.
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Verdugo, como é habitual neles, saiu para comer o palco e a dar o melhor de si. Mas parecia que desta vez iam encontrar um par de pedras no caminho, já que, além dos problemas de som já comentados, se somaram os problemas de iluminação. Sinceramente, não sei o que aconteceu entre uma banda e outra ou o que foi discutido com a equipe de iluminação, mas a monotonia do vermelho no palco (para não dizer que havia zonas em que diretamente não se via nada) faz com que um concerto se torne plano, embora não seja culpa do grupo que está no palco.
Independentemente dos problemas que não eram da responsabilidade da banda, o quinteto de Málaga continuou tentando derrubar a sala quando continuaram com Por Toda la Vida e Desgraciado. E, quando menos esperavas, o grupo começou a apresentar os membros da banda e a avisar que sua apresentação estava chegando ao fim porque tinham que dar lugar às atrações principais, sendo a melhor maneira de fazer isso com duas de suas grandes músicas, que são En Un Lugar e Opresión.
Não sei se foi porque decidiram tocar mais rápido também ou porque me pareceu um ótimo concerto por parte do Verdugo, mas o concerto do quinteto malaguenho passou voando para mim. A única parte negativa a destacar seria precisamente os fatores que não dependiam deles, que eram a iluminação e o som.
Após o último descanso, chegava a hora da verdade, aquela que todos estavam esperando: MARABUNTA voltava a subir ao palco, jogando em casa e apresentando seu novo disco.
Com seu toque reivindicativo e solene, o grupo começou como sempre foram, uma verdadeira força. O que eles fizeram foi sair do convencional em um concerto de apresentação de um novo trabalho, já que o início foi com um trio de músicas de seu trabalho anterior, SIEMPRE PRESENTE, sendo as escolhidas Cobarde, Gusanos e Rutina. Quando pensei que não poderia haver mais energia na área do público, as danças e os moshpits não pararam nem neste concerto, parecia que as baterias das pessoas não se esgotavam.
Após aquecer tanto em cima quanto embaixo do palco, Alberto (um dos dois cantores da formação) agradeceu a todas as pessoas que compareceram naquela noite à sala na Calle José Díaz porque, como dizia a música que tocava naquele momento, estavam voltando com tudo, com seu novo disco, porque era o momento de apresentar ao vivo o novo com o tema que dá nome ao seu novo disco, EL DEDO EN LA LLAGA.
Fazendo um breve análise do que eram os fatores que dependiam da sala, só posso dizer que com o som não havia mudança entre este grupo e o anterior mas, com respeito às luzes, parece que houve uma leve melhoria (embora não muita, o suficiente para poder brincar com a câmera entre luzes azuis, verdes e roxas).
Voltando ao concerto, com um público que chegava quase até o final da sala e que estava nas mãos da banda sevilhana, a festa de apresentação seguiu com as músicas com um grande componente reivindicativo, como Falta de Fe criticando a igreja católica e Bribón, na qual critica a monarquia espanhola. No entanto, após estas duas, a próxima estreia contava com uma surpresa, já que Miki de MMHC se juntou a eles para a colaboração que têm em Aporta o Aparta, uma música que soa igualmente bem tanto no disco como ao vivo com esta combinação.
Houve novamente um momento em que se podia respirar um pouco, já que Alberto falou sobre a importância que o anterior disco tem para eles, para não mencionar o enorme peso sentimental que tem. Por isso, voltaram a olhar para trás para tocar um de seus hinos, a música que lhes dá nome, Marabunta. Naturalmente, os cinco estavam fazendo o palco parecer pequeno para eles (embora não fosse muito difícil pelas suas dimensões), tendo que destacar o papel de Johnny no baixo, pois era o primeiro concerto que dava com a formação e parecia que estava com eles há muito tempo pela soltura com que se via ele.
O peso deste álbum se fez notar durante este trecho, pois continuaram fazendo uma revisão deste, quando seguiram com Mis Héroes, Mercenarios de Almas e Odio, todas elas carregadas desse componente reivindicativo e social que sempre carregaram como bandeira.
Quando pensávamos que não haveria mais surpresas, era hora de testemunhar outra das três colaborações presentes no álbum, pois também se aproveitou a presença de Taruga, vocalista do VERDUGO, para se juntar à música Mr. Winstrol.
Já se aproximava o final e, para fazer algo especial, montaram um wall of death onde Miranda, guitarrista da banda, desceu para a área do público, e o resto começou a lançar bolas insufláveis quando começaram a tocar as duas últimas músicas da apresentação, Medios e Ni Olvido Ni Perdón. Mas a coisa não ia ficar por aí, pois o hino, sua canção de bandeira, era a que deveria encerrar aquela noite: Hecatombe.
Marabunta estava há três anos e meio sem fazer um show em sua própria cidade, voltaram apresentando um novo trabalho e, além disso, com um novo membro na formação. Apesar de tudo isso, deram um show nota 10, com surpresas, momentos emocionantes, de denúncia social, de risos, com uma sala lotada e que colocou tudo de cabeça para baixo. Só posso dizer que, para aqueles que gostam de hardcore, aproveitem para comparecer (se puderem) a algum dos shows confirmados deste tour de apresentação de EL DEDO EN LA LLAGA.
Em termos gerais, OLISKULL começa este 2024 com sucesso em termos de público e ambiente na sala. As bandas saíram para dar o seu melhor e, sem dúvida, demonstraram isso, e um bom exemplo disso era ver constantemente, não importa para onde olhasse, alguém fazendo um mosh ou headbanging. A única coisa negativa que posso dizer sobre este evento foi que, exceto pelo pequeno atraso, tudo foi culpa da sala, já que, para mim, foi uma montanha-russa: o som e a iluminação começaram muito bem, mas depois houve uma queda acentuada para depois ter uma leve subida. Espero que seja a única vez que algo assim aconteça nesta sala, já que é o primeiro evento de metal que eles realizam.