Mordane knoff: A banda.
Natural de Santiago do Chile, formada pelos talentosíssimos: Abraham Camaggi (lead vox) Nehemias Vega (vox) Jonathan Espina (baixo) Jaime Herrera (Guit) Alejandro Vásquez (batería) Cocke Cumplido (Lead Guit) todos os músicos altamente gabaritados e com um forte compromisso com seu estilo, conquistaram um lugar para si no sub gênero Groove metal, não apenas com sua música, mas com a sua mensagem.
A banda, com seus riffs agressivos e contagiantes, virou uma figura formidável na comunidade do metal, que encontra e define seu som no ritmo do progressivo. Um som moderno, voraz, com riffs e melodias técnicas que muscula a musicatura da banda, no qual O Mordane Knoff nos transporta a uma jornada amplamente alucinante e reflexiva.
Eu, boa apreciadora do metal – uma bela arte caótica onde me perco e me reencontro infinitas vezes – enxergo na música do Mordane a mesma beleza que em uma pintura do Hieronymus Bosch (El Bosco) uma bela obra carregada de metáforas. O desejo por mudança e pela redenção é explícito e impactante. O Mordane knoff nos fala nas suas faixas sobre a profunda luta interna que enfrentamos. O debate entre diferentes aspectos da personalidade: A luz, a escuridão, a culpa, a redenção, a máscara e a verdade. No escuro e quebrado mundo do Mordane Knoff, a luta interna se torna uma melodia.
Identidade fragmentada.
O álbum: Mordane knoff homônimo da banda, lançado em 2020, é metal, é brutal. É criatividade em forma de música. Essa banda tem algo a nos falar. O Mordane Knoff tem um perfil complexo, atormentado que busca encontrar sua verdadeira identidade enquanto enfrenta seus demônios internos. Cada música oferece uma visão sobre seu mundo interior, e suas lutas pessoais. Com seus vocais com força gutural corajosa e riffs de guitarras que te atingem como um golpe no estômago, uma ferocidade crua e inconfundível, direta, visceral e honesta, que cada dia atraem maior número de seguidores.
Mordane, o personagem: possui uma identidade fragmentada, preso entre o que ele é, e aquilo que ele aspira ser. Uma dualidade que é constante na sua vida. Uma dor emocional e desolação que enfrenta por traições, perdas, e pelos seus próprios erros. O mundo o adoece e o debilita, porém, apesar de tudo ele almeja redenção e salvação. Busca a luz, a verdade e a liberação da máscara que carrega consigo. Reflete sobre suas ações passadas e busca compreender sua própria natureza. E em algum ponto, dirige-se a Deus em busca de respostas.
TRACK BY TRACK
Sem anestesia, a genialidade se apresenta logo de cara com esta incrível faixa: Cáliz. Riffs sinistros e compassados, com uma força abrupta que bate no peito, e com potentes vocais rasgados, fiel à identidade da banda. Sem dúvidas, minha favorita do álbum. A música explora o desamor, a traição, a dor e a resiliência. Descreve uma experiência dolorosa de traição e perda. O narrador compara a traição com a sua própria imagem e a dor com a de alguém mais. Apesar da dor, Mordane persegue o perdão. Os ”buitres” (urubus) simboliza a malícia e vingança. Concluindo com o som cadente que representa a resignação e aceitação da perda.
Com uma musicalidade mais “tranquila”, porém mantendo as técnicas de alto nível, chega Buitres, sem muita pretensão; começa com uma sensação de segurança e bem-estar, porém logo se revela a presença de “Abutres” que oferecem algo a cambio de medo. O narrador aceita, mas adverte sobre as consequências. À medida que a canção avança, a força característica, e os guturais rasgados aparecem. Neste tema se critica a manipulação e as falsas promessas de poder, amor e liberdade. Mordane, sente-se atrapado e lamenta as perdas. Finalmente, insta a despertar e questionar a realidade imposta por esses “abutres” que nos mantêm prisioneiros do medo.
Com uma composição bem mais soturna que a diferença do resto, a canção carrega um clima sombrio e melancólico, expressa uma sensação de opressão e culpa. O narrador sente-se preso e busca respostas sobre a sua identidade e seu sofrimento. Pede Compreensão e libertação, embora a dor, almeja se sentir vivo e encontrar uma luz que o guie.
Com som avassalador, vigoroso, e cheio de brutalidade: “No cambiaria” descreve um longo período de duelo, e como se transformou em uma parte familiar da vida do Mordane. Os pensamentos oscilam e mancham o que toca. Preso como um animal raivoso. Apesar da possibilidade de que nada volte a ser igual, e de tudo ruim na sua vida, sente o propósito em todo o vivido. Reflete sobre as decisões passadas e se pergunta se tudo valeu a pena. Enfrentar o passado não lhe faz bem.
Esta faixa explora a escuridão interna, bem como a incorporação de estruturas lírica e sonoramente complexas com o peso próprio do heavy metal. “Caer” sugere um estado emocional escuro. Experimenta a dor física e emocional. Usando metáforas como “cair” e “ficar em pé” como uma luta constante contra a adversidade. Mordane busca apoio e deseja ser levantado por alguém mais.
Com força visceral e potentes guturais, abre esta última faixa, com uma sonoridade de natureza experimental e agressiva, passagens complexas e riffs contagiosos, para encerrar esta incrível obra-prima. Mordane Knoff finalmente se enfrenta a sua própria hipocrisia e a máscara que havia usado para ocultar sua verdadeira natureza. Se debate entre ser “bom” ou “ruim”, e finalmente se converte no que sempre odiou.
Um chamado à salvação. Apesar de suas falhas, almeja ser resgatado. A voz de alguém mais lhe insta a tirar o peso da falsidade. A máscara simboliza a falsidade e o autoengano. Afinal, a verdade prevalecerá, e para a banda, essa verdade é uma pessoa. (Uma com nome e sobrenome).
Para finalizar, e fazer mais curta esta história; Mordane knoff é um álbum preciso, caótico, um requinte brutal sobre a arte sombria da música pesada, urgente e necessária. O baixo robusto, vocais assoladores, riffs vorazes e bateria que soa como um exército prestes a atacar com autoridade. Em cada nota, em cada verso, se enfrenta a seus demônios, buscando respostas, mas a resposta será a que irá por ele.
A história de Mordane Knoff, se conta em 26 minutos desafiadores. É uma oportunidade que nos convida, de maneira pouco usual, a nos comparar com sua viagem. A proposta artística e conceitual se torna um farol na tormenta. Como ouvintes, somos testemunhas da busca, sendo um hino para quem espera que algum día, a paz e a luz emerjam a nosso passo de jeito direto, radical e cósmico. Não deixem de ouvir esse incrível álbum, e lembrem de tirar a sua `Máscara’. Até mais.
Tú eres Mordane.
Yo soy Mordane.
Todos somos Mordane Knoff.