Na última sexta-feira, 02 de maio, o RCA Club, em Lisboa, foi palco de uma noite de pura brutalidade sonora, pelas mãos da HELL XIS Agency & Records.
Com sala cheia, os belgas — mestres do goregrind — Aborted lideraram a Slashing Europe Tour com um line-up de peso: as brasileiras Crypta, representando o death metal moderno com força e técnica; os norte-americanos The Zenith Passage, trazendo seu technical death metal preciso e hipnótico; e os Organectomy, diretamente da Nova Zelândia, com seu slamming death metal descomunal.
Já adianto: a noite foi INSANA. Moshs, circle pits, crowdsurfings, stagedivings e energia em erupção do início ao fim. Continue lendo para saber cada detalhe dessa noite histórica em Lisboa!
ORGANECTOMY

Os Organectomy foram os responsáveis por abrir esse massacre sonoro, enquanto uma fila ainda enorme se formava do lado de fora do RCA Club. Mesmo com o público ainda reduzido naquele momento, os que já estavam dentro da sala estavam sedentos por destruição — e receberam a banda da melhor forma possível, respondendo com muito headbanging e moshs a cada música que avançava pelo set.
Em uma apresentação de aproximadamente 30 minutos, despejaram um arsenal de peso, com faixas destruidoras como “Tracheal Hanging” e “Concrete”, encerrando com a brutal “Terror Form”. A banda, com seus breakdowns violentos, grooves pesadíssimos e a pegada slamming visceral, simplesmente não permitia que ninguém ficasse parado!
O som dos Organectomy é verdadeiramente animal e coeso — uma parede sonora de brutalidade e precisão. O vocalista Alex Paul, com seu vocal extremo de excelência, também merece destaque: além da técnica impressionante, ele tem uma presença de palco magnética e um carisma gigante, comandando o público como um verdadeiro regente do caos.
Foi uma abertura matadora, que deu o tom da noite e já entregou o aviso: o que viria a seguir seria ainda mais insano. Uma verdadeira destruição, abrindo em grande estilo!
THE ZENITH PASSAGE

Agora, com uma sala já lotada e um público completamente sedento por mais, exatamente às 20:40, foi a vez dos The Zenith Passage quebrarem tudo. Com seu technical death metal de altíssimo nível, a banda trouxe um setlist mais voltado para o seu último lançamento, o álbum Datalysium (2023).
A largada veio com “The Axiom Of Error”. Desde o primeiro acorde, ficou claro que o som estava absurdamente coeso, brutal e tecnicamente minucioso. A banda dominava o palco com precisão, mantendo o público completamente em suas mãos. A resposta foi imediata: dos headbangings furiosos aos circle pits alucinados, e os primeiros crowdsurfings da noite já se formavam no meio da multidão.
O setlist foi escalando em intensidade, passando por faixas como “Algorithmic Salvation”, “Lexicontagion”, “Holographic Principle II: Convergence” e as pesadíssimas “Divinertia I” e “Divinertia II”. A cada nova música, mais evidente se tornava o nível técnico e a entrega visceral da banda. Um verdadeiro espetáculo.
O encerramento triunfal ficou por conta da já clássica “Deus Deceptor”. Quando o vocalista Derek Rydquist anunciou que seria a última, o público reagiu com vaias de decepção — mas não porque não estavam satisfeitos, e sim porque queriam ainda mais. A banda claramente havia conquistado a todos. Rydquist, em resposta, deu o máximo de si: subiu na grade, foi agarrado com entusiasmo pelos fãs e entregou um final avassalador, levando a energia ao seu ápice.
Por volta de 21:10, finalizaram a apresentação sendo muito aplaudidos — uma performance de respeito, que deixou sua marca na plateia!
CRYPTA

