Ao acordar para o terceiro de Milagre Metaleiro já se sente um sentimento de nostalgia por se estar a aproximar o fim deste festival que é muito mais do que um festival, é um ponto de encontro com os amigos de sempre ao som das nossas bandas adoradas.
Mas ainda havia muito para aproveitar e para viver neste terceiro e último dia, que contava com Amorphis, Skalmold, Tierra Santa e muitos outros grandes nomes.
HENRIETTE B
E para começar o último dia de festival estão os suiços Henriette B, numa tarde de calor extremo à semelhança do dia 1, mas com os concertos a começar 1h mais cedo (15h). Mas nada disso fez com que o público aderisse menos.
E sendo um festival que não é conhecido por apostar muito no Metalcore, tanto os BloodRed HourGlass como estes Henriette B provaram que pode ser um estilo a ter em conta quando as bandas são bem escolhidas.
Estes suiços apresentaram um metalcore mais simples mas com muita força, muito balanceado e cheio pujança quase juvenil. Muito bom até para começar a dar força a um publico já desgastada pelo o calor e cansaço e 3 dias de loucura.
AMBUSH
Com Ambush em palco, a primeira coisa a saltar á vista na sua performance é que apesar de terem só 11 anos de carreira, já se parecem uma banda grande que já demonstram um profissionalismo enorme em palco mas sempre com aquela atitude rebelde em palco.
Os suecos são para além de muito profissionais, são potencias técnicas no que ao estilo Heavy/Speed Metal diz respeito. O público, na segunda música já estava conquistado e respondeu da melhor forma aos membros da banda. Ter em atenção estes rapazes para quem é amante do estilo dos anos 80!
No fim, para premiar o público, a banda brindou com o mesmo e foi uma forma de demonstrar carinho pelo ambiente criado pelos presentes. De realçar o “pénaty perfeito” do baterista Linus Fritzson levando o público á loucura.
DARK OATH
Diretos de Coimbra, os Dark Oath são já uma certeza do Metal nacional com o seu Death Metal melódico mas que é muito mais do que isso, pois apresentam uma intensidade vibrante, que pouco deixa o ouvinte “respirar” e ainda assim um sentido épico impressionante. Ainda tem como munição principal uma vocalista carismática e poderosíssima de seu nome Sara Leitão, que sendo a temática da banda mitologia nórdica, ela faz um papel de verdadeira valquíria.
Banda que já tem uma base de fãs considerável, ainda mais para um país pequeno como Portugal. Deram mais uma prova que é um estatuto merecido e em crescendo.
GLASYA
Banda que dispensa apresentações, também como uma vocalista portuguesa mas agora de metal sinfónico, e vindos de Lisboa, com 8 anos de carreira mas uma postura em palco super madura. A Eduarda Soeiro é dona uma voz operática poderosa e extremamente segura. Banda com vibes de Nightwish antigo e Epica mas com bastante originalidade principalmente em momentos mais pesados da sua música. Mais uma banda que nos permite ter orgulho do que é nacional.
Num gênero que para alguns pode ser saturado, Glasya realmente conseguem criar uma experiência auditiva verdadeiramente cinematográfica. A sua abordagem sobre a narrativa do metal sinfônico é como uma lufada de ar fresco. Altamente recomendado!
THE TROOPS OF DOOM
Os brasileiros The Troops of Doom chegam a palcos portugueses pela primeira vez como a banda do que foi guitarrista da formação original de Sepultura (Jairo “Tormentor” Guedz) e dessa forma podiam chegar a Portugal em “piloto automático” e esperar que o seu estatuto chega-se para despertar interesse do público.
Mas eles fizeram muito mais do que isso, apesar de serem membros com muitos anos de carreira, a raiva e a atitude dos mesmos demonstrou que eles estavam dá para dar uma verdadeira coça no público e que iam dar tudo para que assim fosse. Conseguiram e foi uma das surpresas do dia, e a adesão do público foi brutal.
