Sombria, misteriosa e esotérica: essa é atmosfera da banda Spell Garden. Através de um metal denso, o grupo multinacional toca na ferida de uma sociedade que ainda convive com tanto preconceito religioso. A temática ocultista é trabalhada muito bem pelos seus membros Raphael Santos (guitarra e baixo), Allan Caique (voz e bateria) e Nicolás Diás (vocais) em sua trajetória que contém 5 singles e 2 álbuns.
Trata-se de um projeto musical recente que possui um forte potencial criativo. Seu último lançamento, o álbum que carrega o mesmo nome da banda, já é um sucesso na internet. Confira o novo trabalho deles aqui:
Conversar com a banda foi enriquecedor, é muito interessante observar o quanto a internet pode ajudar novos projetos de heavy metal até mesmo internacionais. Será esse o futuro da música?
Como surgiu a ideia de fundar a Spell Garden e por que a escolha do doom metal como subgênero de trabalho?
Raphael – A ideia da fundação da banda Spell Garden surgiu em 2021, por mim. A ideia principal para o surgimento da banda surgiu a partir da canção “Witches Garden” da banda Uncle Acid & the deadbeats, nesta canção a banda aborda a temática da bruxaria, com algumas bruxas fazendo os rituais em seu convento enquanto um homem observa através das árvores da floresta. Eu já era um ouvinte de banda com essas temáticas como: Blood Ceremony, Black Sabbath, Pentagram etc, porém, esta canção do Uncle Acid foi o estopim para a iniciativa de formar uma banda de Doom Metal com esta temática.
A Spell Garden é um sucesso na internet, a banda é muito bem divulgada nas redes sociais e nas plataformas de streaming. Como é apresentar um novo trabalho no cenário em que somos constantemente bombardeados por tantas informações?
Raphael – A banda conquistou bons números nas redes sociais e streamings logo em seus primeiros trabalhos, apesar da temática representar uma minoria no cenário do metal mundial (principalmente no underground brasileiro), soubemos dialogar bem com essa minoria e de alguma forma representá-los nas letras. Sendo assim, sempre fomos bem recebidos pelo público ao apresentar as novas ideias, músicas e artworks. Este apoio sem dúvida está nos motivando a não parar!
Sabemos que há integrantes residentes no Brasil e Argentina. Como vocês fazem para compor e ensaiar as canções? Quais são os benefícios e malefícios dessa realidade?
Raphael – Pode parecer que não, mas a parte de composição é bem simples. Na banda todos somos profissionais e confiamos 100% na função que cada um exerce. No processo de composição, envio o áudio da guitarra já completo para o Allan (baterista e vocal) informando a divisão das partes, BPM e informo como imaginei a bateria. Por sua vez, o Allan faz um ótimo trabalho e grava a bateria do jeito que imaginei e com vários upgrades (vindos de suas influências em outros gêneros fora do Doom). Por fim, o Nicolás (vocal principal) grava a linha de voz perfeitamente, encaixando 100% no arranjo e a magia acontece.
O benefício disso tudo é que nós conseguimos trabalhar de maneira rápida e sempre entregar música nova para o público, o que tem contribuindo bastante para ampliar os ouvintes nas plataformas e seguidores no Instagram.
O malefício é que por conta da distância, o Nicolás não pode comparecer em todos os shows, sendo necessário chamar um outro vocalista para realizar as apresentações conosco. E por sermos três, também é necessário chamar outros músicos para complementar a banda nas apresentações.
Quais bandas influenciaram a sonoridade do novo álbum que leva o nome da banda? E que bandas brasileiras vocês indicariam para quem é fã de doom metal?
Raphael – Algumas bandas seguem influenciando o som da nossa banda desde sua fundação, para este nosso novo álbum as maiores influências foram em bandas como: Candlemass, Pentagram, Blood Ceremony, Sleep, Black Sabbath, Graveyard e Witchcraft.
As ótimas bandas brasileiras que podemos indicar são: Pesta, Abske Fides, Cattarse, Contempty e Liträo.
Além do doom, quais estilos musicais (dentro e fora do metal) vocês consomem? Eles também influenciam a sonoridade da banda?
Raphael – Sem dúvida! Os membros da Spell Garden consomem diversos outros gêneros que são bem longe do Doom Metal, isto tem influenciado positivamente nossa sonoridade. Os meus gêneros além do Doom são: Stoner, Sludge, Groove e Heavy Metal. Bandas como: Blues Pills, Lamb Of God, Black Label Society e Black Sabbath.
Nicolás– Influências musicalmente: Down, Kyuss, Queens of the Stone Age, Black Sabbath e Witchfinder General. Vocalmente: Scott Weiland, Layne Staley, Ozzy e Peter Stahl.
Allan – Eu diria que as minhas influências fora do Doom são Metalcore e Deathcore. Bandas como: Whitechapel, Darko US, Sleep Token e Spirit Box me influenciam nas composiçoes.
Vocês acreditam que bruxaria e paganismo são assuntos polêmicos nos dias atuais? Os membros seguem alguma religião ou filosofia oculta? Qual a importância de falar desse assunto?
Raphael – Paganismo sempre foi um assunto polêmico no Brasil, infelizmente a sociedade ainda sofre pela herança histórica de manipulação pela Igreja. Por isso é muito importante abordar temáticas como esta e mostrar para os ouvintes um lado que talvez eles ainda desconhecem, fazer com que essas pessoas que sofrem diariamente com intolerância religiosa não se sintam sozinhas e encontrem um conforto em nossas músicas. Esta é a herança deixada por Black Sabbath.
Na banda, eu sou um estudioso e praticante do ocultismo desde 2015.
Além da música, outros tipos de arte influenciaram a temática do projeto?
Raphael – Além de nossas músicas, a temática Wicca também influencia nossas artworks. Além da wicca, nossas artworks são fortemente inspiradas no The Weird Sisters, obra de Shakespeare no Macbeth.
Como foi o processo de gravação do último álbum “Spell Garden”? Quais foram os maiores desafios nesse trabalho?
Raphael – O processo de gravação para este novo álbum foi bem simples, nós não temos férias, amamos o que fazemos e fazemos com total leveza. Assim que acabamos o lançamento do primeiro álbum “Witches Coven”, a gente já iniciou as composições para este segundo álbum. E já iniciamos as composições para o terceiro álbum, agora com o segundo álbum finalizado e publicado.
Para mim o maior desafio é não poder compor todo dia!
É muito interessante ver uma banda tão nova com dois álbuns lançados. Vocês têm a ambição de lançar mais canções ainda esse ano ou preferem focar em outras tarefas?
Raphael – Apesar de termos outros projetos fora da Spell Garden, a produção da Spell Garden está a todo vapor! Já temos um terceiro álbum previsto para o meio do ano. A meta decidida entre nós é lançar pelo menos 2 álbuns por ano.
Trabalhar em outros projetos não é obstáculo para nós, e o público está gostando muito deste nosso ritmo!
Fazer música no Brasil é desafiador! Que mensagem vocês deixariam para músicos e futuros músicos que pretendem formar uma banda de metal?
Raphael – A mensagem que eu deixo é que não desistam, o Metal nunca morreu e nunca morrerá. O Underground está mais vivo que nunca! Tem espaço para todos, tem muito jovem cheio de ideias e com ótimas composições. Venha enriquecer cada vez mais a cena brasileira! Espero vê-los nos palcos em breve