Em 2025, a Dissonant Seepage, banda nova-iorquina de Brutal Death Metal, ressurge com um novo álbum, “Dystopian Putrescence”, sendo o segundo da sua trajetória, que será lançado em 6 de junho de 2025. O álbum é composto por oito músicas que trazem como tema central uma entidade cósmica maligna renascida das entranhas da mais pura excrescência pestilenta, sanguinolenta e pútrida que só o Brutal Death Metal oferece com excelência.
Durante a audição do álbum, algumas questões surgiram à mente, principalmente relacionadas à convicção de que a música ressoa conforme o lugar onde foi criada, e da mesma forma, a maneira como os músicos sentem tudo à sua volta. A música vibra no espaço-tempo e mentalidades, e reflete o espírito do tempo ou “Zeitgeist[1]“em alemão, e tem como característica essencial a possibilidade de capturar sentimentos e emoções prevalentes em um determinado período, lugar e pessoas.
Assim, ao escutar a experiência sonora que é o novo álbum do Dissonant Seepage – “Dystopian Putrescence”, que tem como tema uma entidade cósmica maligna renascida, decadente, desolada e corrompida pelo desespero apocalíptico, tipo lovecraftiniana, coube a mim, reles mortal e redatora, utilizar como instrumento cognitivo e reflexivo um jogo de escalas, com o qual foi possível perceber tanto no micro como no macrocosmo a miséria da condição humana e sua bestialidade, ao longo da existência, em diferentes continentes, contextos, línguas e etnias, e concluir com convicção que a audição de “Dystopian Putrescence”, se faz interessantíssima e necessária, pois se no mundo onde vivemos só existissem flores, paz, nutrição e dias de sol e céu azul, talvez nós só escutaríamos “iê,iê,iê”, mas a nossa realidade é diversa, brutal, putrefata e distópica em muitos aspectos e por isso “Dystopian Putrescence”, criado sob o espectro delicioso do gênero estético do grotesco[2], ressoa imprescindível e atemporal.
Atualmente contratados pela Comatose Music e com base em Rochester, Nova York, o Dissonant Seepage vem se consolidando na cena do Brutal Death Metal, com o lançamento do álbum de estreia – The Darkness Will Swallow You Whole – em 2023, com boa recepção pela crítica e fãs.
No primeiro single, Ancient Pestilence Reborn, lançado em 31 de março de 2025, apresenta um moderno Brutal Death Metal, com transições rítmicas intimidadoras e muita brutalidade que funciona como um chamado ou o anúncio do que está por vir. A bateria destruidora de Anthony Ferro e os blast beats, as guitarras e riffs arrebatadores de Daniel Fili, tudo bem orquestrado com linhas de baixo vibrando nitidamente e o vocal ultra rosnado de Cody McConnell, que conjuntamente iniciam essa experiência sonora sufocante e avassaladora. Na sequência, Immortal Until Decay, segundo single lançado em 12 de maio de 2025, não muda o tom assombroso e desolado, seguindo a mesma receita inicial.
Em “Dystopian Putrescense” a entidade cósmica maligna, transcendente e renascida, carregada de malevolência e angústia, arrasta um rebanho de adoradores e seus corpos purulentos, sedentos de maldade e loucura sistêmica, indicando um futuro decadente e pestilento, o que é nítido nas oito músicas que compõem o álbum e que vão na mesma linha de The Darkness Will Swallow You Whole, álbum anterior lançado em 2023, que difere principalmente por apresentar um andamento mais lento, sem perder a brutalidade do gênero. Tecnicamente bem feito e com letras que tratam de putrefação, distopia, desolação, sanguinolência, morte e destruição, traz uma paisagem sonora sombria que reflete a putrescência distópica que é o álbum, com destaque para as músicas Immortal Until Decay, Constructing Flesh Into Shit e Rotting Monument por suas transições rítmicas doentias e riffs explosivos. Em Gargling Nails e Optimize Extinction, o caos sonoro impregna a mente como um pesadelo em repetição infindável, com riffs perturbadores, sendo Optimize Extinction a minha preferida do álbum. Em Dead Carcass To Worship e por fim, Dystopian Putrescence encerram com impecável brutalidade, riffs putrefatos em meio ao horror imundo de distorção e desespero, finalizando a experimentação sensorial, a infiltração dissonante e sonora impactante.
Tracklist:
01. Ancient Pestilence Reborn
02. Immortal Until Decay
03. Constructing Flesh Into Shit
04. Rotting Monument
05. Gargling Nails
06. Optimize Extinction
07. Dead Carcass to Worship
08. Dystopian Putrescence
Dissonat Seepage:
Cody McConnell – Vocal/Baixo
Daniel Fili – Guitar
Anthony Ferro – Bateria
Lançado pela Comatose Music, o álbum foi gravado, mixado e masterizado no Atrium Áudio (August Burns Red, Rivers Of Nihil, Black Crown Initiate, etc.). A arte da capa é de Pär Olofsson (Immolation, Exodus e Unleashed) e explora uma paisagem sufocante e assombrosa, com uma entidade cósmica renascida e malevolente em um mundo em dissolução distópica, que arrasta um rebanho desolado e decadente em meio ao caos e loucura sistêmica, indicando um futuro sombrio, putrefato e pestilento.
Nota:9,5/10,0.
Gênero: Brutal Death Metal
Mais informações:
https://www.facebook.com/dissonantseepage
https://www.comatosemusic.com/
[1] Zeitgeist, conceito universal encontrado em diferentes culturas, principalmente no Ocidente, que significa “espírito do tempo” em alemão, foi popularizado por Johann Gottfried Herder e Hegel. Pode ser caracterizado como conjunto de ideias, valores, crenças e tendências que definem uma determinada época, que conecta diferentes esferas da vida social e grupos sociais e se estende ou não por diferentes contextos geográficos.
[2] Grotesco – a palavra remonta ao Renascimento, tendo origem na palavra italiana “grotta” que significa caverna, e passou a ser utilizada após o achado de pinturas em ruínas romanas, com figuras híbridas e distorcidas, que marcaram uma quebra das normas de beleza clássica. Posteriormente, a categoria estética do grotesco desenvolveu-se no século XIX, associado ao estilo literário gótico, marcado pela presença de elementos que combinam aspectos estranhos, fantásticos, sombrios, macabros e irreais aparentemente inerentes à realidade, mas, ao mesmo tempo, distante dela, estando associado também a categoria do cômico.