Decorreu mais uma edição do Autumn Alive nos dias 25 e 26 de outubro, cortesia de ITP Promotions e Suspiria Records, na Sala Rebullon em Mos, Pontevedra, e que festa que se viveu nestes dois dias!
Após um primeiro dia com quatro atuações muito boas em cada um dos seus estilos, dos Akarakan, Unchosen Ones, Hour-Glass e SINISTRO, o dia 2 prometia manter o nível no alto, com atuações de Sulf-ataR, Godark, Elizabeltz e Totengott.
DIA 2
SULF-ATAR
Os primeiros a pisar o palco no segundo dia do Autumn Alive Fest foram os Sulf-AtäR. E talvez seja uma opinião muito pessoal, mas que surpresa que foi este concerto! O grupo Agrometal de Pontareas, Galicia, levou o seu Death metal com apontamentos black para a Sala Rebullón e contaminou-a de uma enorme negritude. A morte em couro realmente esteve naquela sala…
Este grupo apresenta-se com um visual fantástico, cobrindo o rosto e vestidos com um robe macabro representando a morte. Preocupados com a criação do ambiente desejado, não só através do vestuário, mas também através da própria postura e elementos agro instalados no palco mas sempre sem exageros.
Através da sua imagem, e para quem não conhecesse o grupo, esperava-se um black puro. Mas é aí que o fator surpresa entra, pois a juntar ao seu estilo ja caracterizado, são ainda bem visíveis uns apontamentos de grind, algo que pessoalmente nunca tinha visto ser feito. Prometeram levar o esterco e o negrume à Sala Rebullon e fizeram-no com um enorme êxito. Muita originalidade e, num mundo em que parece que já está tudo criado, são capazes de apresentar algo diferenciador e bom!
No final da atuação o vocalista acabou por retirar o veu que cobria o rosto, demonstrando que, apesar do estilo musical da banda poder exigir um certo distanciamento do público, este não o quer levar ao extremo, valorizando também a ligação com os fãs.
Uma banda muito recente, apenas com um EP editado em 2019- Aurora Tenebris– mas que tem muito potencial para se destacar no universo do dark black/death. Mantenham o olho neste grupo…
GODARK
Os Godark conseguiram um feito que até então não tinha sido alcançado, talvez pelo horário ou dia da semana, ou talvez por outro motivo qualquer. Mas o que é certo, é que até a atuação dos portuenses, a Sala Rebullón nunca tinha estado tão cheia e ainda não se tinham visto tantos braços no ar e de punho cerrado.
Não me surpreende pois os Godark são uma das sete maravilhas do metal português, e viajaram de Rio de Moinhos até à Galícia para conquistar o povo galego e provar, mais uma vez, que são uma das maiores promessas do death metal em portugal.
Este grupo apresenta um Death Metal melódico com energia e grandiosidade como uma verdadeira banda grande. Demonstram influências de bandas como Dark Tranquility e Insomnium, mas fazendo algo verdadeiramente único e diferenciador. Neste concerto, fizeram uma viagem ao mais recente trabalho Forward We March (2020) e ainda terminaram com uma surpresa.
Num mundo já vasto, no que toca ao death metal melódico, estes meninos apresentam uma variante desse mesmo estilo de certa forma colorido, mas nunca sem descuidar da sua brutalidade. Combinações fantásticas de intensidade e instrumentação progressiva e com vocais poderosíssimos. Com uma qualidade de execução, construção de melodias e técnica enormíssimos, demonstram um potencial de crescimento gigante. E é isto que torna os Godark tão especiais.
O encerramento do concerto esteve à responsabilidade do tema Leaving Out que estará presente no próximo trabalho do grupo, que sairá em breve. Se a curiosidade e ansiedade já estava no topo, depois desta interpretação só foi intensificado a 200%. Este tema inicia com trémulo picking à black metal, prossegue com uma melodia mais lenta e um elemento bastante emocional. Sentiram-se algumas influências de Gaerea, como se estivessem a criar algo mais melódico black. Mais uma vez, Godark parecem estar a criar um estilo bastante único deles mesmos.
Foi uma atuação brilhante e o público galego delirou com estes senhores. A prova disso foi o ataque à merch que aconteceu logo após a atuação. Mantenham-se atentos! Álbum novo a caminho…
ELIZABELTZ
A atuação que se seguia, era das que mais ansiava ver nesta edição do Autumn Alive Fest.
A banda originária de Bermeo, País Basco, e formada em 2018, faz algo completamente diferente de tudo o que conhecia. Não é por acaso que tem como rótulo ser um dos grupos mais transgressores do momento, com a sua fusão de Shock Rock, Psicodelia, Hard Rock e Heavy Metal.
