A passada noite de sexta feira, de 24 de maio, ficou marcada pelo estrondoso regresso dos malaguenhos Lunavieja ao Porto, ao Woodstock 69 Rock Bar, onde já tinham estado em junho de 2022.

Lunavieja, por Cátia Sousa

De todos os presentes, ninguém conseguiu ficar indiferente ao incrível espetáculo que decorreu naquela noite. Honestamente, será muito difícil expressar por palavras a experiência vivida, mas irei tentar….

A banda espanhola com 6 anos de vida apresenta algo absolutamente diferente de tudo o que possamos conhecer de outros mundos. Não são só os líricos, não é só o instrumental, não são só as vestimentas e os adornos folclóricos, não são só os instrumentos tradicionais, não é só a intensa performance… É sim, toda a combinação! A receita é composta pelos ingredientes certos, nas proporções certas, resultado em algo absolutamente inesquecível e especial. Um quarteto de criatividade divinal, que nos faz querer voltar atrás no tempo ou simplesmente ir viver para a floresta, em harmonia com a natureza. Uma sensação hipnotizante e que não parece deste mundo, onde desviar o olhar do palco é praticamente impossível ou ouvir qualquer outra coisa que não seja o que se pode chamar de banda sonora ritualística. Algo que tanto tem de desconcertante como de penetrante e que dessa forma, entranha-se na mente do ouvinte, e quando damos por nós, já fazemos parte da celebração florestal. Esse foi mesmo a caso, na parte final do concerto/ritual todo o público estava a dançar em transe como se de verdadeiras bruxas se tratassem.

O espetáculo iniciou bem antes da música começar, pois a baterista e vocalista Stefy Otero teve o papel de iniciar o preparo ambiental que se seguia, mostrando o valor que esta banda dá não só à música, mas também a toda a toada necessária para as suas performances serem mais fidedignas. Com a sua presença misteriosa apenas segurando um instrumento de percussão muito parecido com o “nosso” adufe, com uma máscara colorida a cobrir todo o rosto e uma postura congelada e também congelante, em pé, imóvel, a olhar para o vazio. Isto durou por uns bons 20 minutos até ela própria iniciar uma percussão lenta, quase fúnebre, como que a anunciar a chegada de algo mórbido.

Lunavieja, por Cátia Sousa

Começou a música, começou o feitiço sobre todos nós. Para os que conheciam o grupo, já sabiam com o que contar, mas ainda assim saíram de lá surpreendidos porque o quarteto é mais do que capaz do que surpreender a cada atuação. Para quem não conhecia, bem vindos ao mundo dos Lunavieja, com certeza nunca irão esquece-lo.

Foi uma hora estranha, numa peça ritualística a puxar ao psicodelismo que mostra um ambiente muito específico. Um Doom metal denso, levemente Stoner, e com uma carga sinistra enorme criada maioritariamente pelos instrumentos folclóricos e mais rudimentares, mas também com gritos da já mencionada baterista. Com vocais fortes do vocalista Javi Cereto (atuando maioritariamente de máscara) que apresenta vocalizações surpreendentes para estilo de música que se move, sempre variando entre o spoken word e a evocação, que me parece ser exatamente o que está a fazer.  E dentro de toda a criatividade, é a vertente ambiental/ritualística que faz toda a diferença, sobretudo na forma como consegue envolver-nos e a cada tema nos empurra cada vez mais para o êxtase profundo.

Lunavieja, por Cátia Sousa

As máscaras iam mudando mas a realidade florestal estava lá do início ao fim. A versatilidade dos artistas ia emergindo cada vez mais, isto porque o baixista Paco Gonzales também faz percussões e vozes, a baterista também cantava e gritava envolvendo-se numa personagem apaixonante, o vocalista tocava uma grande variedade de instrumentos enquanto se expressava a 200% em cada movimento, em cada nota tocada e em cada nota cantada, e o guitarrista Javi Luque apresentava um leque enorme de autênticos menires em forma de riffs, de vários tipos de influência que ia desde Cult Of Luna até aos incontornáveis Black Sabbath. No caso dos últimos, a ultima música do setlist é uma homenagem descarada mas no bom sentido da palavra. Mostrando isto que o quarteto é todo dotado da maior diversidade de talentos e é em palco que os expressam. A juntar, toda a teatralidade de todos os elementos da banda era mágica.

Lunavieja, por Cátia Sousa

Foi uma noite onde todos os astros se alinharam: numa noite de primavera de lua cheia, com um brilho indescritível onde os malaguenhos Lunavieja (Old Moon) desempenharam um ritual assombroso.  Não são apenas músicos, são  verdadeiros artistas!

Setlist: 1- Malac; 2- La Trilla; 3- Las Flores; 4- Las Habas; 5- Unguentum 2.0; 6- Lunavieja; 7- La Guestia; 8- La Guestia; 9- Éxtasis de Mayo; 10- La Luna.

Agradecimentos a La Novena Escena e ao Woodstock 69 Rock Bar por tornarem isto possível. Aguardamos ansiosamente por uma próxima visita dos malaguenhos!

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