E finalmente chegou o dia mais ansiado para muitos: o arranque do Milagre Metaleiro Open Air tem tudo para correr bem: desde o enorme cartaz, que conta com nomes como Kamelot, Amorphis, Sodom, Marduk, Fleshgod Apocalypse, entre outros, até às excelentes condições do novo recinto e campismo.
Depois de mais um ano de espera, finalmente chegou a décima quinta edição e digamos que o campismo já estava bem cheio no dia 0 para aquilo que foi a receção ao campista. Esta abertura do festival ficou ao cargo de 3 bandas nacionais que muito prometem na cena do metal português e que provam que são nomes a estar de olho nos próximos tempos.
Fotos por Iúri Cremo
Texto por Cátia Sousa
DIA 0
PROMETHEVS
Os primeiros acordes do Milagre Metaleiro soaram a partir dos instrumentos de Promethevs, banda esta que apresenta um metalcore musculado, que faz lembrar The Haunted mas com melodias bem catchy. E não podia ter sido abertura melhor em terras milagreiras, abertura esta que se deu num palco que até faz lembrar as varandas onde atuaram os Gojira na abertura dos jogos olímpicos em Paris.
Este arranque já contava com muito público, principalmente campistas que estavam com bastante energia, tal como seria de esperar: era o início de 4 dias de muita festa!
VECTIS
Em seguida os Vectis subiram ao palco com o seu black speed metal destrutivo que foi um potenciador do mosh e do circle pit, perfeito para uma espécie de aquecimento para os dias seguintes. Deram-nos ainda a oportunidade de ouvir dois temas do novo split deixando a curiosidade nos fãs para aquilo que aí vem. Mais uma vez, muita adesão e energia do público, com circle pits constantes.
MUSIC IN LOW FREQUENCIES
Por fim, chegou o momento de mudar um pouco de registo, passar do mais rápido para o mais lento e hipnotizante. Os bracarenses Music In Low Frequencies apresentaram o seu post-sludge, doom com ambiências eletrónicas e como já nos começam a habituar, foi uma prestação arrebatadora. Com cordilheiras de riffs pesadões, momentos eletrónicos, estilo Cult Of Luna e uma vocalista que parece irreal ter tanto poder vocal… É difícil descrever esta atuação numa só palavra mas a primeira que me vem à cabeça é “hipnotizante”. Mais uma atuação desta grande banda que conquistou muitos corações.
E chegou assim ao fim do dia zero mas a festa continuou no campismo até bem tarde (ou talvez seja melhor dizer cedo)… O espírito deste festival realmente parece continuar bem familiar independentemente do exponencial crescimento e isso foi visível logo neste dia 0.
DIA 1
BLASPHEMIUM
E começa o arranque oficial do festival. Viveu-se um dia muito quente em Pindelo dos Milagres mas nem assim os metaleiros se contiveram e aderiram bastante ao primeiro concerto que foi ficando cada vez com mais audiência!
Os Blasphemium apresentaram um black metal melódico, algo com semelhanças a Dimmu Borgir antigo mas com bastantes toques originais. As vestimentas e corpse paint realmente ajudavam à criação de um ambiente negro mesmo em plena luz do dia. Mas são as melodias viciantes misturadas com precursões mais rápidas, teclas de certa forma preponderantes, os riffs pesados, as letras e toda a vibe da banda que realmente têm a capacidade de nos transportar às trevas. Incrível como estamos no primeiro concerto do primeiro dia e o fator surpresa (positiva) já estava a aparecer, e foi com esta banda.
REPULSIVE VISION
Mais uma vez uma banda onde apenas a imagem já marca pela positiva, com as suas pinturas que simulam sangue a escorrer pelo rosto e corpo. Juntando a isso, temos brutalidade do seu death metal de Londres, tornando aqueles minutos numa verdadeira festa pesadona. Apresentam variações interessantes entre batidas rápidas de death e riffs mais heavy, o que acrescenta um toque de imprevisibilidade aos seus temas e performances. E independentemente do calor extremo que se fazia, já se via muita poeira no ar , resultado do circle pit. A energia já estava fantástica, algo típico do espírito do Milagre Metaleiro e que não se perde!
