Assim como a história recente reconhece Paulo Coelho como o grande parceiro letrista de Raul Seixas, outro personagem fundamental na vida do músico atendeu pelo nome de Claudio Roberto. Morto em novembro do ano passado, aos 70 anos, o compositor foi responsável, ao lado de Raul, de algumas de suas músicas mais lindas e fundamentais, como “Maluco Beleza”, “Aluga-se”, “Rock das Aranha” e “Cowboy fora da lei”. Mas por que falar em Claudio Roberto agora, em pleno julho de 2023? A resposta é simples: o baú do Raul vem sendo contantemente redescoberto, por isso que você já deve ter ouvido por aí o termo “Toca Raul”.
Amigos na juventude, Raul Seixas e Claudio Roberto se conheceram em 1963. Cláudio era sete anos mais novo do que Raul, e foi o primeiro namorado de sua prima, a escritora Heloísa Seixas. Mas a história com Cláudio Roberto ganha início após Coelho começar a sair de cena da vida do Raul, logo depois do lançamento de “Há 10 mil anos atrás”, onde a parceria dos dois ainda fluia naturalmente. Raul, que sempre teve necessidade de ter alguém escrevendo com ele, lembrou então desse amigo, chamado Cláudio Roberto de Andrade de Azeredo, um carioca com quem Raul teve uma conexão imediata. O relato completo desse encontro você pode assistir no documentário Maluco Beleza, disponível nesse link.
Cláudio conta nesse longa entrevista que a grande contribuição que o Raul deu pra ele nessa fase foi ensiná-lo a canalizar toda energia pra música. Além disso, ao se unirem, Claudio fez alguns alguns pedidos para Raul: como condição, ambos iriam começar a escrever sobre coisas reais, deixando para trás a áura mística que rolava na parceria com Paulo Coelho. E o primeiro disco desta parceria logo surgiu, em 1977, com “O Dia em que a terra parou”, que trazia a clássica Maluco Beleza (e o maluco, no caso, o próprio Cláudio):
Enquanto você se esforça pra ser
Um sujeito normal e fazer tudo igual
Eu do meu lado aprendendo a ser louco
Um maluco total, na loucura real
Já outro disco bacana surgido nessa época por causa desse parceria é “Por quem os sinos dobram”, mas o making off desse título não foi nada legal para Claudio Roberto. Segundo o jornalista Jotabê Medeiros, no livro “Por quem os sinos dobram”, a faixa título deste álgum acabou provocando rusgas entre entre Raul e Cláudio, porque Raul registrou a canção no nome de outro amigo: Oscar Rasmussen. Essa fase foi complicada na vida do Raul, mas logo ele procurou novamente Claudio, um grande cara, para dar continuidade à parceria no sítio que ambos usavam para compor. Nessa época entra na vida de Raul sua quarta esposa, Kika Seixas, que também participava do processo criativo.
Infelizmente, pouco tempo depois, após agonizar por anos em decorrência de problemas graves de saúde, como abuso de álcool e drogas, Raulizito se foi, em 1989. Cláudio Roberto, que chegou a receber 12 notícias falsas sobre a morte do amigo, não ficou legal com a sua partida. Segundo o próprio, ele demorou 10 anos para digerir a morte do parceiro. “Chorei anos e anos e anos, e chorava e me perguntava se isso não ia passar… Até que tive um sonho libertador com ele e com a Kika e foi a última vez que eu sonhei com ele. Eu devo ter deixado a alma dele em paz.”, disse Claudio Roberto, que continuou morando no sítio em Miguel Pereira até sua morte, em 2022, por decorrência de problemas cardíacos.