1 – CEP (Cultura em Peso) Scatha é um dragão, personagem de J.R.R. Tolkien. O nome da banda surgiu por que são fãs da saga “O Senhor dos Anéis”? Como foi feita a escolha?

Cíntia Ventania – Hahah não, não…  Escolhemos o nome sabendo que Scatha era uma Deusa Celta da Guerra e achamos bem pertinente o nome na época. O nome do dragão foi usado a partir desse nome da mitologia.

2 – CEP – Atualmente a composição da Scatha é algo que foge do padrão. Estamos acostumados a mulheres ocuparem a posição de vocalistas e os demais integrantes são do sexo masculino. Na Scatha chama a atenção porque o vocalista é homem e as responsáveis pelo instrumental são mulheres. Foi algo proposital?

Cíntia – Por mais de 10 anos a banda foi 100% feminina, mas depois de muito avaliar e testar diferentes vocalistas, resolvemos apostar nessa formação não muito usual, e deu muito certo!

Da esq. p/dir.: Cíntia Ventania (baixo), Cynthia Tsai Yuen (bateria), Lenhador (vocal) e Júlia Pombo (guitarra).

3 – CEP – Inicialmente a banda era composta somente por garotas. Como vocês se conheceram? Já que montar uma banda de metal totalmente feminina não é fácil.

Cíntia – Foi um processo longo, como qualquer outra banda… Inicialmente eu (Cintia Ventania – baixo) conheci Julia Pombo (guitarra) em site de músicos e a partir daí, começamos o processo de testes com musicistas indicados por amigos e colegas. A primeira formação tomou forma após uns 6 meses de testes com Cynthia Tsai na bateria, Paula Leão na guitarra e Rebecca Schwab na voz.

4 – CEP – O que levou, cada integrante, optar por tocar baixo, bateria e guitarra de forma pesada e agressiva?

Cíntia – Posso dizer por mim, e acredito que é o mesmo para os outros integrantes do Scatha… A música, independente do instrumento, é uma forma de expressão e uma grande paixão em nossas vidas, e o instrumento é só o meio para expressar isso, e extravasar tudo que vivemos, seja ele raiva, frustração, alegria ou até mesmo tristeza (a realidade do nosso país ajuda muito no processo)… E o metal é uma das mais sinceras e intensas formas de expressão em minha opinião.

5 – CEP – Como é a cena metal carioca? Há muitas mulheres tocando ou cantando em bandas? Citem alguma(s).

Cíntia – Sim, na verdade quando começamos em meados de 2005 a cena era outra. Na época não tinha ninguém fazendo nada do tipo no meio metal… Posso dizer sem sombra de dúvida que começamos um movimento de bandas femininas a partir desta data, o que nos deixa muito felizes.

Atualmente no Rio são poucas bandas que continuam ativas, o Scatha mesmo permanece trabalhando, só que em formato projeto, e planeja uma tour internacional em breve.

Das bandas cariocas autorais de metal que estiveram ativas nesses últimos anos, teve a Tevadom, Melyra, Indiscipline, Trinity dentre outras.

6 – CEP – O primeiro trabalho da Scatha, um EP, intitulado “Keep Thrashing” (2007) já foi uma bela provinha do que estava por vir: o lançamento do fulminante “Take the Risk” (2017). Como foi a receptividade do público com este primeiro EP?

Cíntia – Nosso primeiro EP teve uma ótima recepitividade! Só de lembrar me traz uma sensação de felicidade… Tivemos ótimos reviews nas revistas especializadas, como a roadie crew – a qual saimos em destaque do mês, rock brigade que fizemos uma entrevista exclusiva, fora vários reviews em zines nacionais e internacionais. Alguns lotes do EP foram enviados para zines na Espanha, Estados Unidos e Alemanha.

7 – CEP – O álbum “Take the Risk” é bem pegado do início ao fim. A gravação está acima da média. Como foi o processo de gravação? Os timbres estão bem pesados e viscerais. Em quais bandas se basearam para tirar tais timbres?