VANAHEIM
Como descrever este concerto em poucas palavras…. Que excelente surpresa! A banda que esteve presente no Wacken este ano, realmente sabe como fazer uma verdadeira festa.
Apresentam um epic folk metal muito bem conseguido, cantando em holandês, que o torna ainda mais genuíno, e abordam temas como a mitologia e história antiga. O fator aparência também tem importância para interpretarem as personagens que abordam no seu único álbum “Een Verloren Verhal” editado em 2022. Isto, pois recorrem a vestuários e pinturas que criam o ambiente desejado, e a juntar a isso, uma energia absolutamente deslumbrante por parte de todos os elementos da banda. Realmente sentiu-se uma alegria honesta que contagiava toda a gente, algo que não é visível em qualquer banda…
A banda com apenas 9 anos de carreira foi o terceiro nome do primeiro dia do festival mas diria que daqui a uns anos será um dos últimos pois têm muito potencial de crescimento. Banda para estar atento no futuro…
AVENGER
O quarto nome do dia foram os Avenger, banda de heavy metal old school de Newcastle formada em 1982, que alguns anos mais tarde terminou e os vários elementos tiveram outros projetos, mas em 2005 retomaram a atividade. E ainda bem, pois os britânicos têm bastante ginga e sabem bem como puxar pelo público e dar um bom espetáculo de heavy metal!
Apresentam melodias que fazem lembrar Iron Maiden, sem querer isto dizer que se trata de uma cópia mas sim de melodias com tanta qualidade que realmente remontam às do gigante grupo. Foi a primeira banda de heavy metal, e que bom que foi!
BLOODRED HOURGLASS
E chegou a hora do palco do Pindelo ser atacado por uma onda de Metalcore cheio de energia, e esta tarefa este ao cargo de BRHG. Sejam ou não fãs de Metalcore, foi impossível não adorar a atuação dos finlandeses, até porque não se trata de um Metalcore puríssimo, mas sim com elementos de death metal à mistura, e claro, com bons riffs e break downs pesadões típicos do Metalcore.
A banda apresentou uma interação com o público maravilhosa durante toda a atuação e esta foi mega correspondida.
AXXIS
De seguida foi tempo de uns senhores com já 36 anos de carreira subirem a palco, os germânicos Axxis com o seu híbrido de Heavy/Power Metal melódico e há que dizer que são poucas as bandas que conseguem com tanta facilidade criar tantas e tão boas melodias e refrões orelhudos. Chega a ficar a ideia que mereciam ter atingido um patamar ainda mais alto a nível de reconhecimento. Resta salientar o trabalho do teclista Harry Ollers e a adoração que o público demonstrou ter por esta banda, cantando praticamente todas as músicas.
EQUILIBRIUM
Que hora intensa que foi esta da atuação dos germânicos Equilibrium. Realmente são os senhores naquilo que fazem! A energia contagiante e mega vibrante da banda entranhava-se nas nossas veias independentemente de qualquer coisa!
Arrancaram o concerto com uma introdução estrondosa, com recurso a dois tambores que eram tocados pelo guitarrista e baixista, René e Dom, e a coordenação com que tocavam era um fator diferenciador pois parecia um verdadeiro ritual. O jogo de luzes ajudava ainda a criar intensidade nos momentos necessários, e o resultado era maravilhoso!
Este concerto facilmente poderia durar mais 1h que a energia do público ia continuar e até crescer. Embora tenha parecido curto, tocaram os temas considerados “obrigatórios”, mas pessoalmente, estou ansiosa pelo regresso desta banda que está agendado para 15 e 16 de outubro, no porto e em lisboa respetivamente.
FREEDOM CALL
E o tão ansiado regresso dos power metaleiros alemães Freedom Call finalmente chegou. Estes estiveram presentes na nona edição do Milagre Metaleiro, em 2016, e aqui estão eles novamente, 8 anos mais tarde, a pedido de muitos portugueses (e não só).
Com praticamente recinto lotado, não se sentiu frio durante este concerto embora a hora já fosse avançada, pois era impossível estar quieto. Os experientes Freedom Call que abordam temas como Fantasia, Aventuras, Otimismo, Glória, provaram mais uma vez que o “Metal is for everyone” e também pode ser feliz, pois contaminaram todos os presentes com os seus refrões e melodias que ficam no ouvido. As músicas eram cantadas não só pela banda mas também pelo público, demonstrando a admiração que existe por esta banda.
