Review: Emerald Shine – “Misty Tales” República Tcheca
Não é de hoje que músicos do mundo inteiro usam a fantasia como fonte de inspiração para suas composições. O fantástico tem despertado o interesse e o fascínio das pessoas por gerações a fio e o Heavy metal é um dos gêneros musicais que mais bebe dessa fonte. Na literatura, J. R.R. Tolkien é, sem dúvida nenhuma, um dos autores mais aclamados do gênero. Entre tantas outras obras, é autor das trilogias “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”. É justamente nesse Universo de “Senhor dos Anéis” que “Misty Tales” é inspirado; álbum conceitual lançado em 2018 pela banda de Folk Metal Emerald Shine. Vindos lá da República Tcheca, mais precisamente do norte da Morávia, Emerald Shine surgiu da vontade da vocalista e compositora Lenna de contar histórias fantásticas, através de um som ao mesmo tempo pesado e atmosférico. Um projeto audacioso que conta com um instrumental progressivo e minucioso, além de nada mais, nada menos do que três estilos diferentes de vocais, flautas e instrumentos não convencionais na música pesada como harpa, violino e apitos de estanho. Tudo isso faz do som da Emerald Shine um Folk metal capaz de lhe transportar diretamente para a Terra Média.
A própria vocalista nos conta o conceito por trás do álbum: “Nosso objetivo no álbum conceitual Misty Tales era contar uma história de” ficção de fãs “sobre os elfos de Tolkien: E se eles ainda vivessem em nosso mundo, ainda hoje? O que eles pensariam de nós, pessoas, e o que eles nos diriam se os encontrássemos? Os fãs podem, portanto, esperar algum “metal de fantasia”, como chamamos, pois, fizemos o possível para expressar a história também na música, não apenas nas letras”.
O álbum, que tem ao todo doze faixas, abre ao som de violinos, com uma introdução extremamente melódica, digna de trilha sonora cinematográfica. Em seguida se inicia a música “Autumn Mists”, um tema que mostra todo o cuidado que a banda tem em criar uma atmosfera, com várias camadas sonoras. Os vocais são divididos entre os mais melódicos de Leena, os masculinos e um coro. A terceira faixa é “Silver Riders”, embora ainda muito bem trabalhada, ela é mais fluida, com uma base Power metal. Em “The Elven King” ficam mais em evidência os vocais masculinos de Radomír e Dušan, demonstrando como a banda tem uma riqueza enorme de timbres vocais e sabe administrar muito bem cada um deles. “Where Life’s Been Ruined” é uma música que surpreende, iniciando com violões, flauta e violino, logo a bateria entra em ação, então um riff pesado dá a impressão que teremos mais um tema rápido, mas que se mostra mais truncado, com vocais beirando o gutural, intercalando com vocais melódicos. Nesse ponto fica muito claro como o som da Emerald Shine é progressivo, complexo e um pouco imprevisível. A sexta faixa é “A Lake far Away”, extremamente melódica e conta com um dueto muito bonito entre Leena e Dušan. “Voice of the Muse” começa com uma atmosfera mais misteriosa e sombria, com um toque de percussão e Lenna quase sussurrando. O trio Kamil (bateria), Radek (baixo), Dušan (vocais, guitarras) fazem uma base que vai alternando o compasso conforme a música vai se desenvolvendo e os violinos estão mais uma vez muito presentes na linha melódica. Passamos para “The Song of Fallen Leaves” a música que mais chega perto de ser uma balada, com certeza um dos temas mais bonitos do álbum. Aqui, não poderia deixar de citar o excelente trabalho de Dušan nos solos de guitarra. Por falar em guitarra, ela que abre a faixa “The Only One”. Essa talvez seja a canção que melhor resume a complexidade do som da Emerald Shine, trazendo riqueza de detalhes e mostrando o cuidado que cada integrante tem em compor essa atmosfera mística, fantástica que Misty Tales possui. “The Time has Come” serve como interlúdio e sinaliza que o álbum está chegando ao seu desfecho, de uma beleza ímpar ela está longe de ser desnecessária e dá o clima perfeito para a penúltima música do álbum “We’ll Be Back”. Que música, amigos! Nesse ponto que achamos que já tínhamos visto todo o potencial da banda, eles nos surpreendem. Escutem e tirem suas próprias conclusões! O álbum fecha com “Rainy Night” um tema pesado, com guturais de Radomír e a voz melódica de Lenna, mais uma vez impecáveis.
Vivemos na Era da Informação, da internet, dos smartphones, das redes sociais, dos aplicativos de música, onde tudo é tão rápido e instantâneo que muitas bandas optam por lançar apenas singles ou EP’s. Mesmo assim, a Emerald Shine nos oferece uma obra completa, rica em cores e texturas, que a cada audição nos revela algum detalhe novo que havia passado despercebido. Uma obra que nos faz viajar e merece ser ouvida com tanto carinho quanto, com certeza, foi composta. O Folk metal é um estilo que exige muita técnica e estudo, pois geralmente trás instrumentos não convencionais ao Heavy metal e, normalmente, cada faixa conta um capítulo de uma história (fantástica ou não). A Emerald Shine tem tudo isso. Álbum indispensável para os fãs desse universo fantástico de Tolkien e Folk Metal.
Line-up:
Leena (vocais, flautas, apitos de estanho, guitarras acústicas)
Radomír (harpa, vocais ásperos)
Radek (baixo)
Kamil (bateria)
Dušan (vocais, guitarras)
Klára (violino, vocal de apoio)
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