Sem tempo para descanso, a ansiedade tomava conta do público, agora cada vez mais colado na grade, aguardando com fervor as brasileiras da Crypta. Assim que a última banda deixou o palco, vimos Luana Dametto subir para checar a bateria — e bastou esse momento para o público vibrar. Gritos e aplausos explodiram, e ela retribuiu com muita simpatia.
Por volta das 21:25, começou a intro marcando a entrada das integrantes, uma a uma, com o público vibrando num frenesi de vozes e emoção. O setlist foi certeiro, equilibrando faixas dos dois álbuns completos da banda: o poderoso Echoes of the Soul (2021) e o mais recente Shades of Sorrow (2023).
O massacre começou com a densa e brutal “Death Arcana”, e já era possível ver as cabeças rolando. O público cantava com garra, e a sintonia era imediata. Em seguida, veio o hino “The Other Side Of Anger”, com os fãs acompanhando em coro os refrões enquanto Fernanda Lira — com sua performance ímpar e carisma arrebatador — interagia diretamente com todos, tornando a experiência ainda mais especial. Em um momento particularmente carinhoso, “Fefê” soltou um “como é bom poder falar português” e completou com “Portugal nunca decepciona”, arrancando ainda mais aplausos e gritos da multidão. Mais tarde, soubemos que ela estava doente naquela noite — o que torna essa entrega ainda mais admirável, pois sua performance foi impecável e absolutamente entregue.
O set seguiu com “Stronghold”, um verdadeiro soco sonoro que inaugurou os primeiros stagedivings da noite. A intensidade só subia com “The Outsider”, seguida da destruidora “Under the Black Wings” e da intensa “Possessed”, e o público já estava totalmente tomado. O hit “Lord of Ruins”, com seu breakdown pesadíssimo, veio como avalanche, completando um ciclo de pura pancadaria.
Tainá Bergamaschi mostrou mais uma vez sua força em palco, evoluindo técnica e presença a cada show. Luana, por sua vez, esmagava tudo com uma bateria precisa, forte e perfeitamente executada. Helena Nagagata demonstrou estar entrosada com a banda, segura e bem recebida, o que se refletiu nos aplausos e gritos do público.
O setlist culminou com “From the Ashes”, e aí não restou pedra sobre pedra. O RCA Club explodiu em moshs e crowdsurfings completamente fora de controle — alguns caindo direto sobre a grade, inclusive apertando a área dos fotógrafos, numa visão de puro caos. Foi uma apresentação intensa, impecável, e claramente muito esperada. Banda e público estavam em absoluta sintonia, onde a banda entregou tudo, e os fãs, sem dúvida, retribuíram em dobro!
ABORTED

Em uma sala completamente lotada, onde já não parecia caber mais ninguém, por volta das 22:28 se ouvia a intro que anunciava: o massacre final estava prestes a começar. Os mestres do goregrind Aborted, finalmente subiriam ao palco para destruir tudo. Sem cerimônias ou apresentações longas, a destruição teve início com “Dreadbringer”, seguida imediatamente pela avassaladora “Retrogore”, numa sequência tão brutal que o RCA Club se transformou num verdadeiro campo de batalha. Não deu outra: um circle pit se formou instantaneamente, crescendo a cada riff, numa explosão de pura violência sonora.
A carnificina seguiu sem piedade com “Brotherhood of Sleep”, “The Origin Of Disease” e “Infinite Terror”. Entre uma faixa e outra, o carismático frontman Sven de Caluwé aproveitava para conversar com o público, soltando histórias — como algumas envolvendo sua mãe — e arrancando gargalhadas da multidão. Era aquele contraste perfeito entre brutalidade extrema e leveza bem-humorada que só ele consegue entregar.
Cada nova faixa era um soco mais forte que o anterior. A energia do público crescia sem parar: headbangings, moshs, crowdsurfings desenfreados… O caos era completo. Ninguém mais enxergava direito o palco, de tanta movimentação à frente — e, sinceramente, ninguém parecia se importar. Todos queriam mesmo era entregar-se ao caos sonoro absoluto e viver cada segundo do que acontecia ali.
Enquanto isso, no palco, a banda demonstrava com clareza seus 30 anos de estrada. Técnica absurda, presença de palco destruidora e uma coesão impressionante. Destaque especial para o novo baterista, Kévin Paradis — francês conhecido por trabalhos no Mithridatic e Paths to Deliverance — que chegou botando tudo abaixo com precisão cirúrgica e agressividade de sobra. Cada batida era como se tocasse até os ossos.
Na sequência, vieram “Deep Red”, “From a Tepid Whiff” e a explosiva “Death Cult”, que deixou o público completamente fora de controle. Era um mar de corpos em constante rotação. A cada nova faixa, mais brutalidade. Em “The Shape of Hate”, a energia seguiu no ápice, preparando o terreno para o momento em que Sven, liderando o culto, pediu um wall of death para começar “Insect Politics”. E claro, o público obedeceu e não decepcionou!
Indo para a reta final, a banda lançou a poderosa sequência “Threading on Vermillion Deception”, seguida do clássico incontestável “The Saw And The Carnage Done”, que trouxe um novo pico de insanidade. Nessa altura, o RCA era um pandemônio absoluto. Encerraram com “Hecatomb”, deixando o palco após uma hora de massacre auditivo, com o público ainda cheio de energia, gritando por mais.
Infelizmente, o espetáculo chegava ao fim. Mas o que ficou foi aquela sensação de “presenciamos algo histórico”. Aborted entregou tudo — e mais um pouco — com brutalidade, precisão e uma performance insana. Essa noite ficará gravada na história dos shows extremos em Lisboa.
SETLIST:
- Dreadbringer
- Retrogore
- Brotherhood of Sleep
- The Origin of Disease
- Infinite Terror
- Deep Red
- From a Tepid Whiff
- Death Cult
- The Shape of Hate
- Insect Politics
- Threading on Vermillion Deception
- The Saw and the Carnage Done
- Hecatomb