Foi na passada sexta-feira, no Dia de Todos os Santos, que os Palaye Royale aterraram, finalmente, em Lisboa, para se apresentarem pela primeira vez ao público português. Ainda antes da abertura de portas, já eram muitas as pessoas que se aglomeravam no exterior do Cineteatro Capitólio, apesar da ligeira chuva que ia caindo. No interior, a partir das 20h, o espaço foi-se enchendo – no meio dos diversos outfits pretos, vermelhos e às riscas – de um sentimento de antecipação, já que a estreia da banda em Portugal já havia estado agendada para o ano de 2023, algo que não chegou a concretizar-se, com um cancelamento inesperado, por motivos de saúde do grupo.
Adiantaram-se os I See Stars, que tomaram de assalto o palco, abrindo a noite com toda a potência do seu electronic hardcore, com o tema “Drift”, que começou a aquecer o público, fazendo os espetadores tirarem os pés do chão e darem início ao headbanging entre o nevoeiro e os strobes que se podiam observar em cima do palco. Logo de seguida, veio uma das mais conhecidas – “Running With Scissors” (do álbum “Treehouse”, de 2016) – tema em que o frontman, Devin Oliver, deixou bem evidentes as suas capacidades vocais, as quais foram, sem dúvida, um dos highlights deste concerto. Passando por “are we 3ven?” e “Break”, a banda recuou até 2013 para fazer soar a poderosa “Ten Thousand Feet”, do álbum “New Demons”. Seguiu-se uma “Calm Snow” antes de uma dupla tempestade para fechar o concerto. Primeiro “SPLIT”, o mais recente single (de 1 de agosto deste ano), iniciada pela banda interagindo com o público, que ergueu os punhos ao ritmo a que ia gritando “Split! Split!“, e depois “Anomaly”, com um refrão cantado a plenos pulmões pelos fãs, os quais terminaram o concerto a erguer Oliver acima das suas cabeças.
Setlist: 1 – Drift | 2 – Running With Scissors | 3 – are we 3ven? | 4 – Break | 5 – Ten Thousand Feet | 6 – Calm Snow | 7 – SPLIT | 8 – Anomaly
Seguiram-se, então, os tão aguardados Palaye Royale. Os três irmãos, Remington Leith (voz), Sebastian Danzig (guitarra) e Emerson Barrett (bateria), acompanhados por Dave Green (guitarra) e Logan Baudean (baixo), trouxeram, diretamente dos Estados Unidos, a tournée “Death or Glory”, acendendo, pela primeira vez na Europa, o sinal luminoso com o nome do mais recente álbum (lançado a 30 de agosto deste ano) que dá também nome à digressão. Com um palco não muito alto, que tornou o espetáculo mais intimista, fazendo com que o grupo estivesse mais próximo do público, e tornando, também, o sinal luminoso num elemento escondido para quem não estivesse tão perto das primeiras filas, a banda entrou no palco pela porta que compunha o cenário, sob um misto de luz vermelha e fumo. Começou a soar a introdução do tema “Death or Glory”, que acompanhou Remington a descer as escadas para o nível mais baixo do palco, para dar início ao concerto com toda a irreverência que caracteriza o grupo.
Logo após a apresentação de um dos principais temas do mais recente trabalho da banda, recuou-se até ao “Boom Boom Room (Side B)”, de 2018, para a frenética “You’ll Be Fine” que levou os fãs à loucura, e, logo a seguir, até 2022, para a “No Love In LA”, do álbum “Fever Dream”. Se dúvidas houvesse quanto à capacidade e qualidade da banda ao vivo, dado o facto de se tratar de uma estreia em Portugal, essas estariam, ao fim de três músicas, completamente eliminadas. De facto, não demorou muito para que os fãs começassem a receber a banda literalmente nos seus braços, com Remington a cantar empoleirado na grade que inicialmente o separava do seu público, e com Sebastian a levar a sua guitarra até à primeira fila, onde se deitou sobre os espetadores que aí se encontravam.
Após um início a um ritmo vertiginoso os Palaye Royale deram seguimento à apresentação do seu disco mais recente, com “Just My Type” e “Dark Side of the Silver Spoon”, que se destacou pelo momento de simbiose entre o palco e a plateia, com o público a balançar os braços de um lado para o outro e a cantar em uníssono, acompanhando a secção épica que remete para o clássico “All The Young Dudes” de Mott The Hoople, de 1972. Depois de “Ache In My Heart” e “Addicted to the Wicked & Twisted”, a banda voltou ao álbum de 2018 para trazer a escura “Dying In A Hot Tub”, com um início totalmente iluminado pelas luzes dos telemóveis dos fãs.
De regresso ao “Death or Glory”, seguiu-se “Showbiz”, para a banda mostrar como se faz. De forma absolutamente imprevisível, surgiu um barco insuflável por cima da plateia tendo Remington saltado de imediato para o seu interior, para cantar sobre os seus fãs, que o foram ajudando a navegar. Admiravelmente, nem isso fez o cansaço sentir-se no Capitólio: da “Showbiz” passou-se para a enérgica “Fucking With My Head”, na qual Remington pediu que o público lhe mostrasse um moshpit, não tendo, por fim, quaisquer motivos para ficar desapontado com o que terão visto os seus olhos.
Grato pela receção calorosa, Remington introduziu a música que se seguia dizendo “This song is ‘For You’“, dedicando a mesma ao público português. De uma dedicatória mais feliz, passou-se para uma mais emotiva, lembrando a mãe dos três irmãos, Stephanie Rachel Cowper, que faleceu em abril deste ano. O público ajudou, então, a banda a iniciar a música que dá nome ao álbum de 2022, fechando este tema com um momento tocante, com os fãs a balançarem os braços novamente no ar. Com o concerto a chegar ao fim, a banda despediu-se logo após tocar aquela que é igualmente a última música do novo álbum, “Pretty Stranger”.
Não foi preciso muito tempo fora do palco para o público chamar a banda de novo, que atendeu ao pedido, regressando para um encore de três músicas. Primeiro, “Dead To Me”, com Emerson a trocar de lugar com Logan, para ocupar, durante esse tema, o lugar do baixo. De seguida, “Lonely”, e, por fim, o final pelo qual todos esperavam, com “Mr. Doctor Man”. Este último tema foi, naturalmente, uma versão alaragada, com Remington, de forma bíblica, a dividir a plateia em dois para que pudesse caminhar entre os seus fãs. O vocalista entusiasmou o público, levantando os braços repetidamente, e, após uma contagem, começou a correr na direção do palco para cantar o refrão uma última vez, ao mesmo tempo que os fãs iam correndo para o centro da plateia, como se de um wall of death se tratasse. Um final absolutamente arrebatador para um concerto com uma energia inegavelmente contagiante.
Os Palaye Royale seguem agora para Espanha para dar continuidade à tournée europeia, levando o concerto de sexta-feira no coração e deixando, seguramente, muitas saudades em cada um dos fãs presentes.
Setlist: 1 – Death or Glory | 2 – You’ll Be Fine | 3 – No Love In LA | 4 – Just My Type | 5 – Dark Side of the Silver Spoon | 6 – Ache In My Heart | 7 – Addicted to the Wicked & Twisted | 8 – Dying in a Hot Tub | 9 – Showbiz | 10 – Fucking With My Head | 11 – For You | 12 – Fever Dream | 13 – Pretty Stranger | 14 – Dead To Me | 15 – Lonely | 16 – Mr. Doctor Man
Agradecimentos: Prime Artists
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