Esperava-se uma atuação estranha (no bom sentido da palavra), cheia de teatralidade obscura e macabra. E, na minha humilde opinião, nesse sentido superaram qualquer expectativa que tinha criado. Com recurso às roupas que faziam lembrar a morte ou demónios, à cruz de madeira colocada no palco que segurava um teclado que por vezes era tocado pelo vocalista, à máscara do mesmo… Tudo foi estrategicamente desenhado para criar impacto. Sempre com bastante ênfase na melodia, apresentavam também coros grandiosos, com recurso a voz berrada mas também operática muito forte. Diria até que a capacidade vocal do front man, essa está ao nivel de King Daimond.
Apresentaram uma sonoridade sombria e crua, onde as cerimónias obscurantistas chocantes foram protagonistas, cheias de teatralidade. Os instrumentais, esses cheios de potência, mas com um elevado nível de progressividade foram super bem interpretados. E a atmosfera que conseguiram criar…. Esta foi tão densa e sombria que nos perseguiu e infestou. Chamar a este grupo de avant garde é pouco pois a estranheza na composição, e as mudanças rítmicas inesperadas elevam a coisa a outro nível.
Estava muito ansiosa por ver a atuação deste grupo, e agora estou ansiosa por os ver novamente, num futuro próximo, pois são diferentes de tudo aquilo que alguma vez já conheci, e fazem-no ser algo viciante. Parabéns a este grupo, acima de tudo, pela originalidade!
TOTENGOTT
Para finalizar a noite, este trio das Astúrias tinham a sala bem composta e claramente à espera da sua atuação. Mas antes de avançar para a sua performance, tenho que dar uma pequena explicação do que são os Totengott.
Inicialmente, os Totengott surgiram uma banda de covers aos Celtic Frost, mas em 2015 iniciaram a sua aventura na composição de originais, levando-os a construir 3 álbuns, de entre os quais o mais recente trabalho Beyond the Veil, lançado em Julho deste ano e ao qual deram enorme ênfase nesta atuação pois 6 dos 8 temas tocados neste concerto, foram desse álbum.
No entanto, as influências da mítica banda Suiça são bem visíveis nas suas composições. Até pelo próprio nome da banda, somos indiretamente remetidos a 2006, quando o tema “Totengott” de Celtic Frost foi lançado.
O que estes rapazes fazem é assustadoramente bom e negro. Por muito que se identifiquem as influências, criam algo surpreendente e soturno, apanhando o público de surpresa. E honestamente fazem-no tão bem quanto os próprios Celtic Frost Old School, ou a vertente mais Avant-garde, como a do último álbum “Monotheist” ou o seguimento em Triptykon.
Os Totengott começaram pelo “início”, músicas mais thrashadas e rápidas, o que foi bom para aproveitar a energia que ainda se sentia no recinto e meter o pessoas a mexer-se com riffs brilhantes, baixo bem audível, batidas típicas de Celtic Frost e uma voz por parte do vocalista principal que, meus senhores e senhoras, é como se o caro Tom G. Warrior tivesse um Doppelganger vocal, de tão brutalmente enraivecido, de uma negritude extrema e claro, um timbre “igual”! Era como se o homem ali estivesse!
Por falar em timbre, cada um dos três elementos da banda participa na parte vocal das músicas, com contribuições diferentes, em momentos diferentes, quando a música o pede. Isto é sempre algo de valor pois realmente dá outra versatilidade ao grupo pois são capazes de, com diferentes timbres, acrescentar diferentes ambiências.
Ao longo do concerto, deram especial ênfase ao mais recente trabalho o que, na minha opinião, foi uma excelente escolha. Este trabalho pode mesmo ser a rampa de lançamento mundial dos Totengott e tocado ao vivo é tão ou mais grandioso do que em estúdio.
Foi uma performance que, por muito que o cansaço (após dois dias de festival) quisesse vencer, era impossível. Este trio, através da sua forte técnica, criativa composição e excelente postura em palco, conseguiu levar e manter o inferno naquela sala, que infestou inevitavelmente todos os presentes.
Gostaria de saber qual a opinião de Tom G. Warrior em relação aos Totengott. Quanto ao público do Autumn Alive foi super boa e adoraria vê-los em Portugal, sabendo até que ha muitos fas de Hellhammer, Celtic Frost e Triptykon em solos lusos.
E com esta atuação assombrosa terminou mais uma edição do Autumn Alive Fest, em Mos, Pontevedra. São eventos como estes que mantêm a chama do metal underground viva! Agradecimentos à organização, nomeadamente ITP Promotions e Suspiria Records, staff e a todas as bandas que passaram pelo palco desta edição.
Aguardamos ansiosamente novidades para o próximo ano!