Os primeiros rugidos vindos do underground de Gotemburgo fizeram ouvir-se no final de 1993, início de 1994, quando três amigos decidiram formar uma nova banda. Sob o nome System Collapse, posteriormente SKITSYSTEM, são um dos pioneiros da segunda onda de d-beat sueco, ao lado de bandas como Wolfpack e Disfear. Os Skitsystem tomaram forma com malta dos At The Gates e, em 1995, fizeram o primeiro lançamento em vinil, o EP “Profithysteri”, com selo Distortion. Com várias digressões e mudanças de formação no cinto, Fredrik Wallenberg manteve a banda activa, lançando alguns EPs e apenas dois LPs, “Enkel Resa Till Rännstenen” e “Stigmata”, que provocaram ondas no underground. Tensões internas ditaram um hiato de três anos, interrompido por mais uma fase de concertos e novo mergulho numa pausa prolongada, que terminou em 2018. “Sem speed, não há punk!” – essa era “icónica” pode já ter sido esquecida, mas estes suecos lendários do d-beat/crust vão mostrar o caos total dessa era.
Sim, até podem conhecer os membros dos LIK de algumas outras bandas, algumas delas bastante grandes por sinal. O baterista/vocalista Chris Barkensjö (Mefisto, ex-Witchery/General Surgery/Face Down e um monte de outras), o guitarrista Niklas Sandin (Katatonia), o vocalista/guitarrista Tomas Åkvik (Bloodbath) e o baixista Joakim Antman (Bloodbath ao vivo, Diatonic, Overtorture) são tipos ocupados, mas isso não quer dizer que este quarteto de Estocolmo seja um mero projecto ou uma actividade ocasional. Bastam apenas alguns segundos de qualquer um dos seus três álbuns editados até agora, «Mass Funeral Evocation» (2015), «Carnage» (2018) ou «Misanthropic Breed» (2020), para isso ficar absolutamente claro – a sua aproximação afiada, insuportavelmente pesada ao death metal e os temas de horror e guerra que tratam são tão sérios como uma motosserra a cortar-nos ao meio. Não há cá “toques melódicos” nem floreados de qualquer espécie na música dos LIK, ou se morre pelo riff lento e feio, ou falecemos depois de o riff rápido e feio nos ter passado por cima. É de esperar toda a subtileza de um martelo quando subirem ao palco em Barroselas. Sem piedade!
Passam já mais de duas décadas desde a reunião de dois nomes icónicos do black metal nacional: Nocturnus Horrendus, que se revelou nos Corpus Christii e depois disso deixou a marca em inúmeras bandas como Storm Legion, A Tree Of Signs ou Son Of Cain, e Vulturius, mentor dos Irae, mas com o dedo em inúmeros outros grupos e projectos, entre eles Decayed, Kommando Baphomet, Scum Liquor ou Viles Vitae, entre muitos mais. Encontraram-se ocasionalmente em palcos, mas em estúdio é MORTE INCANDESCENTE que melhor representa essa junção. Desde «…Your Funeral», em 2003, até «…o Mundo Morreu!» em 2016, a dupla editou quatro álbuns. Em 2021, com chancela Signal Rex, lançaram «Vala Comum», um manifesto de subversão assinado com a crueldade que se espera desta dupla de maníacos.
Uma visita à página de Facebook dos Els Focs Negres dá-nos imediatamente uma singular descrição: “Heavy Metal Armageddon Speed Metal Massacre!!!” No caso de uma qualquer banda menor, diríamos algo como “e isso descreve-os perfeitamente!”, mas no caso desta malta, isso é apenas o início da conversa. Criados por duas individualidades da cena nacional, o mítico Belathauzer, aka Monsenyor Bthzr, dos lendários Filii Nigrantium Infernalium, e Hugo Conim, aka Hugo “Serp de Cascavell” C, um guitarrista de excepção responsável pelos Dawnrider, Son Of Cain, Dragon’s Kiss, Patrulha Do Purgatório e tantos outros nomes de destaque portugueses, os Els Focs Negres tocam uma mescla indescritível de blackened heavy metal profundamente mergulhado em imagética eclesiástica, o que inclui as letras, títulos e o próprio nome da banda, todos em catalão e que se referem a um universo litúrgico de fogo e enxofre baseado naquela região – e já têm dois álbums completos disto, o auto-intitulado de 2020 e o «Martiris Carnívors: Himnes Per A Un Nou Apocalipsi» de 2023. Se tudo parece uma loucura total, é porque é mesmo, e não queríamos que eles fossem de outra maneira.