Não é novidade que parte do rock mundial já se relacionou com a estética e apologia de práticas fascistas e nazistas. A história está cheia de exemplos. A própria imagem do Sid Vicious, baixista do Sex Pistols, em 1977, vestindo camiseta com suástica, voltou a circular nas redes depois que o cancelamento de dois shows da banda de black metal norueguesa Mayhem (em Porto Alegre e Brasília) tomou forma na grande imprensa.
Os dois casos chocam, mesmo em épocas diferentes. Mas se Sid Vicious tinha intenção de chocar as pessoas naquela época usando apetrechos nazistas, o que também é altamente condenável, hoje também é deplorável aceitar bandas que flertem com atitudes discriminatórias em nome de uma suposta “liberdade de expressão”.
O Brasil, que também tem seu núcleo de roqueiros de extrema-direita, como o Lobão e o Roger Moreira (do Ultrage a Rigor), viu no cancelamento do Mayhem a oportunidade de debater o assunto, e o que se assistiu foi uma quantidade absurda de pessoas que não se importa com a postura política da banda, o que assusta, já que somos seres políticos, oras, e a música representa como agimos e pensamos. E não apenas que não se importa: como se não bastasse, pessoas mal intencionadas foram para cima de ativistas que lutam contra a proliferação do fascismo, como o deputado estadual pelo PT do Rio Grande do Sul, Leonel Raade , entre outros ativistas que receberam ameaças gravíssimas de discriminação e ódio, como o deputado Fabio Felix, do Psol.
Contudo, quem odeia nazista comemorou os dois shows do Mayhem cancelados. O Ministério Público já havia recomendado que o show fosse desmarcado por conta de posicionamentos nazistas dos integrantes, entre outros discursos de ódio. Segundo o documento do MP, “Há evidências de que integrantes e ex-integrantes da banda estão envolvidos com apologias neonazistas, suicídio, canibalismo e assassinato, além de diversos tipos de violências e discriminações, incluindo queima de igrejas, referências à extrema violência, incitação à mutilação, declarações racistas e antissemitas, entre outros”, diz a recomendação, assinada por promotores. Sim, o Mayhem possui uma lista extensa de envolvimento com crimes.
Se você precisa de um refresh, vamos então à contextualização: o nazismo é uma ideologia política inaceitável por se tratar de uma exacerbação do racismo visando eliminar fisicamente “raças” vistas como inferiores pelos arianos. Durante a 2ª Guerra Mundial, Adolf Hitler, um dos ideólogos e líder do movimento nazista, colocou em prática a chamada “solução final” que tinha por objetivo exterminar todos os judeus, bem como ciganos, eslavos e homossexuais. Embora o nazismo tenha sido derrotado pelas forças aliadas culminando no fim da guerra na Europa, existem diversos movimentos atuais que tentam restabelecer a ideologia nazista. O chamado neonazismo é uma atividade considerada crime em grande parte dos países inclusive no Brasil.
Da parte da banda, teve declaração do baterista, Jan Axel Blomberg, que soltou uma nota defendendo a “(…) que conceitos mundanos e questões sociais estão abaixo da liberdade da mente”. (você confere na íntegra aqui).
Algumas das bandas que foram associadas ao nazismo incluem:
Skrewdriver: Uma banda punk rock britânica que se formou em 1976 e se tornou conhecida por sua mensagem nacionalista branca e seus laços com grupos neonazistas. A banda foi liderada pelo vocalista Ian Stuart, que era um conhecido ativista da extrema-direita e faleceu em 1993.
Burzum: Uma banda norueguesa de black metal que foi fundada por Varg Vikernes em 1991. Vikernes, que também é conhecido como Count Grishnackh, é um notório nacionalista branco e neonazista que foi condenado por incendiar várias igrejas na Noruega e por assassinar o guitarrista Øystein Aarseth.
Absurd: Uma banda alemã de black metal que se formou em 1992. A banda é conhecida por suas letras extremistas e violentas e por sua associação com o movimento neonazista alemão. Vários membros da banda foram condenados por crimes relacionados ao neonazismo.
Death in June: Uma banda britânica de neofolk que se formou em 1981. Embora o vocalista Douglas Pearce tenha negado ter ligações com o neonazismo, a banda tem sido associada a movimentos de extrema-direita e alegações de racismo e antissemitismo.