Para dar início à tour europeia, os Dead Fish escolheram a cidade do Porto para largarem nesta jornada de divulgação do álbum Labirinto da Memória, 10º álbum da banda. Um álbum com hardcore mais melódico, com letras reflexivas e até nostálgicas, que vêm conquistando e emocionando o público e os fãs. Estes últimos, principalmente, se apinhavam do lado de fora do Hard Club do Porto, vestindo camisetas (ou camisolas, se preferirem) da banda de turnês anteriores e com sorrisos ansiosos.
A casa abriu às 21h para o animado público adepto do bom hardcore “raiz”. Aos poucos a Sala 1 foi se enchendo e a plateia buscou um lugar onde pensava ser o melhor para assistir ao espetáculo. De forma tímida, era notável ver aqueles que estava ali para ver a banda principal da noite se aglomerarem mais ao fundo, sem saber o que esperar sobre os convidados de abertura.
Às 21h30, os portugueses do Fitacola subiram ao palco, mas não sem antes reverenciar os Dead Fish, ao dizer que a banda é uma grande inspiração para eles. Para entender melhor o que tinha “nas mãos”, o vocalista perguntou, logo após a primeira música, quem eram os portugueses e os brasileiros presentes ali. Pelos gritos, notava-se um público dividido entre ambas as nacionalidades, meio a meio. Com isso, os Fitacola sabiam que precisavam mostrar à outra metade da plateia quem eles eram, e mostraram.
Além de entregar um espetáculo eletrizante e com canções que tinham diferentes texturas, a banda de Coimbra formada por Diogo (vocais e baixo), Cábál (guitarra), Gamboias (guitarra) e Xico (bateria) contagiaram o público com a sua energia, claramente extasiados de estarem ali. O vocalista Diogo foi um perfeito frontman, puxando coros em alguns pontos das músicas, conversando com a plateia, conduzindo todos em momentos de dança, palmas, gritos e até moshpit.
O som dos Fitacola é dinâmico, com bases que iam desde um som mais punk rock e hardcore, até mesmo com doses de reggae e pop punk com muito groove e melodia. Os fãs já habituais contagiaram o espaço, pois todos seguiam os seus passos sendo levados pela energia e emoção de estarem junto aos seus ídolos.
O setlist dos Fitacola foi:
- Só Mais Uma Vez
- Consciência
- Voltar Atrás
- Outros Dias
- Vício
- Fio da Navalha
- Sapatilhas
- Cai Neve em NY
- História (participação do Rodrigo Lima)
- Ganhar ou Perder
- Corrupção
- Desafio Principal
- Monstros
- O Teu Mundo
O ponto mais alto foi no novo single “História”, em que Rodrigo Lima, vocalista dos Dead Fish, se juntou ao grupo para compartilhar os vocais e levou todos presentes à loucura, principalmente os que ansiavam pela chegada do grupo principal. Além disso, a banda Fitacola aproveitou a ocasião para gravar o videoclipe da música, o que foi combustível para darem o máximo de si no palco e mobilizar o público que entregou toda a sua energia para a gravação.
Após a presença do Rodrigo Lima no palco, o público ansiava por mais, já aquecidos com as canções mais aceleradas dos Fitacola, que fizeram uma ótima abertura para o concerto. Ao saírem do palco, uma onda de fãs dos Dead Fish foram à frente do palco para tentarem ficar o mais perto possível dos seus ídolos.
Recebidos com o usual cumprimento de “ei Dead Fish, vai…” e muitos sorrisos alegres, os mais esperados da noite subiram ao palco. Com uma bandeira do Estado da Palestina hasteada ao fundo do palco e com um discurso progressista do Rodrigo, a banda mal iniciou os primeiros acordes de “A Urgência” e a platéia foi levada à loucura. Quase que instantaneamente, um grande moshpit se formou e vários fãs começaram a saltar ao palco para se atirar de volta à plateia embalados pelo som pesado da guitarra de Ricky Mastria, do baixo de Igor Tsurumaki, da bateria de Marcos Melloni e pelos vocais potentes de Rodrigo Lima.
A canção seguinte também foi do clássico álbum Zero e Um, — que faz aniversário de 20 anos de lançamento este ano — , a “Queda Livre”, um grande sucesso da banda que levou todos a cantarem aos coros e a pular em uma energia brutal, impossível ficar parado e não pular sendo contagiado pela multidão.
O extenso setlist dos Dead Fish nesta noite premiou os fãs com canções que revisitaram toda a história da banda e não deixou nenhum sucesso de fora. Contou com as seguintes músicas:
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A Urgência
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Queda Livre
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Adeus Adeus
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Avenida Maruípe
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Asfalto
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Dentes Amarelos
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49
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Doutrina do Choque
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Não Termina Assim
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Selfegofactóide
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Bolero
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MST
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Sobre a Violência
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Molotov
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Just Skate
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Zero e Um
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Desencontros
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Siga
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Engarrafamento
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Estaremos Lá
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Aos Poucos
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Perfect Party
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Venceremos
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Proprietários do Terceiro Mundo
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Mulheres Negras
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Contra Todos
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Autonomia
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Tão iguais
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Você
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Afasia
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Bem-vindo ao Clube
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Sonho Médio
O público cantou a plenos pulmões cada uma das 32 músicas escolhidas para a noite, incluindo as faixas do novo álbum, Labirinto da Memória, que a banda queria promover naquela noite e que tem músicas que provocam reflexões sobre a vida e nostalgias. E a interação da banda com o público é algo único e característico dos Dead Fish, que tornou toda a experiência ainda mais intríseca em cada pessoa presente. Era possível ver pessoas se abrançando, aos pulos, se emocionando… Pessoas que nem se conheciam eram tomados por uma energia coletiva que transbordava até o palco como uma onda de exaltação.
“A alegria revoluciona”, disse Rodrigo Lima, finalizando um dos momentos em que trazia reflexões políticas sobre a classe trabalhadora do mundo em que deixava claro que a alegria do povo que tanto sofre pelo capitalismo tardio é um ato de resistência. E, opinião pessoal da redatora, a união da atitude, da rebeldia do hardcore com a letras de manifesto cheias de realidade crua e ideologia antifascista tornaram juntos esta experiência transcendental. E a tal alegria mencionada pelo vocalista da banda, não era só alegria, mas sim um verdadeiro júbilo. O que presenciamos ali era uma atmosfera tão fundida em ideais e gostos que era impossível não se sentir à vontade entre todos (por isso todo mundo queria subir ao palco e se jogar à multidão). O som agressivo divergia com o sentimento bom de acolhimento entre todos e alegria jenuína e êntase.
Em meio ao fervor do hardcore speed dos Dead Fish e dos discursos revolucionários, ainda couberam momentos de descontração entre a banda e público, sobretudo por parte do carismático Rodrigo Lima que sabe muito bem entreter com as suas danças atrapalhadas e as brincadeiras. Até uma “palinha” de Billie Jean, do Michael Jackson, eles fizeram para entreter o público.
O concerto acabou da mesma forma que iniciou, na carga máxima, com canções clássicas dos Dead Fish, para todo mundo cantar junto e, após quase 1 hora e meia de show, ninguém queria que aquele momento acabasse. O Porto deu o pontapé inicial da tour europeia em grande, como dizem o portugueses, devolvendo à banda toda a energia e alegria em forma de gratidão pelo espetáculo proporcionado. Ficamos a pedir mais, em vão, mas sem tristezas aqui, pois o show foi completo e revolucionário do início ao fim.