Para muitos, os limites do metal estão muito bem definidos. Outros defendem o mesmo no que concerne ao nosso tradicional fado. No entanto, existem ainda pessoas, que teimam em provar que os dois grupos anteriores estão errados. E, cá para mim, ainda bem. Paula Teles é uma dessas pessoas, que cantou o seu “Desencanto” para ‘encantar’ qualquer um que deseje ser surpreendido.

Paula Teles, cuja voz é já conhecida de Lilith’s Revenge e Waterland, apresenta-se agora a solo com o álbum “Desencanto”, lançado a 5 de abril deste ano. Todo o trabalho é uma obra de arte, começando (ou culminando) na capa, com uma imagem predominantemente preta que compreende a face de Paula Teles, de olhos fechados, num traje tradicional que remete para a aceitação do destino, característica do fado.

A obra começa precisamente com um “Grito” de socorro, no qual o inicial som da guitarra portuguesa abre espaço para o verso inaugural, que canta por palavras o que é ilustrado pela capa, com: ‘Não me abram os olhos’. Este é o tema perfeito para abrir o álbum, com o som mais calmo inicial a dar lugar à força da guitarra e da bateria, criando uma espécie de ‘fado metal’ que destaca as preocupações que justificam o “Grito”, mas, ao mesmo tempo, revela uma réstia de esperança com palavras como “sem medo, sem nada a perder”.

Segue-se “Desencanto”, o tema, forte, que dá nome ao álbum, e, logo de seguida, “Jogo do Silêncio”, que merece toda a nossa atenção. Este ‘jogo’ começa com um buildup de guitarra, à qual se junta a bateria, num crescendo de intensidade e velocidade até à entrada de uma combinação surpreendente de vozes – Paula Teles e Björn Strid, vocalista sueco de bandas como Soilwork. “Jogo do Silêncio” é marcante, não só pela fusão de duas vozes radicalmente diferentes, como também por cada palavra que Strid canta em português, que, aliadas ao poder da sua voz, tornam este tema um dos pontos de destaque do álbum.

Surge “Inocência”, o quarto single lançado, e o último antes do lançamento do álbum, que em pouco menos de 3 minutos nos guia de forma natural até cairmos “Na Boca do Lobo”. Aí, somos recebidos por uma guitarra portuguesa que, após uma pequena introdução, se faz acompanhar da voz de Paula Teles. Neste tema, o metal volta a surgir com considerável intensidade, ilustrando os versos que descrevem uma luta difícil, (‘quebrei todas as regras (…) não segui o meu plano’), contudo em vão (‘…e perdi’), mas que nem por isso se torna razão para querer ‘…ficar parada, à espera de lutar’. Num ‘beco sem saída’ espiritual, a música termina com um poderosíssimo instrumental de sensilvelmente 1 minuto que acolhe o pânico e os lamentos proferidos “Na Boca do Lobo”.

Depois de um caos, surge um piano, calmo, que introduz o “Canto do Luar”, abraçando a noite (‘talvez eu cante até o Sol nascer’). Do verso suspenso (‘talvez eu cante…’) que fecha o “Canto do Luar”, surge de imediato uma guitarra que abre a “A Carta”, o tema que conclui o álbum.

“Desencanto” é, assim, uma viagem tremenda e poderosa, que nos guia por caminhos sinuosos e acidentados, que nos assusta ao longo do caos e do pânico sentido por entre gritos de socorro, mas que nos acolhe, por fim, levando-nos a aceitar o destino.

Album Rating – 7/10

“Desencanto” no Bandcamp:

“Desencanto” no Spotify:

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