No passado dia 4 de Maio, decorreu em Oliveira de Frades a primeira edição daquilo que foi o Oliveira de Frades Rockfest, organizado mais uma vez por Rocha Produções. Viseu tem cada vez mais se tornado a casa do metal Portuguesa e muito devido aos frequentes e sublimes eventos que apresenta, provando que o interior de Portugal realmente respira o metal!

A festa iniciou com Voto Nulo, que estavam a jogar em casa, e o seu Punk n’ Roll carismático e vibrante e eles realmente provaram que o punk não está morto! As suas músicas que abordam os temas mais aleatórios que se possam imaginar, foram uma excelente forma de dar o pontapé de saída para o evento de forma festiva pois foi mesmo que isso que foi, uma festa. Infelizmente a sala ainda se encontrava um pouco vazia, mas estes oliveirafradenses realmente mereciam uma sala mais composta.

Voto Nulo, por Cátia Sousa

Seguiu-se o concerto de Raven Horse com o seu heavy/folk metal. Projeto extremamente recente, criado em 2022, mas que tem vindo a conquistar o seu espaço desde o nascimento. Durante o espetáculo, surpreenderam o público com a marcante presença da flauta, instrumento inabitual, mas fundamental para completar a sonoridade folky da banda dando um toque especial aos temas. Naturais de Valadares, São Pedro do Sul, encantaram o público com uma atuação vibrante e alegre. Um quarteto que devemos ficar de olho no futuro…

Raven Horse, por Cátia Sousa

De seguida, e após duas atuações alegres, descemos às masmorras de Oliveira de Frades para um ritual com os Pé Roto. Formados no final de 2014 na cidade de Braga, os Pé Roto são dos expoentes máximos no que toca ao espectro sludge-doom nacional. Praticam um som carregado de peso e distorção, onde nos envolvem numa densa e claustrofóbica atmosfera devidamente corrompida por uma voz sofrida e visceral. O seu som arrastado vai de encontro aos temas abordados, nomeadamente as desigualdades sociais, injustiças, religião e questões existencialistas inerentes à face mais obscura da condição humana.

Pé Roto, por Cátia Sousa

Foi um concerto pesado, negro, que demonstrou claramente a identidade da banda e envolveu todos os espectadores numa viagem pelas sombras mais profundas.

Já se fazia noite quando os TVMVLO pisaram o palco. A banda de death metal formada em 2020 originária de Viseu, continuou a viagem pela escuridão arrancada pelos Pé Roto. Esta banda old school composta por membros atuais e antigos de Basalto, Angriff e Rotten Rights apresentou uma sonoridade rápida e impiedosa típica do tradicional death metal. Com riffs negros e pesados, muitos blast beats e muito double kicks, um baixo que acompanha perfeitamente as guitarras dando uma profundidade aos temas, e ainda os agressivos e podres vocais do vocalista António Baptista, invadiram todo o recinto e os nele presentes numa total escuridão. Apresentaram-se naquilo que foi uma experiência arrebatadora e uma viagem a temas que vão desde a religião até à morte e destruição.

TVMVLO, por Cátia Sousa

Com bastantes horas de música, após algumas sandes de porco no espeto, caldinho verde e claro, bastante cerveja, estava na hora dos enormes Moonshade pisarem o palco e nos envolverem com o seu melodic death metal. A banda já dispensa apresentações e provou, mais uma vez, merecer toda a atenção que tem recebido. Além da competência musical de todos, destaca-se o vocalista Ricardo Pereira e a sua excelente comunicatividade com o público. Para além disso, também é marcante o seu canto que realmente ressoa nos ouvidos em termos de agressividade e alcance. Foi uma atuação extremamente envolvente onde se tornou difícil desviar o olhar e atenção.

Moonshade, por Cátia Sousa

Qualquer pessoa que tenha uma queda pelo death metal, incluindo as variantes mais melódicas, com certeza adorou o concerto que ficou marcado não só para os espectadores, como também para a banda pois foi o concerto de despedida do baterista Fernando Maia, marcando o final do concerto com alguma tristeza e emoção.

