Em “Eternally Enthroned”, o Furnace, banda sueca de death metal melódico apresenta o seu sexto álbum completo, depois de Trojan Hearse (2024), The Casca Trilogy (2023), Stellarum (2022), Dark Vistas (2020) e Black Stone Church (2020).

Para começo da conversa, vale perguntar: Death Metal e o mundo fantástico e mitológico são boas combinações? Primeiramente, posso garantir que essa pergunta foi feita milhares de vezes em todo o planeta, e também posso respondê-la, é claro que sim, e mais, é possível listar uma infinidade de bandas que abordam fantasia, mitologia e literatura em suas músicas e Voilà!  Ainda bem que elas existem, rs. E é essa combinação perspicaz que podemos esperar dos mestres do jogo Rogga Johansson, Peter Svensson, Lars Demoké que com suas guitarras afiadas e o vogal rosnado marcante dão vida a uma saga épica digna dos Eddas[1], provocando os fãs a acompanhar mais essa história. Em seu mais novo trabalho “Eternally Enthroned”, o Furnace apresenta o seu sexto álbum completo, após Trojan Hearse (2024), The Casca Trilogy (2023), Stellarum (2022), Dark Vistas (2020) e Black Stone Church (2020), que traz em algumas músicas nuances do heavy metal tradional, death gótico/doom e o predomínio do death metal melódico sueco.

Formado em 2019 por Rogga Johansson (Paganizer, Demiurg, The Grotesquery) e Peter Svensson (Assassin’s Blade, Void Moon), sob a influência de Paradise Lost e Edge of Sanity, o Furnace nasceu de uma obsessão por álbuns com temática de terror e fantasia. Desde então, eles conquistaram o próprio espaço na cena metal com uma produção interessante que apresenta álbuns conceituais[2] de death metal melódico, com influências de gótico e heavy metal. Conhecidos por produzir death metal potente, simples, mas intenso, equilibrando andamentos rápidos e lentos, comumente recheados de melodias complexas, som atmosférico e envolvente, alguns de seus lançamentos notáveis ​​incluem “Dark Vistas” de 2020 e “The Casca Trilogy” de 2024.

Neste novo álbum que será lançado no dia 30 de maio de 2025 pela Obelisk Polaris Productions, o Furnace traz, como tema central nas letras, um enredo de fantasia, que conta a saga do personagem chamado Thornblade, que após uma tentativa de assassinato do Rei Tirano, inicia sua peregrinação obscura para encontrar a Deusa da Morte e suplicar pela vida do Rei. Então, uma alternativa é apresentada ao nosso herói, que deve encontrar a espada arcana ancestral Godsbane, que foi imbuída da capacidade de matar divindades e assim satisfazer a vontade dos deuses. Após obter sucesso em sua busca e como recompensa, Thornblade obtém a imortalidade para o rei, mas não sem um custo ou contrapeso, o mesmo é amaldiçoado a permanecer vivo somente enquanto estiver fisicamente em seu trono, que por fim, acaba sendo abandonado por todos e condenado a permanecer no trono eternamente.

No primeiro single, lançado em 31 de março de 2025, A Blessing and A Curse, os suecos indicam que toda a ação pode, ao mesmo tempo, ter um benefício, mas também consequências negativas. No enredo, a música aponta para a consequência do ato, no qual a vida e a eternidade são vistas num primeiro momento como benesses, mas ao longo do tempo, desvelam uma maldição. As guitarras potentes têm destaque na faixa, que apresenta nuances de heavy metal tradicional e um andamento rítmico lento e melódico, destacando trechos da letra mais reflexiva.

Nas dez músicas integrantes do álbum, há uma homogeneidade técnica, na qual é apresentado o tradicional death metal melódico com suas guitarras marcantes e riffs grudentos, linhas de baixo interessantes e a alternância entre os andamentos rápidos, com elementos de heavy metal tradicional, e lentos, com elementos do death gótico/doom, que acompanham a narrativa, destacando momentos importantes do enredo, tornando o som atmosférico e cativante. Concomitante, a mesma homogeneidade técnica e que interessa aos apreciadores do death metal melódico, como também, é fundamental para um álbum que apresenta uma narrativa, em alguns momentos pode soar um tanto cansativa, ainda mais em álbuns longos, mas essa é uma falsa primeira impressão e também, não é um indicativo da perda da qualidade ou mesmo do peso das guitarras, pois este é um trabalho em que cada parte é necessária, é focado e construído com intenção.

Em “Eternally Enthroned” a experimentação sonora/lírica e o desenvolvimento dos personagens são os elementos que tornam um álbum conceitual memorável, como em Tyrant’s Reign, primeira música do álbum, e que faz a introdução do enredo, expondo as mazelas de viver sob a tirania do Rei, apresentando a alternância entre um andamento rítmico lento e rápido, vocal rosnado, que é uma característica marcante nos álbuns do Furnace e uma pitada de heavy metal velha guarda.

