Undercaos – Inexplicável.
Porque ainda tenho dificuldade em entender o quanto ainda precisamos aprender a aceitar o novo.
Tenho sido um constante defensor da evolução, mas permaneço imóvel diante das velhas críticas. Como se a única forma de lutar contra isso fosse ficar em silêncio (e não argumentar contra isso ou me gastar tentando… o último sendo tão necessário).
O festival Undercaos está em cartaz há duas edições, trazendo o melhor do rock underground para a cena limenha que se afoga em ilhas musicais. Uma noite no centro de Lima não seria problema se não fosse domingo, mas as pessoas comparecem, congregam, apertam as mãos se se reconhecem, mas não se levantam para aplaudir o andamento.
Como se ir a um concerto fosse ouvir as mesmas três músicas da banda de que tanto gosta (para se sentir o seu “verdadeiro” seguidor) e não assistir a uma autêntica apresentação à altura da tarefa.
Quando meu primo me diz “El Jefazo é superior”, remexo na memória meu primeiro headbang no mesmo lugar, há mais de meio ano no show do Cavalera. Um homem, bem na casa dos 45 anos, envolto em sua jaqueta, prostrado contra a coluna vermelha, me viu pular e me envolver na fumaça, na cerveja que voa e nos riffs que soltam. Então, com o mesmo sorriso que emanava daquele rosto, olhei para o meu primo e disse para mim mesmo: “Existe um futuro.”
E há futuro porque há pessoas que se levantam. Há quem queira abrir os palcos como Reptil e há quem peça mais uma música, porque vale a pena. Há quem continue a apostar na experiência visual, o que justifica muito o investimento de um bilhete (como é o caso do Cholo Visceral), ou na integração de cantos gregorianos como os Satánicos Marihuanos. E não sei se os homens e mulheres que sentam para beber um drink em liquidação percebem isso, mas tem gente aqui tentando. Além do mais, deixou de ser um jogo e é um estilo de vida, não como apenas vestir-se de preto e acreditar que isso agrega à sua identidade misteriosa.
Não acrescenta nada à sua identidade misteriosa se você não aplaudir, se não parabenizar seus irmãos pela turnê no México (que, aliás, quanto ainda temos que aprender sobre empatia se quando eu for para abraçá-los por isso, os meninos me respondem que sou o primeiro a presenteá-los … tendo tantos no show). Sua crítica pobre e miserável não acrescenta nada aos eventos … só porque desta vez eles cobraram a taxa de entrada.
Porque aqui eu não só professaria as virtudes se não me fosse possível dizer a verdade: “Com ou sem você, o acontecimento foi possível”.
E pouco me importa ser apoiado pelo seu “verdadeiro estilo” de viver a cena. Porque se ser verdadeiro é ser indiferente e babaca, prefiro andar do outro lado.
Desta curva, dou os parabéns à organização, porque empurraram o carro o mais longe possível; aos que ficaram à frente das bandas e poguearó, pediram música (vivendo um show inédito); aos que compraram o merch e ao grande Evil por fazer do som uma experiência impecável.
Vallejo diria bem: “Há irmãos muito a fazer.”
E com você, ninguém mais é necessário para trazer mudanças.
Taro K. Zelada.