Lucifer Prometheus
Uma nuvem profana paira sobre as terras do Nordeste, e de lá surge uma cena única do metal extremo nacional. Me refiro às bandas de black metal nordestino, que representam um underground autêntico, fora dos padrões sulistas e paulistanos. Toda vez que alguém me fala em black metal nordestino, tem meu interesse e atenção. Nos últimos anos, algumas bandas produziram materiais que as consagraram como titãs no underground nacional, entre elas estão: Mystifier (Bahia), Pantáculo Místico (Ceará), Hecate (Ceará), e os veteranos do Lord Blasphemate (Natal, Rio Grande do Norte), com seus 25 anos de atividade.
Em abril deste ano, a Lord Blasphemate lançou seu quarto álbum de estúdio: “Lucifer Prometheus – Sun in Aries 0°0’0″ – Equinox”. Lucifer Prometheus prende a atenção desde a produção gráfica: a arte impecável por Alcides Burn, um trabalho incrível, com imagens luciferianas. Aliás, fica de cara a temática que sempre configurou a personalidade da banda: um conceitual filosófico, tratando de temas místicos e esotéricos. Tendência atual em muitas bandas de black metal “gnóstico”, como na linha lírica de Watain.
Com muita personalidade, esse álbum é outro trabalho da banda que segue nitidamente a escola grega, lembrando muito a sonoridade do Rotting Christ. Um detalhe que particularmente me incomoda nas bandas atuais de black metal é o excesso de enrolação e frescura. Em Lucifer Prometheus temos um som agressivo, porém, com belas melodias de guitarra, numa pegada mais “heavy metal” clássico. O álbum é bem pelo contrário, ele “cresce” a medida que se escuta mais vezes, não caindo no desgosto. Não há frescura, mas um som agressivo de black metal bem produzido, e brilhantemente artístico.
Ao longo das faixas, é construída uma atmosfera com as riffagens precisas, e orquestrações. O álbum é impressionantemente bem produzido. Os arranjos são dignos de erudição musical. Como uma banda de black metal consegue ser agressiva, crua e ao mesmo tempo orquestrada com teclados e passagens de vocal limpo? Perguntem pra Lord Blasphemate.
Destaque para a faixa “Heptarchia Mystica – The Enochians Slaves Angelicae”, muito bem construída, com ousadia em apresentar tantas variações de humor e andamento ao longo de 10 minutos e meio.
Lucifer Prometheus é um trabalho de qualidade superior, que se coloca num patamar de respeito no metal extremo nacional.
Luiza Pires