Foi uma verdadeira festa como já seria de prever!
SODOM
E chegou a hora dos cabeças iniciaram a sua onda de destruição. Depois de dois concertos algo mais festivos, chegou a hora do furacão que são os Sodom mostrarem do que são capazes. O recinto já estava completamente cheio e realmente este concerto foi de uma agressividade absolutamente brutal. Os alemães vieram provar mais uma vez que merecem o lugar que lhes é atribuído de entre os BIG FOUR do thrash metal alemão.
Os veteranos têm riffs que ficam ao lado de Master of Puppets e Raining Blood combinados com a atitude de Motorhead. As raízes punk de Sodom realmente os distinguem, com mudanças de ritmo incrivelmente rápidas como no tema ‘Blasphemer‘ e parecem que vão desmoronar a qualquer minuto. Há um toque agradável e simplista em cada riff .
Incrível como após tantas horas de música ainda existia tanta energia por parte do público. Mas os Sodom têm essa capacidade, de provocar descargas de adrenalina totais que se refletiram em crowd surfing e circle pits constantes.
Quer sejas fã de thrash ou não, ver este grupo em carne e osso é completamente obrigatório!
METALIUM
E continuando por terrenos germânicos, os Metalium pisam os palcos do Milagre Metaleiro para nos dar umas lições de como fazer bom Power/Speed metal. Já não são novos por estas andanças e no alto dos seus já 26 anos de carreira e 8 álbuns de estúdio, estes senhores mostram-nos como é sempre grandioso ter qualidade interpretativa quando as temáticas são batalhas épicas e fantasia, fazendo com que o publico queira cantar tudo de punho cerrado no ar como que fossem soldados em campo de batalha. Esse papel foi cumprido e já não era fácil ter energia aquelas horas da noite. Por isso, tem que se parabenizar a estes alemães.
FLESHGOD APOCALYPSE
U-A-U! Os italianos do symphonic/technical death metal vieram para ficar! É fascinante como esta banda apareceu há relativamente pouco tempo, criou um estilo completamente único e que apenas eles o conseguem fazer e consegue surpreender a cada atuação. São bandas como estas que são precisas, mas não é fácil. Num mundo em que parece que tudo já foi inventado, como conseguem os Fleshgod continuar a fazer algo sempre novo? Toda a teatralidade desta banda é absolutamente fantástica!
O concerto deu-se numa data especial, pois foi neste mesmo dia que o seu mais recente álbum “Opera” foi lançado e, sem me querer precipitar, parece-se estar na luta para o melhor álbum alguma vez feito por Fleshgod e esse lugar no pódio já não era fácil de conseguir. Durante o concerto, presentearam-nos com o primeiro single desse novo álbum “Pendulum” e diria que é um dos temas para ficar na setlist durante muitos e muitos anos.
Esta atuação teve apenas um problema… Foi demasiado curta. Sei que é comum dizer-se isto quando se ama a banda em questão, mas falharam temas obrigatórios como “The Forsaking“, “Monnalisa“, “Blue (Da Ba Dee)” e até mesmos os dois singles de avanço de “Opera“, “Bloodclock” e “I Can Never Die“. E esta opinião pareceu-me geral pelas reações do público.
Foi uma excelente atuação dos italianos em todos os sentidos, mas honestamente ficou o bichinho por mais. Portanto Fleshgod, por favor, voltem rápido!!!
E chegou assim ao fim o primeiro dia do Milagre Metaleiro 2024. E que dia! Foi um arranque impecável onde parece que todos os astros se alinharam, pois, pelo menos da perspectiva do público, parece que nada falhou.
Viveu-se um dia muito quente em Pindelo dos Milagres (como já estamos habituados) e uma noite gelada, mas o que não faltava era cerveja para refrescar, hidromel para aquecer durante a noite, música para apreciar, convívio, amizade, e tudo aquilo que é necessário para se viver um dia inesquecível.
Parabéns Milagre Metaleiro, mais uma vez, por superarem todas as expectativas. E siga para o segundo dia!