A noite passada de sábado, 11 de maio, ficou marcada por uma viagem a uma profunda escuridão que o black metal é capaz de nos levar. Esta tarefa ficou ao cargo dos polacos Black Altar, com o suporte dos portuenses ANZV e Sonneillon naquilo que foi um evento organizado por Rocha Produções no Hardclub, Porto.

A noite iniciou com Sonneillon, o duo portuense (que no concerto se apresentou com quatro elementos) fez uma atuação violenta e obscura. Apesar de uns problemas técnicos iniciais, não perderam a atenção do público e mantiveram o profissionalismo.

Os seus temas, com riffs poderosíssimos que não se limitam só a tremolos, convivem muito bem com uns mais velozes e lamacentos. A cada música tocada, atiravam-nos mais e mais para o meio do fim do mundo, numa ascensão aos infernos da terra. E é nos riffs, na cólera da voz e na atmosfera que a sujidade é a protagonista.

Sonneillon, por Cátia Sousa

Sonneillon têm o cuidado de não ser só “mais uma banda” e é nos detalhes que mais o mostram. Caracterizados por agressividade extrema, são um tanque blindado, armado e totalmente esmagador com o objetivo de levar o caos aos fãs. Uma excelente forma de iniciar esta noite que se esperava ser tão pesada!

Seguiram-se os ANZV para desempenhar mais um ritual que funde a essência crua dos ventos do norte com um enigmático toque da Mesopotâmia, misturando habilmente elementos do black metal clássico e moderno.

ANZV, por Cátia Sousa

Tudo nesta banda é original: o tema, os adornos em palco, as vestimentas, as pinturas, a composição das músicas, a performance dos vários elementos, com foco especial no vocalista Ahnum que encarna numa personagem verdadeiramente única em cima de palco com uma expressividade deslumbrante… Tudo é realmente excepcional e característico de ANZV. Constitui um line up fortíssimo que, quando reunido em placo, cria toda uma atmosfera e ambiente arrepiante com a sua sonoridade totalmente envolvente e obscura.

Embora um grupo bastante recente (formado em 2019), tiveram um aparecimento estrondoso que se fortificou em 2022 com o lançamento do tão aclamado album Gallas. Em tão pouco tempo, já nos conseguiram habituar às suas atuações assombrosas. Isto porque não se pode considerar apenas musical a performance dos ANZV, mas sim uma instalação sensorial capaz de despertar todas as células do nosso corpo para o que é uma viagem ao universo da Mesopotâmia.

ANZV, por Cátia Sousa

Os fãs com certeza aguardam ansiosamente por o que aí vem…

A noite já ia avançada e bem negra quando os polacos Black Altar pisaram o palco naquilo que foi a sua estreia no Porto. A banda formada em 1996 e liderada pelo lendário SHADOW que é o único elemento que se mantem desde a origem da banda, está a tocar pela primeira vez em 25 anos ao vivo o que tornou este evento lendário. De salientar que um dos guitarristas do grupo é o ex Behemoth Les!

Black Altar, por Cátia Sousa

O black metal dos polacos tem a quantidade certa de teclados e orquestração que são usados para criar uma atmosfera sombria e acentuar o metal, não caindo no erro de o inundar com uma quantidade de teatralidade exagerada. Os interlúdios orquestrais funcionam extremamente bem, sendo eles minimalistas e escuros. Tudo nas quantidades certas para criar a receita macabra que tanto gostamos.

Seja no ritmo médio ou no mais rápido, existe muita consciência e um bom ouvido para uma boa melodia, firmando profissionalmente, sem sacrificar o sentimento de escuridão e admiração pelo black metal que tão bem promovem. Com 28 anos de carreira, a banda continua a crescer com uma força profana e a deixar uma marca na cena do black metal polaco, tornando-se numa verdadeira lenda no que fazem não só em estudio, mas também em palco como foi comprovado nesta noite de primavera no Porto. Sempre fieis ao movimento underground, têm vindo a angariar fãs por todo o universo do metal. E para os portugueses que não estavam convencidos através dos álbuns de estúdio, com certeza o ficaram após a atuação na invicta!

Black Altar, por Cátia Sousa

Desde as vestimentas com símbolos do oculto, até aos elementos físicos presentes em palco, finalizando com a máscara macabra do vocalista, e claro, juntando os temas violentos, toda a atmosfera satânica e misantrópica foi alcançada com o maior dos sucessos.

O concerto encerrou com uma interpretação de um tema de Ofermod, banda que estava confirmada neste alinhamento mas que por motivos de saúde não esteve presente.

Mais um evento de enorme valor organizado por Rocha Produções. Que venha o próximo!

 

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