PRESTIGE
Os Finlandeses Prestige usaram o palco do Milagre para dar uma “porrada” no público que já estava a deixar o recinto bem composto nesta tarde de verão. Estava bem seco o piso do recinto e com o Thrash Metal tresloucado destes finlandeses rapidamente se levantou uma tempestade de poeiras como se de repente nos encontrássemos no deserto. Tudo mérito não só do público no Pindelo mas também das bandas que despertavam isto no público, como foi o caso de Prestige. Pode parecer que o termo Thrash é muito repetido no que diz respeito ao cartaz do Milagre Metaleiro, mas para quem lá se encontra, nunca cansa, a loucura é garantida.
SKALMOLD
Muito público esperava pela atuação destes islandeses e isso viu-se pela quantidade de t-shirts respetivas á banda que existiam no recinto, pela espera em frente ao palco e pela envolvência do público durante o concerto.
Esta banda formada em 2009 apresenta um viking/folk metal que aborda temas como mitologia nórdica e poesia islandesa e portanto todo o concerto se tratou de uma genuína viagem ao país natal dos mesmos. Experienciaram-se momentos pesados e momentos mais envolventes, especialmente nas partes em que o baterista cantava em Islandês com o seu timbre característico e algo angelical, mas como um guerreiro angelical, se isso alguma vez existiu, e também nos momentos de coro de todos os elementos da banda e público.
Foi um concerto apaixonante onde o som estava perfeito, onde a intensidade foi crescendo exponencialmente até ao final e onde a emoção foi a chave crucial.
Um dos concertos mais intensos desta edição do Milagre Metaleiro na minha humilde opinião.
TIERRA SANTA
Os espanhóis Tierra Santa vieram manter a tendência do Milagre Metaleiro em apetrechar-se sempre muito e bem de bandas de terras de “nuestros hermanos” e no caso destes, já um nome sonante.
Já dispensam apresentações, senhores de uma carreira de 28 anos, são já grandes em Espanha e fizeram uma atuação que os pode tornar ainda mais conhecidos em terras lusas, até porque cantam na sua língua materna, algo que não soa muito diferente para nós. Até deu para notar que alguns portugueses deram uma “gracinha” ao tentar cantar os temas de Tierra Santa com o seu “portunhol”. Foi uma verdadeira festa de heavy/power metal como deve ser, e certamente ficará na memória de todos os presentes.
São uma banda que merecia ainda mais reconhecimento em Portugal e que, após este fantástico concerto, certamente o irão ter e merecidamente.
AMORPHIS
O momento da noite chegou, e o último cabeça de cartaz do festival entrou em palco, sentiu-se um descomprimir da tensão da espera pelo ultimo grande nome do Milagre Metaleiro.
Primeiros segundos de concerto e já se sabia que a intensidade ia ser enorme, pois há algo nas músicas dos Amorphis que apesar de melodias quase celestiais, há sempre um nível de intensidade enorme, como que se nos encontrássemos perante algo realmente divino no total sentido da palavra. E talvez assim o seja, pelo menos é o que sinto sempre que ouço a voz de Tomi Joutsen. É a voz de um verdadeiro deus nórdico, tanto na beleza e serenidade dos momentos limpos como no poder e soberania dos guturais, e a tudo isso junta-se o facto de ele soar exatamente igual ao vivo de como soa em estúdio. É algo incrível, as vezes faz-me pensar que também por situações destas o metal torna-se algo mais que música, algo transcendental.
E tendo noção que sou redatora da Cultura em Peso, e que portanto a imparcialidade deve estar sempre presente, mas mesmo assim posso claramente dizer que foi um concerto praticamente perfeito (não estou a exagerar): som muito bom, presença enorme de todos os membros da bandas, bom trabalho de luzes… Apenas sinto que faltavam alguns temas na setlist, nomeadamente “Death Of A King” e “From the Heaven of My Heart“. Mas o interessante e demonstrativo da grandiosidade desta banda, é que não seria capaz de dizer trocava algum dos temas escolhidos, era só acrescentar e fazer com que o concerto dura-se mais tempo!