Cíntia – O processo de gravação inicialmente foi bem complexo… Tinhamos muitas ideias de música e iniciamos gravando como um ep e depois de uns contratempos, como minha mudança de país e mudanças na formação, resolvemos pegar e gravar logo um álbum. O amigo e produtor Celo Oliveira do Kolera Studios foi quem fez possível esse feito, nos ajudando nos tramites e nos auxiliando a timbragem e solos. A mix foi baseada nos últimos albuns do Testament e Kreator, duas bandas que são forte influência no nosso som.

Take The Risk: álbum lançado em 2017

8 – CEP – O estilo de som da Scatha é bem focado no thrash metal, mas também há algo mais moderno, digamos assim, no som da banda. Quais são as principais influências?

Cíntia -Bom, nossas influências são várias. E pessoalmente tenho muito de Black Sabbath, Megadeth, Sepultura e Kreator nas minhas composições, Julia Pombo tem muito de Testament e Exodus, mas nós duas também gostamos bastante de Trivium, que é algo mais moderno. Tentamos não nos limitar e deixamos a criatividade e os riffs fluirem sem bloqueios. A entrada do Lenhador na banda acrescentou diferentes vibes, vocais mais versáteis e diferente do que se faz em geral, e ficamos bem felizes com a sonoridade desse álbum, por ser estranho e até mesmo um tanto psicodélica, o que soa um tanto fora do padrão do metal.

9 – CEP – Algo curioso é que há letras em português e em inglês no “Take the Risk”. Quem é o responsável pela parte lírica? O que serve de inspiração?

Cíntia -Desde o início das atividades da banda, eu (Cintia Ventania) fui responsável por toda concepção de letras e músicas juntamente com Julia Pombo. Neste álbum apesar das letras serem todas minhas ainda, o Lenhador foi uma peça chave para fechar algumas das letras, já trabalhando com rascunhos e melodias.

Minha inspiração nas músicas da Scatha vem sempre do dia-a-dia do cidadão brasileiro dentro da sociedade em que vivemos… Em geral, você pode identificar críticas sociais, políticas e religiosas, abordagem sobre corrupção, e até mesmo sobre doenças como a depressão.

10 – CEP – A performance de vocês ao vivo é avassaladora. Muitas cabeças girando enlouquecidamente. O palco e a energia do público é que proporciona tamanha atitude?

Cíntia -O público é uma peça chave na performance, isso não tem como negar! Mas sempre tivemos essa fúria e energia tocando, pois faz parte de quem somos, então damos 100% de nós ao vivo, e acredito que isso acaba contagiando o público.

11 – CEP – O clipe “Movido pela Raiva” (2016) foi dirigido e produzido por vocês mesmo, no melhor estilo “Do It Yourself”, aliás, parabéns pelo trabalho. Já fizeram outros clipes ou outros tipos de produções cinematográficas? Falem-nos a respeito da realização deste videoclipe.

Cíntia -Esse clipe foi nossa primeira grande produção musical, mas tanto eu quanto o Lenhador, nós já trabalhávamos com fotografia e vídeo… E quando nos juntamos, a energia criativa bateu na hora. Nós temos outros vídeos produzidos juntos e separados. Também tivemos a chance de produzir dois vídeos da banda Indiscipline, e em breve teremos mais um lançamento do Scatha.

12 – CEP – O que a Scatha anda tramando para um futuro próximo?

Cíntia -Já dei várias dicas aí na entrevista do que está por vir… Claro que tudo é sempre uma incógnita pela distância física de um dos principais membros da banda estar fora do país, mas a vida é assim mesmo, os desafios fazem o caminho mais interessnte, apesar de mais complicado. Adoraria poder dar um grande panorama do que pretendemos, mas por enquanto, estamos mexendo algumas peças no tabuleiro.

13 – CEP – Parabéns pelo som porrada da Scatha. Deixem-nos um recado para os leitores da CEP.

Cíntia -Muito obrigada por nos dar essa grande honra de contar um pouco da nossa trajetória aqui na Cultura do Peso! Continuem fazendo esse grande trabalho que é super importante para difundir e divulgar novas e antigas bandas que estão na batalha pelo Metal. Forte abraço Scathológico!

Keep Thrashing!

(Entrevista concedida por Cintia Ventania baixista da banda Scatha e Severa em julho de 2019.)

Facebook - Comente, participe. Lembre-se você é responsável pelo que diz.