Ricardo e sua mãe Lory Finocchiaro

Em busca de representação, empoderamento e compreensão de experiências, é fundamental que mulheres ouçam a música feita por outras mulheres. Se você está nesta busca, com certeza deve considerar o trabalho da baixista, cantora e compositora Lory F.: praticamente a única voz feminina roqueira de seu tempo em solo gaúcho nas décadas de 80/90, e cujas memórias vem sendo desbravadas e enriquecidas nos últimos anos por meio de uma série de iniciativas, como exposição, documentário, homenagens como no recém-lançado livro de Cristiano Bastos e Rafael Cony, entre outras.

A mais recente foi feita pelo seu filho, o jornalista e produtor musical Ricardo Finocchiaro, que letrou o single A Mulher de Púrpura, executado pela também cantora e compositora (também uma precursora, no caso do pop eletrônico barsileiro) e irmã mais nova de Lory F., Laura Finocchiaro, cuja música pode ser conferida aqui:

Sombra de mim essa cicatriz
Sol do meu vir nesse porto feliz
Ver essa voz, escutar esse rosto
quando foi mesmo a última vez que eu senti?
Minha libra, minha balança
Nem tu soube o equilíbrio que me trouxe
Fúria branda, paz intensa
É constante pra mim, pensar no que você pensa
E essa força veio de ti
Independente, brilhante, nunca houve medo antes
Corajosa, poderosa, mulher de púrpura
Mas com ares cor de rosa
Minha libra, meu pesar
E onde foi mesmo que gostaria de estar?
Ao meu lado, como nunca esteve
mas sempre senti e é assim que deve ser
Luz de mim, essa raíz
Sinto de ti o que deveria vir
E você está aqui, diferente de quando esteve
Haja naturalmente, não chore agora
E essa força veio de ti
Independente, brilhante, nunca houve medo antes
Corajosa, poderosa, mulher de púrpura
Mas com ares cor de rosa.
Ricardo conta que nos últimos anos permitiu “escrever sobre seus pensamentos de forma um pouco mais artística, algo similar à poesia, apesar de ‘nem de longe’ considerar-se um poeta”. Ele confessa que está feliz em poder compartilhar a história de sua mãe, antes guardada ‘a sete chaves’.
“(Antes) era como se eu tivesse permitindo tu acessar meu coraçãozinho quando eu te mostrasse o som dela. Eu nunca fui de falar pra ninguém ‘oh, escuta o som da minha mãe’, eu só mostrava pra quem se interessava, pra quem pedia, muito por não querer ouvir julgamentos, porque aquilo ali era muito meu entende?”, disse ele, em entrevista à Cultura em Peso. Quando pequenino, Ricardo acompanhava a mãe nos ensaios, permanecendo numa cestinha.
Entrega – Sem dúvidas, complementou Ricardinho, todas as homenagens são importantes – exposição, ter um palco com o nome dela na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), em Porto Alegre, o documentário, o livro “100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho” e a música que compôs – tudo isso ajudou a curá-lo. “Me curei do receio de vê-la ir para o mundo mesmo, me deixar de coração aberto e entregar tudo isso. Então, acho que ela está sendo super valorizada, que merece, sim, todo esse reconhecimento tanto tempo depois”, revela.
Ricardo, que traz shows de bandas do mundo inteiro para Porto Alegre, concorda, entretanto, que ainda falta muito para se equalizar a presença de mulheres no meio musical. “Se pegarmos somente o meio ‘rock’, ainda é pequeno o envolvimento das mulheres, seja como artista ou nas áreas internas de produção, sendo, ainda, um ambiente muito machista. Mas, trabalhando com isso, tenho visto uma mudança, ela até ta vindo bem nos últimos anos, num crescendo, mas se for tentar equalizar, ainda falta bastante espaço para as mulheres nesse sentido”, reconhece.
Lory F. nasceu Lorice Maria Finocchiaro em Porto Alegre no dia 24 de setembro de 1958. Baixista, cantora, compositora, produtora musical e desenhista, deixou muitas composições inéditas, gravadas em fitas K7, além de um único CD – Lory F. Band – produzido por ela, com composições suas e de sua banda – a F. Band. Visionária e multimídia, Lory viveu intensamente seus 34 anos. Depois de muito sexo, drogas e rock’n roll, nos deixou no dia 11 de agosto de 1993, vítima de AIDS.

 

Em entrevista recente ao Cuscocast, o saxofonista Ricardo Cordeiro, mais conhecido em Porto Alegre pelo apelido de King Jim, que tocou na Lory F. Band, e em outras tantas bandas, como os lendários Garotos da Rua, revelou que encontrou à época a baixista e logo em seguida eles formaram a banda. “A gente fez muitas parcerias musicais, era muito amigo, e até brigava bastante (risos). Era a única mulher que eu conhecia que fazia rock de verdade com poder de fogo inacreditável. (…) Ela faz muita falta”, disse ele, ressaltando para a CEP: “A história da Lory merece ser trazida à tona pela relevância q tem”.

Crédito: Fernanda Chemale
Crédito: Fernanda Chemale

Pro Amor Viver em Paz

(Lory Finocchiaro)

Você me envolveu

como uma pluma

me deixei levar

eu acreditei

e apostei no jogo

de se apaixonar

mil vezes errei

tentando lembrar

como é que se faz

pro amor viver em paz

pro amor viver em paz

mas quando a gente

já tem o seu jeito

que nem o próprio tempo

pode mudar

alguém começa

a ver nisso um defeito

todo romance se dissipa no ar

 

Conheça mais da artista neste link.

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