Em um mundo não só musical, repleto de preconceito racial, sexismo, machismo e desigualdades sociais em abundância,  a banda Punho de Mahin emerge para combinar elementos do AfroPunk e do  hardcore e trazendo consigo o desafio  de explorar temas profundos e ressoantes da nossa ancestralidade preta. A banda traz com todo o seu poder no vocal a maravilhosa  Natalia Matos que em 2018  junto com sua companheira de palco Camila Araújo que é guitarrista e vocal , representando a parte feminina da banda, trouxeram ao mundo underground a revolução provocativa e com letras incisivas de criticas de opressão sistêmica e reflexões sobre a identidade e pertencimento que servem como um grito de resistência e empoderamento.  Natalia não é só fenômeno cultural mas junto com  Camila eleva a voz da comunidade negra oferecendo uma poderosa narrativa para a ancestralidade e resiliência.

O nome da banda que faz referencia com Luiza Mahin, que teria sido princesa na Costa de Mina, corresponde a uma região do Golfo da Guiné na África , que foi trazida como escrava para o Brasil para o estado da Bahia no século XIX. Mahin que  conquistou a alforria trabalhando com quituteira e reuniu aliados para organizar revoltas , incluindo a emblemática Revolta do Malês . Mahin que era mulçumana não possui muitos registros históricos e isso só, salienta o fato que nós mulheres somos frequentemente apagadas da nossa própria história.

Com um berço forte e símbolo de resistência,  Natalia e  Camila se unem em uma missão comum, expressar a experiência negra e abordar questões como nossas raízes culturais e históricas da diáspora africana incorporando elementos sonoros e líricos sobre  a intolerância e as mazelas sociais do nosso país através da musica.

Com o álbum EMBATE & ANCESTRALIDADE de 2022, Natalia e Camila  trazem faixas que são verdadeiros hinos como, “Racistas” e “Navios Negreiros” reafirmando a importância da representação e da autenticidade. A banda é uma poderosa afirmação da identidade negra e um lembrete  do potencial ilimitado da expressão artística que promove a mudança e inspira o mundo.

 

Cultura em Peso: Como vocês lidam com o estereótipo de gênero no mundo
da música?

Natalia Matos e Camila Araújo: Os estereótipos estão enraizados na sociedade e não seria
diferente no punk. Em um evento específico, após um ótimo show, Natália recebeu uma enxurrada de elogios, mas no final, alguém comentou; VOCÊ ESTAVA TÃO LINDA QUE PARECIA UMA PASSISTA;. Essa pessoa, branca, para ser específico, não captou a essência do que estávamos tentando transmitir. Naquele momento, percebemos que não seria possível contextualizar ou explicar adequadamente. Quando percebemos que o diálogo poderia ser frutífero e levar a mudanças futuras, nos comprometemos a explicar; caso contrário, nosso olhar de deboche é suficiente!

Cultura em Peso. Quais foram os momentos mais desafiadores que vocês
enfrentaram e como superaram os desafios?

Natalia e Camila: Nosso maior desafio é manter nossa postura, pois somos constantemente tentados por eventos que não se alinham com nossos valores individuais e coletivos. Podemos falar dos desafios como indivíduos inseridos nesta sociedade racista, onde todo negro sabe que precisa se esforçar dez vezes mais para ser reconhecido e, mesmo assim, não se sentir capaz. Por exemplo, bandas inteiramente masculinas têm maior visibilidade e aceitação no mercado, e se forem brancas, têm uma vantagem ainda maior. Elas alcançam o mainstream!

Cultura em Peso: Como vocês escolhem os locais para se apresentar e quais
os critérios mais importantes para considerar?

Natalia e Camila: a) Não tocamos em locais cujos organizadores tenham envolvimento com qualquer tipo de agressão a mulheres ou a qualquer outro grupo subjugado;

b) Não tocamos com bandas cujos membros tenham envolvimento, de acordo com o item (a), com carecas, nazistas, fascistas, bolsonaristas e amoedistas. Sabemos que os adjetivos anteriores estão contidos nestes mas é sempre bom deixar claro;

c) Não tocamos em eventos em que os organizadores queiram usar nossa causa como
um mero enfeite para parecerem antirracistas. Boicotamos e confrontamos espaços, pessoas e bandas que compactuam com qualquer atitude suspeita. E isso não é questão de estrelismo, é uma posição política que transcende a banda.

Cultura em Peso:  Quais são os maiores mitos sobre mulheres na música que
vocês gostariam de desmascarar?

Natalia e Camila: a) Mulheres não são tão talentosas quanto os homens;
b) Mulheres só conseguem sucesso na música se forem sexualizadas;
c) Mulheres são todas iguais.

Esse último item atravessa nossa subjetividade. Não somos todes iguais! Somos plurais e habitamos diversos corpos, seja um corpo com útero ou não. Cada uma com sua inteligência emocional, cultural, artística.

 

Cultura em Peso:  Como abordar a diversidade sobre e inclusão, considerando origens étnicas, culturais e experiências?

Natalia e Camila: Abordar a diversidade e inclusão é fundamental, especialmente na cena punk, que historicamente têm sido espaços de resistência e expressão para pessoas de
diferentes origens étnicas e culturais. No primeiro álbum que começamos a gravar em 2020 e que lançamos em 2022: EMBATE & ANCESTRALIDADE, trazemos essas questões na capa e nas músicas com diversas batidas afro-brasileiras.

 

A banda que  está em processo de novas musicas para o seu segundo álbum que ainda está em desenvolvimento e está sempre integrada em projetos sociais,  realizando shows beneficientes como , em prol da ocupação Cleonice dos Santos que é um espaço de resistência , denuncia a violência machista e acolhe mulheres em situação de vulnerabilidade, Cozinhas solidarias do MTST também  show com bandas renomadas de como BIKINI KILL, banda de punk rock dos anos 90.

Sua musica exploram a interseção entre o passado , o presente e o futuro da ancestralidade negra e oferece uma narrativa que transcende as limitações temporais , adentrando  assim a luz da criatividade, força, resistência e a autenticidade podem brilhar alto e forte.

Contatos da Banda
linktree Punho de Mahin

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