Mais uma vez tenho de agradecer á organização do Milagre Metaleiro pela oportunidade de ver esta banda. É o momento de uma vida!
KISSIN’ DYNAMITE
A noite já vai alta e entram em palco uma das bandas que tem tido mais reconhecimento nos últimos anos na cena do heavy metal/ hard rock, e bastam os primeiros minutos para entender o porquê. A energia e atitude destes alemães é enorme, até a sua linguagem corporal é de quem emana confiança. Mais uma banda alemã com boa atitude, o que me leva a crer que há algo nos ares germánicos que é arrebatadoramente positivo, e foi bem demonstrativo nos palcos do pindelo, mesmo entre variantes de estilo.
Os Kissin’ Dynamite para além dessa atitude ainda têm o que se pode considerar a melhor combinação de estilos para expressar essa positividade, o Heavy Metal/Hard Rock que até já roça no Glam, até pela temática das musicas com cariz sexual misturado com humor e a basófia tipida do Rock/Metal.
O horário não era o mais fácil por já ser bastante tarde, mas não havia banda melhor que Kissin’ Dynamite. Até porque esta banda conseguiu garantir que o recinto continuasse bem composto durante toda a atuação!
SERRABULHO
O que dizer? Quem achava que já não havia energia ficou muito enganado. Que javardice foi aquela (no bom sentido da palavra)?. Desde as personagens inesperadas no palco, à espuma que inundou o recinto de lama, ao wall of dog, aos insufláveis e peluches, ao circle pit com caixotes do lixo…. Acho que não é preciso dizer mais nada. Cheguei ao final do concerto com dores nos maxilares de tanto rir e completamente confusa com a quantidade de coisas que foram acontecendo ao mesmo tempo.
O senhor Guerra (vocalista) é realmente uma personalidade daquelas, como entertainer, como vocalista, como original, como tudo. Houve ainda tempo para parabenizar os dois aniversariantes do dia, Marco Anastácio, um dos organizadores do Al Metal Fest, festival que se realiza em faro, e a personalidade gigante do metal português Fernando Ribeiro que completava meio século de vida sem. Ambos subiram ao palco e cantou-se os parabéns em estilo grind. Tivemos ainda oportunidade de assistir a um menino de apenas 5 anos na bateria, e como é que é possível tanta qualidade e confiança em alguém tão jovem? Os Zurrapa também subiram ao palco para tocar o hino do milagre metaleiro e aí foi um misto de emoções entre alegrias e nostalgia, vê-se gente abraçada e até em lágrimas pelo amor que existe a este festival. E mesmo quando música já tinha terminado, continuou do lado de fora do palco num coro em uníssono.
Basicamente num concerto de Serrabulho tem que se contar com o inimaginável, mas para fechar um festival cheio de emoções como o Milagre Metaleiro é mesmo algo único e inexplicável, é como dizia um tal de Luís Vaz de Camões – “Amor é um fogo que arde sem se ver” – e o que se sentiu naquela noite foi amor, um amor cru e na sua forma mais rudimentar mas o que é mais forte, tanto por parte do público, como da organização, como das bandas e ainda colaboradores estavam únicos nesse amor.
Piss And Love by Serrabulho!!!
Não existia melhor forma para terminar este festival que tanto dá às pessoas, tantas memórias, tantos novos e velhos amigos, tantos momentos felizes seja pelos sonhos concretizados ao ver certas bandas, à oportunidade de nos dão de falar com os artistas nas sessões de autógrafos, até ao simples convívio e familiaridade que existe.
Obrigada pindelo! Obrigada pelas recordações, pelos sonhos realizados, pela felicidade destes dias, e para o ano nos veremos novamente!
“No milagre metaleiro, sabes bem como é…..”