Em Crow Warriors e A Good Tree for Hanging, o clima é sombrio e sinistro, a linha do baixo é interessante e ganha destaque em trechos que marcam a passagem entre o levante e a rendição. Em Thornblade, Island of the Decaying Angel, Godsbane, Beyond the Valley e To Fathom the Depths of Night nosso herói é designado entre o grupo de jovens rebeldes para uma missão, cuja jornada é extremamente difícil, para encontrar a Deusa da Morte e convencê-la a poupar o Rei de sua morte inevitável. É o momento onde há uma guinada no enredo, quando Thornblade inicia a sua saga em busca da arma ancestral Godsbane, capaz de matar divindades, passando por várias provações e desafios em terras longínquas. Aqui tudo em perfeita harmonia, death metal melódico com linhas de baixo interessantes de Peter, a bateria eficiente de Lars, o vocal rosnado visceral e viciante de Rogga, guitarras impecáveis, com pitadas de heavy metal, death  gótico/doom que expõem a miséria da condição humana através do som atmosférico, sombrio e cativante, com destaque para Dave Ingram, do Benediction, no trecho falado e impressionante, e os vocais de apoio de Magnus Hultman, do Cult Of The Fox.

Na A Blessing and A Curse, como já mencionado, a consequência do ato revela uma maldição. Ao aceitar o desígnio dos deuses, o Rei ganhou a imortalidade, mas ao mesmo tempo, o aviso da deusa indica que a vida eterna para este Rei será tanto uma bênção quanto uma maldição.  Em Eternally Enthroned há um andamento rítmico mais rápido, as guitarras são fulminantes e a bateria surge potente, também a saga do nosso herói chega ao fim, quando o destino do Rei é materializado recebendo a imortalidade, ao mesmo tempo, em que é amaldiçoado a permanecer vivo somente enquanto estiver em seu trono, e acaba abandonado e condenado a ser eternamente entronizado.

Músicas:
1. Tyrant’s Reign
2. Crow Warriors
3. A Good Tree for Hanging
4. Thornblade
5. Island of the Decaying Angel
6. Godsbane
7. Beyond the Valley
8. To Fathom the Depths of Night
9. A Blessing and A Curse
10. Eternally Enthroned

Rogga Johansson – guitarras e vocais
Peter Svensson – baixo, vocais de apoio e instrumentação adicional
Lars Demoké – bateria e percussão

Coros de Magnus Hultman
Palavras faladas por David Ingram

Lançado pelo Obelisk Polaris Productions, o álbum foi gravado nos estúdios The Rotpit e Night Wind Studios sob a direção de Johansson e Svensson. Mixado e masterizado por Svensson no Night Wind Studios. A arte da capa é de autoria de Julián Felipe Mora Ibáñez e retrata o fim assombroso do Rei tirano, e as artes adicionais são de Marie Persiani.

Vale destacar que Godsbane e Thornblade são referências para vários públicos, mas principalmente para os amantes de RPG Dungeons & Dragons, como na saga Forgotten Realms, onde Bhaal, deus intermediário da morte, foi morto pelo jovem mortal Cyric, com a espada Godsbane. Em Dragons Dogma, Godsbane nomeia duas armas no jogo: uma espada longa azul-escura e uma adaga curta, com lâmina de gládio e punho semelhante, ambas capazes de matar um Arisen. Em The Elder Scrolls IV: Oblivion, Thornblade é a denominação de uma espada longa de nível único, como também é uma das armas marciais de combate corpo a corpo em Baldur’s Gate 3. Coincidência ou não, além do álbum, os fãs podem esperar por Eternally Enthroned – The Game, um jogo de tabuleiro de edição limitada baseado na história do álbum. Projetado para 2 a 4 jogadores, o jogo estará disponível exclusivamente pela Obelisk Polaris.

Nota Álbum: 9,0/10,0

Links:
https://www.facebook.com/blackstonechurch666/
https://www.void-moon.com/
https://furnacesweden.bandcamp.com/

Pré-encomenda: https://furnacesweden.bandcamp.com/

Artista/Banda: Furnace
Título de lançamento: Eternally Enthroned
Gravadora: Obelisk Polaris Productions
Data de lançamento: 30 de maio de 2025
Formato: CD, Digital
Gênero: Death Metal Melódico
País: Suécia

[1] Eddas: são duas obras com os registros mais importantes sobre o mito nórdico de criação, como também  fontes essenciais para reconstruir a “mitologia nórdica” e a partir daí o “paganismo nórdico” e também o “paganismo germânico”. A primeira, conhecida como Codex Regius, Edda poética, Edda maior ou Edda de Sæmundr trata-se da compilação do século X e XIII dos poemas éddicos. A segunda, conhecida como Edda em prosa, Edda de Snorri ou Edda menor, foi composta no século XIII por Snorri Sturluson, político e poeta islandês, que contém diversas narrativas ou sagas sobre deuses e heróis das antigas religiões pré-cristãs da Escandinávia. Outras fontes sobre mitologia nórdiga são os achados da arqueologia e os poemas “escáldicos”, consideradas fontes históricas mais confiáveis.

[2] Álbum no qual o conjunto das músicas conta uma história ou explora um tema central de forma coesa e interligada, explorando os arranjos e letras de maneira criativa e diversificada, geralmente, com temática e tempo longo.

 

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