Moonshade, por Cátia Sousa

Foi por volta das 23h que a maior e mais profunda escuridão chegou ao pavilhão S.Vicente de Lafões com a chegada dos IRAE. Os lisboetas apresentaram-nos os seu black metal satânico puro com toda a brutalidade a que já nos habituaram. Foram 50 minutos de uma explosão de black metal forte e ortodoxa, como se estivéssemos congelados no tempo. Apesar dos temas apresentarem os truques do old school , fazem-no com exuberante qualidade e profissionalismo. Através dos seus riffs, conseguem desenhar imagens sombrias em cores mortas que são quase visíveis e palpáveis. A imaginação de qualquer ouvinte é levantada às mais profundas e negras realidades, vagueando pelos recantos internos do subconsciente.

IRAE, por Cátia Sousa

Eles não têm pressa (eles, embora esta seja uma banda de um homem só). Conjuram num ritmo médio, intervalando com ritmos mais desacelerados até chegarem aos mais lentos (por exemplo no tema interpretado “Ratazanas”). Os vocais, clássicos do old school do black metal, são de extrema odiosidade, ásperos, sussurrantes e até doentios. Funcionam com o propósito de colocar o ouvinte em transe e conseguem-no com extrema facilidade.

IRAE, por Cátia Sousa 

Mais uma vez comprovaram que o verdadeiro black metal que remota aos anos 90 não morreu. E está aqui para ficar!

E chegou a hora de celebrar os 25 anos dos nortenhos Biolence. Os cabeça de cartaz da primeira edição do Oliveira de Frades Rockfest, trouxeram na bagagem, dois álbuns de estúdio, dois EPS e acima de tudo, muita experiência. Os 25 anos de carreira foram festejados e presenciados naquele recinto, onde a banda soube puxar pelo público de forma que o mosh quase não parou durante toda a atuação. Claro que as suas músicas foram o principal influenciador para que se fizessem cabeças abanar e corpos mover.

Biolence, por Cátia Sousa

O seu thrash/death metal é poderoso, com apontamentos melódicos e que está sempre a meio caminho entre o old school e o moderno, o que para todos é bom, e foi perceptível no meio do moshpit a mistura entre a velha guarda e as gerações mais novas a “confraternizar” a boa maneira dos metaleiros. Os Biolence ainda aproveitaram para dar boas surpresas à malta com duas músicas que futuramente farão parte da setlist do novo álbum. Ainda que não se saiba ao certo quando vai sair, já é uma boa forma de “abrir o livro” ao seu público. Que hajam sempre surpresas assim.

Biolence, por Cátia Sousa

E para finalizar em festa, de regresso ao verdadeiro punk! Os Zurrapa encerraram esta edição com toda a energia e javardice que sempre apresentam sem desiludir. Embora o cansaço já fosse muito após tantas horas de música, este foi vencido através a imundice que Zurrapa nos trouxe.

Zurrapa, por Cátia Sousa

A banda humorística formada em 2017 em Viseu, composta por António Fonseca na guitarra e vocais, Nuno Mendonça no baixo e Pedro Sales na bateria esgotou todas as reservas de energia que ainda existiam nos metaleiros pondo-os a dançar, cantar (e alguns gritar) ao som dos temas que abordam temas tão sérios da vida humana. Temas como “Governados por Cabrões”, “Lítio” e “A vingança de Jaqueline Rose” não podiam faltar e claro, o tema que provavelmente todos no recinto se identificavam “Afogado em Cerveja” foi pontapé final ideal para o festival!

Zurrapa, por Cátia Sousa

Numa visão geral, o festival apresentou um cartaz para todos os gostos, que navega entre o punk rock e o mais puro do black metal. Um espírito familiar incrível, boa comida, boa cerveja, boa música… Todos os astros se uniram para proporcionar um bom serão na tarde/noite fria que se fez sentir.

Mais um evento com um cartaz eclético organizado por Rocha Produções, com o apoio do Município de Oliveira de Frades, na nova capital do metal em Portugal. Eventos como estes são de enorme valor não só para as bandas, como para as terras e ainda para os fãs de música pesada.

Que hajam sempre pessoas com audácia de arriscar e manter o espírito do heavy metal vivo!

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