Revisitar a trajetória do ‘rock gaúcho’, termo cunhado na década de 1980 pelo saudoso produtor musical Carlos Eduardo Miranda (1962-2018) para ajudar a forjar um agitado movimento cultural de rock autoral que estava nascendo por aqui, com bastante destaque para o bairro Bom Fim, em Porto Alegre, é relevante para diversas gerações de fãs. Mas uma tradição inventada que se preze, como bom fenômeno historiográfico que é, não está parado no tempo e no espaço.
Urge, portanto, a necessidade de se rever, de tempos em tempos, fatos que, por algum motivo foram silenciados e injustiças que foram cometidas ao longo da jornada. Mais do que passar a limpo, “100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho”, do jornalista Cristiano Bastos e do diretor de arte Rafael Cony, trazem à superfície personagens históricos fundamentais menos citados nesse microcosmos, como é o caso dos legados da baixista, cantora, compositora, produtora musical e desenhista, Lory F., e do guitarreiro negro Luís Vagner.
O livro começará a ser comercializado a partir do dia 10 de julho direto com os autores. Previsto inicialmente para novembro 2021, teve sua entrega atrasada devido à complexidade da obra, produzida por meio de financiamento coletivo.
A pesquisa sonora meticulosa dos autores é sem dúvida um documento de colecionador que vale a pena ser adquirido. A obra faz um registro de pelo menos cinco décadas do mais puro rock’n’roll feito por aqui – e suas vertentes rock rural, hard-rock, heavy metal, punk-rock, rock progressivo, rock tropical, blues, reggae, samba-rock, funk-rock, jazz-rock, rockabilly entre outros estilos musicais que flertam com o rock, na música e na atitude.
Os 100 álbuns de artistas diversos foram elencados por meio de uma curadoria formada por 100 personalidades influentes do meio, como a jornalista Bruna Paulin, o artista Edu Meirelles, o músico Carlinhos Carneiro, entre muitos outros músicos, produtores, jornalistas e radialistas ligados à arte e à cultura, que resultaram em 300 páginas de um material rico, bem apurado e esteticamente agradável, que registra de forma satisfatória momentos icônicos e embala uma viagem a esta que é sabidamente uma das cenas mais criativas (e peculiares) da música brasileira fora do eixo Rio-São Paulo. E que continua mais viva do que nunca.
É preciso ressaltar que realizar um ranking do gênero não é uma tarefa fácil, pelo contrário, conta Bastos, em conversa à revista Cultura em Peso. Já na introdução do livro, o jornalista e o diretor de arte deixam claro o porquê de usarem o termo “maiores” no título do livro, e não “melhores”. “O objetivo foi justamente distanciar-se do lugar comum no qual habitualmente trabalhos desta natureza recaem e assim evitar um juízo de valor em relação às obras, o que teria ocorrido caso tivéssemos escolhido a enunciação “melhores”. Sem dúvida, um distanciamento que deixa claro que se trata se um trabalho que tem no jornalismo a sua essência, recheado de pesquisas, entrevistas, digitalização e restauro de capas de bandas que os roqueiros daqui conhecem – ou acham que conhecem.
